FONTE: Yuri Abreu, TRIBUNA DA BAHIA.
Há escassez mundial no suprimento de matéria-prima.
A crise de abastecimento que
afeta todo o país, da penicilina benzatina, conhecida comercialmente como
benzetacil, também vem tendo seus reflexos no estado da Bahia. Seja em postos
de saúde, hospitais e até mesmo em farmácias, é grande a dificuldade para se
encontrar o produto. O antibiótico é usado para tratar sífilis, amigdalites,
infecções cutâneas e no tratamento da febre reumática.
A equipe da Tribuna da Bahia percorreu alguns locais da cidade na
tentativa de encontrar o produto. Na farmácia do posto de saúde que fica no
bairro Sete Portas, a funcionária informou que não havia o medicamento. A mesma
resposta foi dada em outro posto, próximo ao Campo da Pólvora, em Nazaré.
Já no Quinto Centro de Saúde
Professor Clementino Fraga, na Avenida Centenário, um pequeno lote da
benzetacil havia chegado na última segunda-feira. No entanto, na terça, de
acordo com uma funcionária, já havia acabado.
Também não está fácil encontrar a
penicilina nas farmácias da capital baiana, seja em bairros nobres, como a
Pituba, ou em bairros periféricos, como Paripe. O item, apesar de barato –
custa entre R$ 10 e R$ 12 – já está em falta há dois meses, segundo os
funcionários que alegam que, quando o produto chega, é em pouca quantidade e
acaba rapidamente. Eles alegam também que as empresas farmacêuticas vêm tendo
dificuldades em repassar o produto.
Para especialistas, a depender do
caso, até existem alternativas para substituir o benzetacil, mas que o
tratamento é mais trabalhoso. “Essas medicações são utilizadas por um tempo mais
prolongado, por intervalos de tempo menores, e não tem a praticidade da própria
benzetacil, que tem uma característica de se manter em um nível baixo e por
tempo prolongado no sangue, diferentemente das alternativas. Isso não é
pratico, dá mais trabalho, acaba sendo mais custoso, mesmo tendo o mesmo efeito
que a principal”, disse a médica infectologista e professora da Universidade
Federal da Bahia (UFBA), Jacy Andrade.
Os indivíduos que deixam de tomar
o medicamento, segundo Jacy, correm o risco de recidivar, que é quando a doença
volta mesmo depois do paciente estar curado. Nesse caso, elas devem procurar o
médico para buscar outra solução. A também infectologista, Nanci Silva, alerta
para os problemas que grávidas podem ter por conta da falta do tratamento,
principalmente com relação à sífilis.
“A benzetacil é a substância mais
indicada para tratar essa doença. Caso contrário, a gestante não é considerada
tratada, segundo a Organização Mundial de Saúde. Com isso, há o risco de o
bebezinho passar a ter sífilis congênita. Ele pode nascer com problemas
auditivos ou até mesmo cego”, relatou. De acordo com as médicas, a expectativa
é de que a situação se resolva o mais rápido possível.
“A principal questão é por que
está faltando penicilina. Nós temos, como disse, as alternativas, mas temos que
cobrar as autoridades. Já soube, através de colegas de outros estados, que não
é só a penicilina benzatina como também a cristalina está em falta”, falou
Nanci. “Espero que este seja um período curto, mas imagino que, devido sua
importância, o ministério já está providenciando a regularização da situação”,
acredita Jacy.
País
sofre desabastecimento.
Contatada pela
reportagem da Tribuna,
a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), informou, através de nota
enviada pela sua assessoria de comunicação, que a já foi feito um pregão para a
compra da medicação, mas a empresa vencedora, por problemas de documentação,
não pode entregar o produto.
Em função disso, o órgão de saúde
está realizando uma compra de entrega única, que vai facilitar a chegada da
medicação. Além disso, também está aguardando a análise do processo pela
Procuradoria Geral do Estado para finalizar a compra anual.
Já o Ministério da Saúde emitiu
um comunicado informando que vem monitorando a produção e o abastecimento
nacional do medicamento penicilina benzatina desde o segundo semestre de 2014,
quando começou a receber várias notificações de municípios sobre atraso na
entrega e problemas com licitações sem oferta.
De acordo com o órgão federal,
foi identificado que há escassez mundial no suprimento de matéria-prima
utilizada para a produção de penicilina, que é importada.
Diante do atual cenário, o
Ministério da Saúde já vinha orientando, desde o ano passado, estados e
municípios a preservarem a penicilina para o tratamento das gestantes.
A previsão é de que, para o
próximo mês, haverá disponibilidade de pouco mais de um milhão de ampolas,
número que supre, segundo o órgão, a demanda nacional.
Apesar de estar em falta na rede
pública, quem precisa da aplicação de benzetacil pode encontrar clínicas
particulares que fazem o procedimento, mas desde que o paciente leve a receita
médica juntamente com o frasco do produto, além do valor de R$ 20 que cobrado.
A mesma aplicação pode ser feita até mesmo em farmácias, que cobram um valor
menor para fazer a aplicação: R$ 12, levando também a receita médica e o
frasco.
No entanto, de acordo com a
Portaria 3161, de 27 de dezembro de 2011, tal procedimento, nas farmácias, é
ilegal, já que a aplicação deve ser feita, segundo a norma, em unidades de
atenção básica à saúde, já que há risco do paciente ter reações adversas ao
produto, entre elas, choques anafiláticos, é uma reação alérgica grave que
surge poucos minutos após estar em contato com um alergênio, provocando sintomas
como dificuldade para respirar, inchaço da boca e colocando em risco a vida do
paciente.
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