domingo, 28 de dezembro de 2014

DIETA ENGORDA E É GATILHO PARA TRANSTORNO ALIMENTAR, DIZ NUTRICIONISTA...

FONTE: Camila Neumam, Do UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).

O fim de ano chega, o verão começa... E logo vem aquela preocupação com o ganho de peso provocado pelas delícias natalinas. Quando começar a dieta? Se depender da nutricionista Sophie Deram a resposta é: nunca!

Na contramão da maioria dos especialistas, ela defende que regime não é garantia de perda de peso e, pior, pode ajudar a engordar. Para ela, fazer dietas por tempo prolongado aumenta o risco de que a pessoa se torne compulsiva por comida.

Sophie Deram, que é francesa, mas vive no Brasil, explica que cortar alimentos que são fontes de carboidratos e gorduras faz com que o corpo diminua o metabolismo e o cérebro fique com mais "vontade" de procurar comida, o que pode levar a engordar.

A tese da nutricionista, doutora em nutrição pela USP (Universidade de São Paulo) e autora do livro "O Peso das Dietas - Emagreça de forma sustentável dizendo não às dietas!" (Editora Sensus), leva em conta os estudos mais recentes sobre dietas e sua experiência no tratamento de pessoas com transtornos alimentares, como anorexia e bulimia.

Entre os estudos, ela cita um da Universidade de Helsinque, na Finlândia, publicado em março de 2012 no periódico International Journal of Obesity, no qual cientistas investigaram o ganho de peso em mais de 2.000 pares de gêmeos por 25 anos.

A pesquisa concluiu que o gêmeo que fazia dieta engordava mais do que o irmão que comia sem restrição, mesmo os dois tendo a mesma propensão genética a ter doenças.

"Há estudos que mostram que fazer dietas te coloca no caminho de engorda porque elas impedem a pessoa de 'escutar' o corpo na hora de matar a fome, ou seja, impedem de ter uma perda de peso sustentável e tranquila. A melhor maneira de perder peso é comer de forma consciente, tendo uma alimentação variada. Aprendemos que fechar a boca e malhar é o ideal, mas isso faz aumentar o apetite", diz a especialista.

Erro 1: cortar carboidrato e gordura.

A nutricionista Sophie Deram começou a estudar os efeitos das dietas há 25 anos, quando deixou a França para viver nos Estados Unidos -- onde se deparou com o que ela chama de "uma guerra contra a gordura". "Isto está sendo revisado porque a gordura em si não engorda. Por terem demonizado a gordura, virou tendência comer mais carboidrato que, em grandes quantidades, pode engordar", diz.

A própria restrição ao carboidrato, que hoje tem como expoente a dieta do médico francês Pierre Dukan, também é maléfica na opinião da nutricionista, pois é o "combustível do corpo" e é metabolizado de forma diferente em cada pessoa. "Quando você não respeita seu corpo, não escuta sua fome e sua saciedade, cortando o carboidrato, você assusta o cérebro, que entende que você não está comendo e vai aumentar seu apetite e diminuir o metabolismo, queimando menos gordura", afirma.

Restringir o consumo de carboidratos e de gorduras por um longo período, por sua vez, pode ainda aumentar o risco de compulsões alimentares porque o corpo tenda a se adaptar à falta de ambos fazendo o organismo "pensar" muito mais em comida do que antes.

"[Quando a pessoa começa a cortar muitos alimentos da dieta], ela tende a ficar mais obcecada por comida e passa a usá-la como algo que vai resolver cansaço, tristeza e trazer felicidade. O cérebro dá ao alimento um papel reconfortante, o que aumenta o risco de desenvolvimento de compulsões alimentares", diz Deram.

Erro 2: comer menos e fazer exercícios.

Outro erro comum para quem quer perder peso, diz a nutricionista francesa, é sobrecarregar o corpo com exercícios ao mesmo tempo em que adota uma dieta mais restritiva. Ambos estressam o cérebro, que procura mais por comida pela necessidade de repor o que foi gasto no exercício.
"O cérebro já está estressado porque está querendo entender a diminuição de alimentos e você aumenta a atividade física, geralmente sem comer uma quantidade equivalente, sendo que as duas atividades aumentam o apetite -- o que pode levar a comer mais", explica.

Solução.

O primeiro passo para emagrecer corretamente é entender a causa do ganho de peso, que pode ser por alta ingestão calórica ou por problemas hormonais, estresse físico e psicológico ou por uso de medicamentos. O ideal nestes casos é procurar um endocrinologista e depois alinhar uma dieta com um nutricionista.

O segundo passo é "ensinar" o cérebro que basta um pedaço de chocolate, não a barra inteira, para satisfazer a vontade. Como fazer isso? Diminuindo as porções de alimentos que contêm gordura e açúcar -- os alimentos preferidos do cérebro por causarem sensações praticamente instantâneas de bem-estar.

O terceiro passo, ensina Deram, é não deixar de comer carboidratos, mas diminuir as porções encontradas principalmente em alimentos doces. Segundo a nutricionista, o brasileiro come uma quantidade maior de alimentos açucarados (14% das calorias da dieta) do que o recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que é de menos de 10% das calorias da dieta. Entre os adolescentes brasileiros, o consumo é ainda maior, 15% das calorias ingeridas na dieta vêm dos doces.

Quando a dieta é necessária.

Para o endocrinologista Henrique Suplicy, presidente da Comissão de História da Endocrinologia da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, há casos específicos nos quais a dieta é bem-vinda: pessoas com colesterol, triglicerídeos e glicose alta, além de obesos, diabéticos ou quem têm problemas ortopédicos cuja indicação é perder peso.

Mas o ideal, diz ele, é que a dieta não seja encarada como um sacrifício, mas como um prenúncio da já tão conhecida reeducação alimentar.

"Eu concordo que algumas dietas, principalmente as muito restritivas, têm vida muito curta. A pessoa perde peso, depois a abandona, recupera tudo e não adianta nada. Mas se fizer uma dieta visando à reeducação alimentar, a perda de peso e a mudança de hábitos... é outra coisa", diz Suplicy.


O endocrinologista não vê uma relação direta entre as dietas e a compulsão alimentar, esta uma consequência de um distúrbio psiquiátrico.

"Se a pessoa já tem o problema, mesmo fazendo a dieta e chegando ao peso considerado ideal, ela não para e continua a perder peso. Não acho que a dieta em si é um gatilho, porque há muita gente que faz dieta e nem por isso fica anoréxica ou bulímica", diz.

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