FONTE: Fabiana Marchezi, Do UOL, em Campinas (SP) (noticias.uol.com.br).
O número de morte em
bebês por causa da sífilis congênita vem aumentando significativamente no
Brasil. Dados do Ministério da Saúde mostram que entre 2011 e 2013, 419 bebês
com menos de um ano morreram em decorrência da sífilis transmitida pela mãe. O
número choca pelo fato da doença ter tratamento simples.
O Brasil sofre uma
epidemia da doença e o medicamento mais eficaz para tratá-la, a penicilina
benzatina, conhecida pelo nome comercial Benzetacil, está em falta no País.
Somente em São Paulo, entre 2007 e 2013, o
número de notificações da doença cresceu mais de 603%.
"A situação da
sífilis no País é alarmante, principalmente nos casos congênitos porque a
criança que nasce com a doença pode não resistir e pode também ter um
comprometimento significativo à saúde, inclusive problemas neurológicos. Para
os adultos, apesar de causar alguns problemas, a doença não chega a levar a
morte", explicou Angélica Espinosa Miranda, presidente da Sociedade
Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis e coordenadora do Comitê de
DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíves) da SBI (Sociedade Brasileira de
Infectologia).
Crescimento
de casos.
O aumento das mortes
de bebês vem sendo gradual. Em 2011, foram 111 óbitos; em 2012, 147; e em 2013,
161. Se contabilizarmos as mortes desde 2000 até 2013 o número total de mortes
de bebês chega a 1.241, sendo 43,2% na Região Sudeste, 34% no Nordeste, 10,2%
no Norte, 9,5% no Sul e 2,1% na região Centro-Oeste do País. O número de
grávidas com a doença passou de 1.863 em 2005 para 21.382 em 2013, alta de
1.047%. Já o número de notificações de sífilis congênita, quando a mãe passa a
doença para o bebê, subiu de 5.832 para 13.705 no mesmo período, crescimento de
135%.
A sífilis é causada
por uma bactéria e transmitida por meio de relação sexual, sem uso de
preservativo. Em adultos, ela se manifesta como uma ferida no pênis, na vagina
ou na boca. Os sintomas podem desaparecer e voltar tempos depois de uma forma
mais grave, causando alterações cardíacas, vasculares e até neurológicos, mas
raramente leva um adulto à morte.
Já na gravidez, o
risco de aborto e de o bebê nascer morto é altíssimo. "Se a mulher
engravida já tendo sífilis ou contrai a doença no início da gestação, a
possibilidade de aborto é muito grande e as chances do bebê nascer morto ou com
problemas graves também", afirmou Angélica.
Em 2013, em todas as
regiões do País foi observado um aumento considerável na notificação de sífilis
em gestantes em relação ao ano anterior, variando entre 14,8% no Nordeste, e
44,7%, no Sul. Segundo o Ministério da Saúde, o aumento gradual na notificação
de casos na rede de atenção pré-natal nos últimos anos deve-se provavelmente ao
fortalecimento dos serviços de pré-natal, por meio da Rede Cegonha, o que
propiciou o aumento na cobertura de testagem das gestantes e acompanhamento dos
casos.
"Nos últimos
anos, o diagnóstico da doença tem sido feito com muita facilidade. Em alguns
minutos é possível saber se uma pessoa tem sífilis ou não. Por isso é natural
que os números cresçam. Por outro lado, o número de casos vem mesmo aumento
significativamente e a falta da penicilina benzatina, antibiótico
comercializado como Benzetacil, acaba piorando a situação", explicou Érico
Arruda, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Falta de
medicamento.
A penicilina
benzatina é o tratamento mais eficaz para a sífilis. "Com ele, 100% dos
casos evoluem para cura, mas a falta do antibiótico tanto da rede pública
quanto privada, o controle e até a erradicação da doença ainda neste ano é
muito improvável", disse Arruda.
Segundo o Ministério
da Saúde, a penicilina benzatina está em falta desde o final de 2014 porque o
fornecedor da matéria-prima, que é importada, mudou. Se acordo com o órgão, o
desabastecimento é mundial.
"Foi
identificado que há escassez mundial no suprimento de matéria-prima utilizada
para a produção de penicilina. O Brasil finaliza o produto, mas a matéria-prima
é importada. Alguns produtores mundiais passaram a não disponibilizar mais o
produto, forçando a indústria brasileira a procurar novos fornecedores. Vale ressaltar
que, quando há troca do fornecedor, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária) tem que emitir nova certificação", diz nota divulgada pelo
órgão.
Segundo o ministério,
já foi solicitado à Anvisa prioridade na análise da liberação de importação da
matéria-prima do medicamento, bem como das inspeções e avaliação da
qualidade dos lotes produzidos.
"A previsão é de
que para o próximo mês, haverá disponibilidade de 1,2 milhão de ampolas, número
que supre a demanda nacional. Vale ressaltar que o monitoramento do Ministério
da Saúde vai continuar até que a situação esteja regularizada, ou seja, que a
disponibilidade global do medicamento esteja equilibrada", concluiu o
comunicado.
Diante deste cenário,
o Ministério da Saúde já vinha orientando, desde o ano passado, estados e
municípios a preservarem a penicilina para o tratamento das gestantes, o
antibiótico considerado mais efetivo, capaz de curar e impedir a transmissão
vertical da doença - de mãe para filho.
O Brasil tem um pacto
com a Organização Mundial de Saúde de erradicação da sífilis congênita até este
ano, mas Arruda alerta: "Sem a penicilina, é muito improvável atingirmos
esse alvo".
Nenhum comentário:
Postar um comentário