FONTE: Milena Carvalho - iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
Especialista faz alerta para o abuso do produto,
mas ressalta que há poucos casos graves registrados na literatura científica.
Passar
repelente ainda é uma das principais recomendações dos médicos para a proteção
contra o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, zika vírus e febre
chikungunya. O que poucos sabem, no entanto, é que o uso excessivo do produto
pode causar uma série de problemas – alguns deles tão graves que chegam a ser
impensáveis.
É o que
afirma ao iG o médico toxicologista Anthony Wong, diretor do Centro de
Assistência Tecnológica (CEATOX) do Instituto da Criança do Hospital das
Clínicas de São Paulo, que enumera como possíveis consequências do abuso de
repelentes alergia, irritabilidade, intoxicação e, em casos mais graves,
convulsões, arritmia e até coma.
“Usualmente,
existe uma grande chance de a pessoa ter problemas como irritação,
principalmente, devido ao abuso. Mas existem casos de complicações
sérias", diz Wong. "São poucos, é infrequente, mas já
aconteceu."
A
literatura científica mostra que, quando ocorrem, as complicações são devido ao
abuso dos produtos com a substância DEET (dietiltoluamida), matéria-prima que
compõe os principais repelentes à venda no mercado. As crianças são as maiores
vítimas dos casos graves.
Três vezes por dia basta.
Os repelentes com DEET têm efetividade por entre 6 e 8 horas, e aqueles com
icaridina, outra substância conhecida contida em alguns produtos, duram
aproximadamente 10 horas. Por isso, Wong alerta que, ao contrário do que muitos
pensam, passá-los três vezes ao dia é suficiente para que a pessoa esteja
protegida. “Tem gente que entra na piscina, por exemplo, e aí toda vez que sai
da água passa de novo", exemplifica ele. "Não se pode criar pânico.”
Outro
abuso ocorre em decorrência do desespero de alguns pais, consequência da
explosão de casos das doenças relacionadas ao Aedes no Brasil. Com o temor de
contaminação dos filhos, alguns deles podem acabar tomando decisões erradas,
como passar o produto naqueles que ainda não têm idade para isso – os
repelentes são proibidos para bebês de até 6 meses.
Importante mesmo
é seguir as instruções.
Integrante do Conselho Regional de Química
e diretora administrativa da Associação Brasileira de Cosmetologia, a
engenheira química Enilce Oetterer minimiza os problemas causados pelos
produtos, enfatizando que todos eles são aprovados pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa). Para ela, a ardência na pele e a irritabilidade
são as complicações mais sérias do uso excessivo de repelentes. No entanto, o
grau de alergia varia de pessoa para pessoa.
Assim,
para evitar qualquer contratempo, o mais aconselhável é seguir passo a passo o
modo de uso destacado no rótulo da embalagem, evitar o uso prolongado dos
produtos e não passá-los em mucosas. Também é importante muito cuidado com
repelentes caseiros que contenham produtos como citronela, óleos e outras
químicas.
“Dependendo
da concentração, ou pode ter pouca eficácia ou causar muito alergia",
explica Enilce. "A pessoa acredita que está protegida, mas acaba se
prejudicando.”
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