FONTE: Do UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
A consciência, aquele diálogo interno
que parece controlar seus pensamentos e ações, pode ser bem menos poderosa do
que se pensa. De acordo com a nova teoria proposta por um pesquisador da
Universidade do Estado de São Francisco (SFSU), nos EUA, a consciência seria um
canal passivo, e não uma força que exerce controle.
Em um estudo publicado na revista
Behavioral and Brain Sciences (Ciências do Cérebro e do Comportamento, em
tradução livre) na última segunda (22), o professor de psicologia Ezequiel
Morsella sugere que a consciência funciona como uma espécie de intérprete.
"O intérprete apresenta a
informação, mas não é responsável pelos argumentos nem age sobre o conhecimento
que é compartilhado", explica Morsella em entrevista à assessoria de
imprensa da Universidade. "Da mesma forma, as informações que percebemos
em nossa consciência não são criadas por processos conscientes nem são uma
reação de processos conscientes. A consciência é o homem médio, e ele não
trabalha tanto quanto você pensa."
Na teoria do Passive Frame,
proposta pelo professor, a consciência é mais reflexiva e menos propositiva do
que a sabedoria popular acredita. A consciência humana não teria controle sobre
os diversos impulsos (necessidades, pensamentos, sensações e reações físicas)
que passam por nossa mente a todo instante.
"Por muito tempo pensamos que a
consciência resolvia problemas e tinha muitas partes dinâmicas, mas na
realidade ela é bem mais básica e estática do que isso", explica Morsella.
"Esta teoria é bastante contraintuitiva", acrescenta.
De acordo com o estudo, o
"livre-arbítrio" não tem relação com a consciência, ela não decide
nada nem nos guia em momentos de escolha. A consciência seria apenas
responsável pela transmissão de informações que controlam a ação voluntária do
sistema muscular esquelético.
Morsella comparou a consciência à
internet. A rede de computadores pode ser usada para comprar livros, pesquisar
ou qualquer outra tarefa, mas quem toma as decisões é a pessoa em frente ao
computador. A internet é apenas sua ferramenta.
Pensamentos não
estão conectados.
A teoria também nega a crença popular
de que um pensamento consciente leva ao outro. "Um pensamento não sabe do
outro, ele apenas tem acesso e age sobre a mesma informação inconsciente",
diz Morsella.
A teoria levou mais de dez anos para
ser desenvolvida e tem grandes implicações para o estudo de transtornos
mentais.
"Por que você tem um desejo ou
pensamento que você não deve ter? Porque, em certo sentido, o sistema de
consciência não sabe que você não deveria estar pensando em alguma coisa",
disse Morsella . "Um gerador de impulso não sabe que um desejo é
irrelevante para os outros pensamentos ou ações em curso."
Para o professor, uma das
dificuldades de se estudar a consciência está no uso da própria consciência
para estudá-la. "Durante a maior parte da história humana, a caça e a
coleta e outras preocupações mais urgentes requeriam ações voluntárias
executadas rapidamente. A consciência parece ter evoluído para esses tipos de
ações, e não para entender a si mesma", concluiu.
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