quarta-feira, 24 de junho de 2015

ENTENDA COMO É POSSÍVEL UM FETO FICAR MUMIFICADO DENTRO DA BARRIGA POR ANOS...

FONTE: Camila Neumam, Do UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).


O caso do feto calcificado encontrado na barriga da chilena Estela Meléndez, 92, dificilmente aconteceria com uma jovem grávida nos dias de hoje. Casos como este ocorrem geralmente em uma gravidez fora do útero, onde o feto morreu por não ter condições de sobreviver, mas permaneceu no organismo sem a mulher perceber e sem causar grandes sintomas.

Com os exames de ultrassom atuais, é possível descobrir esse tipo de gravidez rapidamente e retirar o feto, que não tem condições de sobreviver, por meio de cirurgia.

Mas antigamente os exames não eram tão precisos e pessoas mais pobres nem sempre tinham acesso a eles. A idosa chilena disse ter acreditado que os médicos lhe fizeram uma raspagem, sem ao menos ter certeza do que se passou em sua gravidez interrompida por um câncer. Tanto que ela descobriu o feto calcificado 60 anos depois.

"O feto pode ser identificado em exames de ultrassom ou de raio-X.  Por isso, tende a acometer mais mulheres que não têm acesso à saúde. Caso contrário, dificilmente haveria tempo de o feto se calcificar", afirma Renato Passini Júnior, professor de obstetrícia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas)", autor de um estudo de caso sobre uma pernambucana que abrigou um feto calcificado por 18 anos.

Com o tempo, o feto morto que fica no organismo sofre um processo de mumificação, cujos tecidos se ressecam sem a irrigação de sangue e começam a ficar impregnados de cálcio. Segundo o obstetra, a calcificação do feto pode demorar de 23 a cem anos para ocorrer.

"A gravidez fora do útero é um evento raro, e os casos de calcificação do feto são mais raros ainda. Há relatos de menos de 400 casos de gravidez abdominal no mundo em 400 anos de literatura médica e dentre esses apenas de 1% a 2% podem se tornar fetos calcificados", explica o ginecologista.

O curioso é que em algumas mulheres todo esse processo pode vir livre de sintomas severos, enquanto em outras naturalmente causa fortes dores, que podem ser causadas por infecções ou pela reação do próprio organismo que identifica o corpo estranho. No segundo caso, geralmente elas descobrem o feto no hospital.

"Por estar em uma região próxima dos intestinos, o feto pode ser contaminado com alguma bactéria e consequentemente sofrer uma infecção que causará uma dor intensa à grávida", explica Passini.

Por outro lado, a presença do feto calcificado pode ser totalmente imperceptível à mulher, explica Roseane Mattar, presidente da comissão de gestação de alto risco da Febrasgo, sem causar problemas em sua saúde.


"Neste processo há a absorção total de líquidos dos tecidos. O feto fica bem diminuído e calcificado, sem liberar substâncias tóxicas, e por isso não causa nenhum problema de saúde. Tanto que algumas mulheres só descobrem o feto quando ele já está calcificado", diz.

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