FONTE:, CORREIO DA BAHIA.
Secretária é casada com rapaz soropositivo.
No ano passado, as gêmeas Larissa e Clara nasceram, livres do vírus.
A
secretária Laura tinha 18 anos quando soube que o namorado, com quem começara a
se relacionar, era HIV positivo. O bibliotecário Guilherme, que tinha 21, havia
sido contaminado em uma relação sexual desprotegida um ano antes.
Ficaram
juntos e sempre conversaram sobre ter filhos - só não sabiam como. No ano
passado, porém, quando eles completaram dez anos juntos, as gêmeas Larissa e
Clara nasceram, livres do vírus.
O
casal fez parte de uma pesquisa do Instituto Ideia Fértil, ligado à Faculdade
de Medicina do ABC, patrocinada pela Organização Pan-americana de Saúde (Opas),
para desenvolver método seguro de concepção para casais sorodiscordantes.
Pelo
método proposto pelo centro de pesquisas, o sêmen colhido passa por um processo
de “lavagem”. Por centrifugação, o líquido seminal (onde o HIV pode ser
encontrado) é separado dos espermatozoides. Esses espermatozoides passam,
então, pelo teste PCR, já usado para a detecção no sangue de processos
infecciosos.
Os
pesquisadores do Ideia Fértil estabeleceram os parâmetros para identificar o
HIV nessas amostras de sêmen. “Nós desenvolvemos o PCR para sêmen. A aids
é uma doença compartimentada, o vírus não está presente no organismo todo.
Mesmo que o exame de sangue dê carga viral zerada, no sêmen essa concentração
pode estar alta. Teoricamente, uma pessoa teria risco baixo de transmissão
porque a carga viral está baixa no sangue, mas a carga seminal pode estar
alta”, explica Emerson Cordts, coordenador clínico do Instituto Ideia Fértil.
“E é
por amostra que se descobre isso - uma pode ser negativa, a outra pode ser
positiva”, explica. A pesquisa, feita em parceria com o Ministério da Saúde e a
Secretaria Estadual de Saúde, recrutou 240 casais.
Desses,
98 seguiram o tratamento até o fim e passaram por 210 inseminações - quando os
espermatozoides são injetados no útero, para que a fecundação ocorra
naturalmente.
O
protocolo inicial previa que essa inseminação fosse caseira, em que a própria
mulher injetaria o espermatozoide já tratado no organismo, como forma de
baratear ainda mais o método.
“Mas
nós teríamos de tratar o sêmen. Não fazia sentido o casal vir à clínica, nós
tratarmos os espermatozoides e depois entregarmos a amostra para a inseminação
em casa. Convencemos a Opas a fazer todo o procedimento na clínica”, diz
Cordts.
Resultados.
Dos
casais que participaram do estudo, 18% engravidaram. “Pode parecer número
pequeno, mas a chance de um casal sem problemas de fertilidade engravidar pelos
métodos naturais é de 20%. Então, as chances dos casais sorodiscordantes que
passaram por esse método é muito próxima das de um casal sem problemas de
fertilidade e sem risco de contaminação por HIV. Se eles tentassem por mais
quatro ou cinco meses, engravidariam”, afirma Cordts.
O
especialista explica que, pela normatização internacional, aprovada pela
Organização Mundial da Saúde (OMS), casais sorodiscordantes são liberados para
fazer sexo desprotegido, durante o período fértil, desde que o homem esteja
tomando o coquetel antirretroviral e tenha carga viral muito baixa.
“A
chance de transmissão do vírus para um parceiro não infectado é de 1 para 500.
Com o uso do antirretroviral, essa chance passa para um para 7,9 mil. O que a
gente propõe é o risco zero, chance zero de contaminação e sem os
inconvenientes dos efeitos colaterais para a mulher”, afirma Cordts.
O PCR
é importante também para tratar casais sorodiscordantes em que o homem, além de
ter HIV, tem baixa contagem de espermatozoides - a “lavagem” do sêmen faz
diminuir ainda mais a quantidade de espermatozoides. A testagem pelo PCR
permite que se reduza o número de “lavagens”.
O
Ideia Fértil está agora em negociação com a Secretaria Estadual de Saúde para
manter a parceria e continuar atendendo gratuitamente os casais
sorodiscordantes - a instituição não tem fins lucrativos e cobra em média R$$ 6
mil pelo tratamento de fertilização, um terço dos valores cobrados pelas
clínicas particulares.
Validação.
Os pesquisadores
também estão em processo de validação do método pelo PCR, em parceria com o
laboratório fabricante do equipamento, o bioMérieux.
“O kit
de teste existe para exames de sangue. Nós estamos criando os parâmetros para
testar o sêmen, qual o volume ideal da amostra colhida, a quantidade de
reagente, o tipo de reagente. Com esses dados sistematizados, toda clínica de
fertilização poderá replicar o teste”, explica a geneticista Bianca Bianco, que
participa da equipe de pesquisa.
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