FONTE: Noelle Marques, Do UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
A fama vem de longe.
Falou em gato e gravidez, a toxoplasmose sempre termina pautando a conversa.
A psicóloga Juliana
Del Vigna, 40 anos, adotou a gata Dadá quando o filho João tinha apenas um ano.
Quando foi engravidar do segundo filho, muitas pessoas a questionaram sobre o
perigo do animal. Mas ela conta que não teve medo. "Eu não ia me desfazer
da minha gata por causa da gravidez, é uma questão de esclarecimento".
"A médica disse
que, antes de engravidar, eu teria que fazer uns exames para ver se poderia
ficar com meu gato", lembra a jornalista Raquel Drehmer, 38 anos. Ela
também relutou em se desfazer de Fofão e preferiu procurar outra ginecologista.
No fim, não precisou abrir mão do bichano, que logo mais fará companhia
para seu bebê, previsto para nascer no começo de julho.
A toxoplasmose é
motivo de preocupação para quem engravida. Principalmente durante o primeiro
trimestre da gestação, ela pode causar, por exemplo, retardo mental e cegueira.
E, segundo o veterinário-chefe do Vet Quality, Cauê Toscano, o gato é o
único hospedeiro que consegue eliminar a forma infectante da doença, pelas
fezes. "Mas é uma fama que acabou sendo criada, infelizmente, que não
corresponde a realidade."
O gato não é o grande
vilão da doença, explica o infectologista Celso Granato, professor da
Universidade Federal de São Paulo e assessor médico do laboratório Fleury,
porque não é o principal culpado pela disseminação.
"O ciclo do
protozoário toxoplasma gondii tem que passar pelo gato, mas o animal leva uma
culpa maior do que merece. O que acontece na prática é que há mais chances de
se contrair a doença tomando água contaminada, comendo carne vermelha crua,
salada e usando utensílios contaminados", ressalta.
Além disso, diz
Toscano, o cisto da toxoplasmose só é liberado durante até três semanas da
infecção do gato. "Então teria que coincidir o gato contaminado com a
doença no momento da gestação da mulher e, durante estas três semanas, ela ter
algum problema de higiene que fizesse com que tivesse contato com o
protozoário. Passadas as três semanas, mesmo que o animal esteja infectado, ele
não vai liberar o cisto."
O veterinário também
explica que o cisto, depois de eliminado, precisa de pelo menos 24 horas para
se tornar infectante, então uma pessoa que limpa a caixa de areia do gato todos
os dias não permite que o prazo de evolução se complete.
O infectologista
destaca ainda que o número de casos de toxoplasmose caiu expressivamente nos
últimos 30 anos, diminuindo o risco de contágio.
"Passamos a
comer bem mais carne congelada, e o congelamento mata o cisto do toxoplasma. A
água também é muito mais tratada do que antigamente, e, o último fator, é que a
maioria dos gatos de estimação dos dias de hoje é alimentada com ração. Se eles
não saem para caçar não pegam doença e, consequentemente, não transmitem para
as pessoas", explica.
"Os gatos em
casa não apresentam perigo, basta tomar cuidado com a higiene e a
alimentação", defende Granato, que até pouco tempo tinha dois felinos em
casa.
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