domingo, 16 de novembro de 2014

CENTRO 'LIMPA' HIV DE SÊMEN PARA CASAL SORODISCORDANTE...

FONTE:, CORREIO DA BAHIA.

Secretária é casada com rapaz soropositivo. No ano passado, as gêmeas Larissa e Clara nasceram, livres do vírus.
A secretária Laura tinha 18 anos quando soube que o namorado, com quem começara a se relacionar, era HIV positivo. O bibliotecário Guilherme, que tinha 21, havia sido contaminado em uma relação sexual desprotegida um ano antes.
Ficaram juntos e sempre conversaram sobre ter filhos - só não sabiam como. No ano passado, porém, quando eles completaram dez anos juntos, as gêmeas Larissa e Clara nasceram, livres do vírus.
O casal fez parte de uma pesquisa do Instituto Ideia Fértil, ligado à Faculdade de Medicina do ABC, patrocinada pela Organização Pan-americana de Saúde (Opas), para desenvolver método seguro de concepção para casais sorodiscordantes.
Pelo método proposto pelo centro de pesquisas, o sêmen colhido passa por um processo de “lavagem”. Por centrifugação, o líquido seminal (onde o HIV pode ser encontrado) é separado dos espermatozoides. Esses espermatozoides passam, então, pelo teste PCR, já usado para a detecção no sangue de processos infecciosos.
Os pesquisadores do Ideia Fértil estabeleceram os parâmetros para identificar o HIV nessas amostras de sêmen. “Nós desenvolvemos o PCR para sêmen. A aids é uma doença compartimentada, o vírus não está presente no organismo todo. Mesmo que o exame de sangue dê carga viral zerada, no sêmen essa concentração pode estar alta. Teoricamente, uma pessoa teria risco baixo de transmissão porque a carga viral está baixa no sangue, mas a carga seminal pode estar alta”, explica Emerson Cordts, coordenador clínico do Instituto Ideia Fértil.
“E é por amostra que se descobre isso - uma pode ser negativa, a outra pode ser positiva”, explica. A pesquisa, feita em parceria com o Ministério da Saúde e a Secretaria Estadual de Saúde, recrutou 240 casais.
Desses, 98 seguiram o tratamento até o fim e passaram por 210 inseminações - quando os espermatozoides são injetados no útero, para que a fecundação ocorra naturalmente. 
O protocolo inicial previa que essa inseminação fosse caseira, em que a própria mulher injetaria o espermatozoide já tratado no organismo, como forma de baratear ainda mais o método. 
“Mas nós teríamos de tratar o sêmen. Não fazia sentido o casal vir à clínica, nós tratarmos os espermatozoides e depois entregarmos a amostra para a inseminação em casa. Convencemos a Opas a fazer todo o procedimento na clínica”, diz Cordts.
Resultados.
Dos casais que participaram do estudo, 18% engravidaram. “Pode parecer número pequeno, mas a chance de um casal sem problemas de fertilidade engravidar pelos métodos naturais é de 20%. Então, as chances dos casais sorodiscordantes que passaram por esse método é muito próxima das de um casal sem problemas de fertilidade e sem risco de contaminação por HIV. Se eles tentassem por mais quatro ou cinco meses, engravidariam”, afirma Cordts.
O especialista explica que, pela normatização internacional, aprovada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), casais sorodiscordantes são liberados para fazer sexo desprotegido, durante o período fértil, desde que o homem esteja tomando o coquetel antirretroviral e tenha carga viral muito baixa.
“A chance de transmissão do vírus para um parceiro não infectado é de 1 para 500. Com o uso do antirretroviral, essa chance passa para um para 7,9 mil. O que a gente propõe é o risco zero, chance zero de contaminação e sem os inconvenientes dos efeitos colaterais para a mulher”, afirma Cordts.
O PCR é importante também para tratar casais sorodiscordantes em que o homem, além de ter HIV, tem baixa contagem de espermatozoides - a “lavagem” do sêmen faz diminuir ainda mais a quantidade de espermatozoides. A testagem pelo PCR permite que se reduza o número de “lavagens”.
O Ideia Fértil está agora em negociação com a Secretaria Estadual de Saúde para manter a parceria e continuar atendendo gratuitamente os casais sorodiscordantes - a instituição não tem fins lucrativos e cobra em média R$$ 6 mil pelo tratamento de fertilização, um terço dos valores cobrados pelas clínicas particulares.
Validação.
Os pesquisadores também estão em processo de validação do método pelo PCR, em parceria com o laboratório fabricante do equipamento, o bioMérieux.

“O kit de teste existe para exames de sangue. Nós estamos criando os parâmetros para testar o sêmen, qual o volume ideal da amostra colhida, a quantidade de reagente, o tipo de reagente. Com esses dados sistematizados, toda clínica de fertilização poderá replicar o teste”, explica a geneticista Bianca Bianco, que participa da equipe de pesquisa.

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