FONTE: Camila Neumam, do UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
Tomar dois litros de água por dia faz
bem à saúde. VERDADE: Beber dois litros é indicado de maneira geral, mas
depende da perda de líquidos que cada um tem por dia. Um atleta tende a perder
mais, portanto é possível que seja indicada uma ingestão diária maior. O corpo
de um adulto tem ao menos 45 litros de água; 30 litros circulam pelas células e
o restante pelo sangue, no transporte de nutrientes. Parte considerável desta
água é eliminada pela urina e pelo suor, portanto precisa ser reposta para
evitar desidratação e problemas como cálculo renal ou cálculo na bexiga, pelo
excesso de sódio geralmente diluído pela água.
Com a crise hídrica se
espalhando pelo país, fica a dúvida se o uso de reservas alternativas, como o
volume morto do Sistema Cantareira, em São Paulo, ou a coleta de água em bicas
tem uma qualidade inferior à do líquido que antes saía das torneiras de casa.
No Estado de São
Paulo, onde há escassez em várias regiões, moradores relatam a chegada de água
com cor de barro e gosto acentuado. Nestes casos, é aconselhável trocar o
consumo desta água por água mineral? O filtro que temos em casa é capaz de
deixar a água mais palatável ao consumo? Qual é a diferença entre estes tipos
de água e qual é a melhor opção para a saúde?
Segundo especialistas
consultados pelo UOL, em cidades onde há estações de
tratamento de água e de esgoto, a água que chega às residências é potável,
portanto, pode ser consumida de forma tão segura como a água do filtro ou água
mineral. Onde não há sistema de tratamento, a água deve ser captada e fervida
por 15 minutos antes de ser consumida. A água mineral, como o nome já diz, é
fonte de minerais benéficos à saúde, ao passo que filtros e purificadores têm a
função de eliminar os possíveis resíduos que vêm da rua, e diminuir o gosto da
água.
A portaria 2.914, de 12 de
dezembro de 2011, do Ministério da Saúde, elenca os procedimentos de controle
de qualidade da água potável para o consumo humano e assegura que ela pode ser
usada para beber, cozinhar e para higiene pessoal.
Água de beber
Para ser considerada
potável, a água deve apresentar quatro características: ser insípida (não ter
gosto), inodora (não ter cheiro), incolor (não ter cor) e ser desprovida de
microrganismos que causam doenças, como os coliformes fecais.
A água potável vinda
da rua pode ser bebida, mesmo apresentando o conhecido 'gosto de torneira',
fruto do cloro usado no tratamento e dos metais presentes na água.
"A água da
torneira é potável. Se você tiver certeza que a caixa d'água está limpinha,
sempre bem cuidada, pode beber tranquilamente. A água tratada pode ter gosto
característico pelo excesso de cloro ou às vezes do próprio manancial",
diz Edson Aparecido Abdul Nour, professor da Faculdade de Engenharia Civil,
Arquitetura e Urbanismo da Unicamp.
Segundo o
especialista em água de reúso, 500 microorganismos a cada cem mililitros de
água reservada em uma caixa d'água limpa é um indicativo de água de boa
qualidade.
"A água da rua
obedece a legislação, mas depois que ela entra em casa, o morador é o
responsável por sua qualidade", diz.
E na época de seca?
Já no período que
envolve a época de seca, a qualidade da água pode realmente ser prejudicada,
explica o especialista Edson Abdul Nour.
Isso porque em época
de escassez de água a vazão dos rios diminui, mas a entrada de esgoto, mesmo
tratado, continua a mesma, aumentando a concentração de poluentes e
contaminantes nas águas.
No início das chuvas,
essas águas 'lavam' a sujeira depositada nos rios, causando impacto na
qualidade da água.
"Épocas de seca
ou de início das chuvas podem alterar a qualidade da água e deixar um gosto
residual, mesmo sendo tratada. O sabor é controlado, mas há pessoas que são
mais sensíveis do que outras", diz.
Água não tratada causa
doenças.
Em locais onde a água
não é tratada, os moradores ficam mais suscetíveis a beber água de má qualidade
e, consequentemente, a contrair bactérias como a Salmonella, que
causa a febre tifoide, e Escherichia coli, que causa diarreia,
infecção urinária e colite, além de doenças como o cólera e toxoplasmose, de
acordo com a infectologista Heloísa Ramos Lacerda, diretora da Sociedade
Brasileira de Infectologia.
"Há maior risco
de contrair principalmente infecções gastrointestinais pelo contato com
bactérias ou protozoários. E o risco de contrair dengue pelo armazenamento de
água [onde as larvas do mosquito Aedes aegypti se
reproduzem]", afirma Lacerda.
Embora o governo seja
responsável pela qualidade da água que chega às residências, que deve respeitar
o padrão estabelecido na legislação brasileira, 23,8 milhões de lares
brasileiros não contam com saneamento básico, segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios) 2013, divulgado em setembro deste ano.
Água mineral versus água
potável.
Diferentemente da
água potável que suscita muitas dúvidas, a água mineral é considerada confiável
por ser retirada de fontes naturais e ter função medicamentosa, isto é,
minerais que fazem bem à saúde. Porém, algumas amostras também passam por
testes de qualidade que avaliam se a quantidade de minerais em sua composição é
indicada para consumo humano e se ela está livre de organismos que causam
doenças, de acordo com a legislação brasileira.
"A água mineral
tem diferentes componentes, incluindo minerais como o ferro e o magnésio. A
água mineral benéfica à saúde tem que ter 500 miligramas de minerais por
litro", afirma o nutrólogo José Alves Lara Neto, vice-presidente da Abran
(Associação Brasileira de Nutrologia).
É o decreto-lei 7.841, de 8
de agosto de 1945, da Presidência da República, que dispõe as normas para a
extração e o comércio deste tipo de bebida desde então.
Depois de retirada da
fonte, a água mineral deve ser diretamente engarrafada e armazenada em local
fresco e arejado para se manter segura para o consumo. A água mineral em si não
tem prazo de validade, mas a forma como ela é estocada pode fazer o líquido ser
contaminado e se deteriorar.
"O consumidor
tem que avaliar se a água está bem armazenada, se a garrafa não parece gasta. O
recomendável é que ela fique longe do sol porque isso afeta a qualidade do
líquido e, se houver alguma contaminação, pode desenvolver algas dentro do
frasco, diz Nour.
Uma das desvantagens
da água mineral em relação à água potável é a falta de flúor em sua composição,
embora haja água mineral fluoretada. O flúor é um forte aliado na redução da
incidência de cáries.
Apesar de terem o
mesmo poder de hidratação das águas minerais não gasosas, as que contêm gás têm
dióxido de carbono, composto químico capaz de aumentar o risco de osteoporose.
A água mineral também
tem sódio que em quantidades maiores do que o recomendado (200 miligramas por
litro), aumenta o risco de várias doenças.
"O dióxido de
carbono composto na água tende a competir com o cálcio, diminuindo sua absorção
no organismo e aumentando o risco de osteoporose", diz Lara Neto.
"Se tiver sódio
em excesso na água, seu consumo pode aumentar o risco de desidratação,
hipertensão, cálculo renal ou de bexiga e problemas cardíacos", diz Nour.
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