FONTE: Camila Neumam, Do UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
O fim de ano chega, o
verão começa... E logo vem aquela preocupação com o ganho de peso provocado
pelas delícias natalinas. Quando começar a dieta? Se depender da nutricionista
Sophie Deram a resposta é: nunca!
Na contramão da
maioria dos especialistas, ela defende que regime não é garantia de perda de
peso e, pior, pode ajudar a engordar. Para ela, fazer dietas por tempo
prolongado aumenta o risco de que a pessoa se torne compulsiva por comida.
Sophie Deram, que é
francesa, mas vive no Brasil, explica que cortar alimentos que são fontes de
carboidratos e gorduras faz com que o corpo diminua o metabolismo e o cérebro
fique com mais "vontade" de procurar comida, o que pode levar a
engordar.
A tese da
nutricionista, doutora em nutrição pela USP (Universidade de São Paulo) e
autora do livro "O Peso das Dietas - Emagreça de forma sustentável dizendo
não às dietas!" (Editora Sensus), leva em conta os estudos mais recentes
sobre dietas e sua experiência no tratamento de pessoas com transtornos
alimentares, como anorexia e bulimia.
Entre os estudos, ela
cita um da Universidade de Helsinque, na Finlândia, publicado em março de 2012
no periódico International Journal of Obesity, no qual cientistas
investigaram o ganho de peso em mais de 2.000 pares de gêmeos por 25 anos.
A pesquisa concluiu
que o gêmeo que fazia dieta engordava mais do que o irmão que comia sem
restrição, mesmo os dois tendo a mesma propensão genética a ter doenças.
"Há estudos que
mostram que fazer dietas te coloca no caminho de engorda porque elas impedem a
pessoa de 'escutar' o corpo na hora de matar a fome, ou seja, impedem de ter
uma perda de peso sustentável e tranquila. A melhor maneira de perder peso é
comer de forma consciente, tendo uma alimentação variada. Aprendemos que fechar
a boca e malhar é o ideal, mas isso faz aumentar o apetite", diz a
especialista.
Erro 1: cortar carboidrato
e gordura.
A nutricionista
Sophie Deram começou a estudar os efeitos das dietas há 25 anos, quando deixou
a França para viver nos Estados Unidos -- onde se deparou com o que ela chama
de "uma guerra contra a gordura". "Isto está sendo revisado
porque a gordura em si não engorda. Por terem demonizado a gordura, virou
tendência comer mais carboidrato que, em grandes quantidades, pode
engordar", diz.
A própria restrição
ao carboidrato, que hoje tem como expoente a dieta do médico francês Pierre Dukan, também é
maléfica na opinião da nutricionista, pois é o "combustível do corpo"
e é metabolizado de forma diferente em cada pessoa. "Quando você não
respeita seu corpo, não escuta sua fome e sua saciedade, cortando o carboidrato,
você assusta o cérebro, que entende que você não está comendo e vai aumentar
seu apetite e diminuir o metabolismo, queimando menos gordura", afirma.
Restringir o consumo
de carboidratos e de gorduras por um longo período, por sua vez, pode ainda aumentar
o risco de compulsões alimentares porque o corpo tenda a se adaptar à falta de
ambos fazendo o organismo "pensar" muito mais em comida do que antes.
"[Quando a
pessoa começa a cortar muitos alimentos da dieta], ela tende a ficar mais
obcecada por comida e passa a usá-la como algo que vai resolver cansaço,
tristeza e trazer felicidade. O cérebro dá ao alimento um papel reconfortante,
o que aumenta o risco de desenvolvimento de compulsões alimentares", diz
Deram.
Erro 2: comer menos e
fazer exercícios.
Outro erro comum para
quem quer perder peso, diz a nutricionista francesa, é sobrecarregar o corpo
com exercícios ao mesmo tempo em que adota uma dieta mais restritiva. Ambos
estressam o cérebro, que procura mais por comida pela necessidade de repor o que
foi gasto no exercício.
"O cérebro já
está estressado porque está querendo entender a diminuição de alimentos e você
aumenta a atividade física, geralmente sem comer uma quantidade equivalente,
sendo que as duas atividades aumentam o apetite -- o que pode levar a comer
mais", explica.
Solução.
O primeiro passo para
emagrecer corretamente é entender a causa do ganho de peso, que pode ser por
alta ingestão calórica ou por problemas hormonais, estresse físico e
psicológico ou por uso de medicamentos. O ideal nestes casos é procurar um
endocrinologista e depois alinhar uma dieta com um nutricionista.
O segundo passo é
"ensinar" o cérebro que basta um pedaço de chocolate, não a barra
inteira, para satisfazer a vontade. Como fazer isso? Diminuindo as porções de
alimentos que contêm gordura e açúcar -- os alimentos preferidos do cérebro por
causarem sensações praticamente instantâneas de bem-estar.
O terceiro passo,
ensina Deram, é não deixar de comer carboidratos, mas diminuir as porções
encontradas principalmente em alimentos doces. Segundo a nutricionista, o
brasileiro come uma quantidade maior de alimentos açucarados (14% das calorias
da dieta) do que o recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que é
de menos de 10% das calorias da dieta. Entre os adolescentes brasileiros, o
consumo é ainda maior, 15% das calorias ingeridas na dieta vêm dos doces.
Quando a dieta é
necessária.
Para o
endocrinologista Henrique Suplicy, presidente da Comissão de História da
Endocrinologia da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, há
casos específicos nos quais a dieta é bem-vinda: pessoas com colesterol,
triglicerídeos e glicose alta, além de obesos, diabéticos ou quem têm problemas
ortopédicos cuja indicação é perder peso.
Mas o ideal, diz ele,
é que a dieta não seja encarada como um sacrifício, mas como um prenúncio da já
tão conhecida reeducação alimentar.
"Eu concordo que
algumas dietas, principalmente as muito restritivas, têm vida muito curta. A
pessoa perde peso, depois a abandona, recupera tudo e não adianta nada. Mas se
fizer uma dieta visando à reeducação alimentar, a perda de peso e a mudança de
hábitos... é outra coisa", diz Suplicy.
O endocrinologista
não vê uma relação direta entre as dietas e a compulsão alimentar, esta uma
consequência de um distúrbio psiquiátrico.
"Se a pessoa já tem o problema, mesmo fazendo a dieta e chegando ao peso considerado ideal, ela não para e continua a perder peso. Não acho que a dieta em si é um gatilho, porque há muita gente que faz dieta e nem por isso fica anoréxica ou bulímica", diz.
"Se a pessoa já tem o problema, mesmo fazendo a dieta e chegando ao peso considerado ideal, ela não para e continua a perder peso. Não acho que a dieta em si é um gatilho, porque há muita gente que faz dieta e nem por isso fica anoréxica ou bulímica", diz.
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