FONTE: Camila Neumam, Do UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
O caso do feto calcificado encontrado na
barriga da chilena Estela Meléndez, 92, dificilmente aconteceria com uma jovem
grávida nos dias de hoje. Casos como este ocorrem geralmente em uma gravidez
fora do útero, onde o feto morreu por não ter condições de sobreviver, mas
permaneceu no organismo sem a mulher perceber e sem causar grandes sintomas.
Com os exames de ultrassom
atuais, é possível descobrir esse tipo de gravidez rapidamente e retirar o
feto, que não tem condições de sobreviver, por meio de cirurgia.
Mas antigamente os exames não eram tão precisos e pessoas mais pobres nem sempre tinham acesso a eles. A idosa chilena disse ter acreditado que os médicos lhe fizeram uma raspagem, sem ao menos ter certeza do que se passou em sua gravidez interrompida por um câncer. Tanto que ela descobriu o feto calcificado 60 anos depois.
"O feto pode ser
identificado em exames de ultrassom ou de raio-X. Por isso, tende a
acometer mais mulheres que não têm acesso à saúde. Caso contrário, dificilmente
haveria tempo de o feto se calcificar", afirma Renato Passini Júnior,
professor de obstetrícia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas)",
autor de um estudo de caso sobre uma pernambucana que abrigou um feto
calcificado por 18 anos.
Com o tempo, o feto
morto que fica no organismo sofre um processo de mumificação, cujos tecidos se
ressecam sem a irrigação de sangue e começam a ficar impregnados de cálcio.
Segundo o obstetra, a calcificação do feto pode demorar de 23 a cem anos para
ocorrer.
"A gravidez fora
do útero é um evento raro, e os casos de calcificação do feto são mais raros
ainda. Há relatos de menos de 400 casos de gravidez abdominal no mundo em 400
anos de literatura médica e dentre esses apenas de 1% a 2% podem se tornar
fetos calcificados", explica o ginecologista.
O curioso é que em
algumas mulheres todo esse processo pode vir livre de sintomas severos,
enquanto em outras naturalmente causa fortes dores, que podem ser causadas por
infecções ou pela reação do próprio organismo que identifica o corpo estranho.
No segundo caso, geralmente elas descobrem o feto no hospital.
"Por estar em
uma região próxima dos intestinos, o feto pode ser contaminado com alguma
bactéria e consequentemente sofrer uma infecção que causará uma dor intensa à
grávida", explica Passini.
Por outro lado, a
presença do feto calcificado pode ser totalmente imperceptível à mulher,
explica Roseane Mattar, presidente da comissão de gestação de alto risco da
Febrasgo, sem causar problemas em sua saúde.
"Neste processo
há a absorção total de líquidos dos tecidos. O feto fica bem diminuído e
calcificado, sem liberar substâncias tóxicas, e por isso não causa nenhum
problema de saúde. Tanto que algumas mulheres só descobrem o feto quando ele já
está calcificado", diz.
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