FONTE: Tatiana Pronin, Do UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
Ajuda a prevenir
infartos, derrames, melhora o humor, o sono e, por incrível que pareça, faz
emagrecer. Tudo isso foi dito recentemente sobre o chocolate, para delírio dos
fãs desse alimento, algo que deve equivaler a 99,9% da população. Antes de se
entupir com a guloseima, no entanto, é preciso analisar esses estudos com olho
clínico.
Uma pesquisa
recente, publicada no periódico Heart
(pertencente ao British Medical Journal), informou que o consumo diário de 100
gramas de chocolate foi associado a menor risco de acidentes cardiovasculares,
incluindo infartos e derrames.
O cardiologista José
Rocha Faria Neto, presidente do departamento de aterosclerose da Sociedade
Brasileira de Cardiologia e professor titular da PUC (Pontifícia Universidade
Católica) do Paraná, afirma que os resultados fazem sentido do ponto de vista
biológico. "O cacau é rico em flavonoides, a exemplo da uva", comenta
o especialista, lembrando que várias pesquisas já associaram o vinho tinto a
menor risco cardiovascular.
Mas ele ressalta que
estudos como o publicado na Heart são observacionais, assim como tantos outros
trabalhos científicos que envolvem alimentos e saúde. "Você não sabe se as
pessoas são mais saudáveis porque comem chocolate, ou se comem chocolate porque
se sentem saudáveis", exemplifica. Além disso, é difícil ter certeza de que
os voluntários comeram exatamente aquilo que disseram ter comido, e, ainda: o
simples fato de participar de um estudo e controlar a alimentação pode levar à
perda de peso e controle de fatores de risco cardiovascular.
Algo parecido
acontece com o vinho tinto. Pesquisas robustas apontam benefícios para o
coração (trabalhos até mais consistentes do que os realizados até hoje com o
chocolate, conforme avalia Faria Neto). Mas também é preciso considerar que
indivíduos que consomem apenas uma ou duas taças da bebida por dia podem ser
pessoas moderadas por natureza, que também comem de forma equilibrada e
aproveitam as coisas boas da vida, o que significa ter menos estresse.
Pegadinha.
Estudos
observacionais podem confundir as pessoas a tal ponto que, recentemente, um
grupo de pesquisadores organizou o que ficou conhecido como a maior pegadinha
do jornalismo
científico envolvendo dietas.
O trabalho, publicado
no respeitado International Archives of Medicine, dizia que seguidores de uma
dieta com baixo índice de carboidratos que consumiam 42 gramas de chocolate
amargo todos os dias emagreceram 10% mais rápido que os adeptos da dieta que se
abstiveram da guloseima.
A descoberta foi
replicada em sites, revistas e jornais do mundo inteiro. Só que era tudo
"mentirinha". Ou melhor: uma mentira com fundo de verdade e objetivo
nobre. A pesquisa realmente foi feita e os resultados foram mesmo favoráveis ao
chocolate. Mas o principal autor era um jornalista (com especialização em
biologia, vale dizer), e a organização sem fins lucrativos à qual pertenceria,
um tal de Instituto de Dieta e Saúde, na verdade não existe.
O mais importante,
segundo o próprio pesquisador esclareceu depois, é que o estudo foi feito com
apenas 15 pessoas. E quando se avalia um número grande de dados (peso,
colesterol, bem-estar, sono e outros) de um número muito pequeno de sujeitos, é
fácil conseguir um resultado "estatisticamente significante" - um
segredo que todos os interessados no noticiário de saúde devem guardar na
memória.
É chato, dá trabalho
e pode sair caro consultar um bom médico ou nutricionista. Mas tente fazer esse
esforço antes de consumir chocolate, gordura, vinho e outras delícias de forma
indiscriminada com a desculpa de que quer testar os supostos benefícios para
sua saúde.
Saldo.
Apesar de a história
acima ter sido bem esclarecida pelos envolvidos, nem todos os veículos de
imprensa que fizeram alarde sobre o poder emagrecedor do chocolate explicaram,
depois, o que estava por trás da manchete saborosa.
Mas não há motivos
para ficar "de mau" do chocolate. O saldo dos estudos, de acordo com
especialistas, é positivo. "Diversas pesquisas já comprovaram
cientificamente os benefícios do chocolate para o organismo. O cacau possui
mais de 500 compostos, entre eles os flavonoides (em especial a catequina e a
epicatequina, compostos antioxidantes), e o triptofano (aminoácido que
contribui para a produção de serotonina e melatonina, neurotransmissores que
promovem a sensação de bem-estar e desempenham papel importante na regulação do
sono e do humor)", conta a nutricionista Monique Maia.
"A ação
antioxidante dos flavonoides diminui a ação dos radicais livres, estimulando a
produção do óxido nítrico, que por sua vez melhora a circulação sanguínea e,
consequentemente, diminui a pressão arterial e a concentração de colesterol no
sangue", descreve, ainda, a profissional.
Contraindicações.
Pessoas alérgicas ao
cacau não podem consumir chocolate. Quem sofre de intolerância à lactose ou
alergia à proteína do leite também deve ficar de olho na composição do produto.
E os diabéticos, é importante frisar, devem escolher as versões
"diet", levando em conta que o teor de gordura é mais alto para
compensar a ausência do açúcar.
A Organização Mundial
da Saúde (OMS) sugere que os médicos recomendem o consumo de até 30 gramas
diários de chocolate do tipo amargo (com no mínimo 50% de cacau) por dia.
Mas não se pode ignorar o valor energético do alimento - ele deve ser computado ao balanço diário para que o consumidor não ganhe peso. Cerca de 25 gramas, ou apenas quatro quadradinhos, de um chocolate amargo de marca famosa tem 135 calorias. Ou seja: não dá para exagerar, ou o saldo na balança será desagradável.
A nutricionista ainda
dá um conselho importante: "Fuja de chocolates que contêm gordura
hidrogenada". O componente, também conhecido como gordura trans, foi
condenado como "inimigo número um" da saúde cardiovascular.
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