segunda-feira, 24 de outubro de 2016

DOIS EM CADA TRÊS DEVEDORES SE SENTEM TRISTES E DEPRIMIDOS...

FONTE: Priscila Natividade (priscila.oliveira@redebahia.com.br), CORREIO DA BAHIA.

Para o psiquiatra da Clínica Holiste, André Gordilho, é preciso ficar atento aos sintomas.
Dor de cabeça, noites sem dormir, níveis elevados de estresse, ansiedade e até mesmo depressão. Sintomas que a assistente administrativa Luciana Souza, de 23 anos, passou a desenvolver desde que ficou desempregada e faltou dinheiro para pagar as contas. “Começou o desespero quando as parcelas do seguro desemprego acabaram e eu ainda estava sem trabalho”, conta. 
Tem muita gente, como Luciana, que anda sofrendo do mesmo mal por conta das dívidas. Pelo menos dois em cada três (65,6%) inadimplentes se sentem deprimidos, tristes e desanimados por estarem devendo. É o que mostra um levantamento nacional realizado apenas com consumidores que têm contas em atraso há mais de três meses pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).  
Sem emprego há quase um ano, a assistente administrativa passou  a se isolar de tudo  por conta das dificuldades financeiras. As brigas com o marido se tornaram recorrentes. “Cheguei ao ponto de agredi-lo fisicamente de tão estressada e nervosa que fiquei, por causa de besteira. Depois disso eu só tremia e chorava. Foi quando eu vi que não estava bem”, afirma. 

Luciana também fez de tudo para tentar reduzir as despesas. “Tive que mudar de uma casa grande para um quarto e sala, cortei todo o lazer e vendi várias coisas dentro de casa. Fiquei só com básico mesmo. Até a cama da minha filha tive que vender. A sensação é horrível. Você se sente inútil”. 
A pressão das dívidas em atraso, o nome negativado nos serviços de proteção ao crédito, junto com o desemprego não só dela, mas também do marido, fizeram com que Luciana procurasse ajuda. “Minha mãe pagou um psicólogo pra mim e ele identificou estresse e depressão. Problemas que nunca tive antes como pressão alta, dor de cabeça forte eu passei a ter”. 
Mesmo entregando milhares de currículos, o aperto financeiro ainda tira o sono de Luciana. “Meu marido começou a trabalhar informalmente, o que diminuiu mais a minha ansiedade, mas as preocupações ainda continuam porque ou você sobrevive, ou paga as contas”, lamenta.  
Sinal de alerta.
Para o psiquiatra da Clínica Holiste, André Gordilho, é preciso ficar atento aos sintomas. “O fato de estar endividado vai gerar tensão, ansiedade e estresse. O problema é quando isso toma uma proporção que vai além das dívidas e aí essa pessoa passa a apresentar um quadro maior de irritabilidade, perda de energia, desânimo e desesperança”, explica. 
No caso do estudante de Biologia, Edvan Lessa,  os problemas financeiros tiveram início quando o seu salário passou a atrasar. “Fiz um acordo com o banco pra parcelar um débito de cerca de 
R$ 1 mil. Mas só cheguei a honrar  duas parcelas. Não tinha condições de pagar  juros tão abusivos no momento”. 
A solução, para ele, tem sido buscar aumentar a renda. “A todo momento busco formas de ganhar uma grana extra e poder resolver essa situação”, afirma Lessa. “É horrível presumir que não tenho autonomia para fazer desde as coisas mais simples até comprar uma roupa para o evento mais esperado da família. Isso  deprime facilmente”, completa. 
Saída. 
A solução existe, ainda que vá exigir alguns esforços, como pontua o presidente da Associação de Educadores Financeiros (Abefin) e terapeuta financeiro, Reinaldo Domingos. “É fundamental buscar de onde vem esse desequilíbrio financeiro e corrigir isso dentro do orçamento. Fazer mesmo uma faxina e se readequar a um novo padrão de vida. Para sair das dívidas vai ser necessário definir propósitos e cortar gastos”, aconselha. 

Vale respirar fundo para enfrentar o problema de frente, como destaca a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kuwait. “Busque também envolver a família nesse planejamento. Eles são extremamente importantes, tanto para a recuperação quanto na reorganização das finanças”, ressalta. 

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