FONTE: Maria Júlia Marques, Do UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
Pegar uma DST (Doença
Sexualmente Transmissível) nunca esteve na lista de desejos de ninguém, mas
também não costumava causar grandes preocupações. Agora, isso deve mudar.
A clamídia, a
gonorreia e a sífilis estão mais fortes do que nunca, em crescente resistência
aos antibióticos. A OMS
(Organização Mundial da Saúde) até divulgou um alerta sobre isso.
As três são infecções
sexualmente transmissíveis causadas por bactérias e geralmente curáveis com
antibióticos. Mas a falta de diagnóstico, o mau uso de medicamentos e a
prescrição excessiva dos mesmos remédios resultaram na resistência aos efeitos
dos antibióticos e reduziram as opções de tratamento.
Para entender o
fortalecimento das bactérias, imagine a situação: Você fica doente e centenas
de bactérias aparecem no seu organismo. Ao tomar antibiótico você mata as
bactérias. Mas algumas vezes, antes do fim dos dias do remédio você já se sente
melhor e para de tomá-lo. Ao interromper o uso você pode deixar de matar
algumas bactérias. As "teimosas" sobreviventes se tornam resistentes
ao antibiótico.
"E não é porque
você nunca tomou um antibiótico errado na vida que não precisa se preocupar.
Você pode ser infectado de primeira por bactérias mais resistentes que foram
selecionadas em outro organismo", afirma Ana Cristina Gales,
infectologista e professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
E agora, como enfrentar as
DSTs?
A estimativa
da OMS é de que, a cada ano, 131 milhões de pessoas são infectadas com
clamídia; 78 milhões com gonorreia; e 5,6 milhões com sífilis.
Das três doenças, a
gonorreia foi a que desenvolveu a maior resistência aos medicamentos. Foram
identificadas cepas de N. gonorrhoeae multirresistentes que não reagem
diante de nenhum dos antibióticos existentes. No
caso da sífilis, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, admitiu que o Brasil está
vivendo uma epidemia.
Para tentar conter o
avanço, a solução sugerida no guia da OMS é o uso de antibióticos mais eficazes
e reforçar a necessidade do paciente usar na dosagem correta, pelo período
correto e no horário determinado.
"Um
remédio mais eficaz vai resolver o problema agora. Mas podemos entrar em um
ciclo vicioso", explica Gales. Os antibióticos mais comuns
deixarão de ser usados já que não matam mais as bactérias. Assim, os
medicamentos mais eficazes serão distribuídos em larga escala e daqui alguns
anos as bactérias também podem ficar resistentes a eles. E então será preciso
outro antibiótico ainda mais eficaz.
Todos os tratamentos
com antibióticos em doenças bacterianas favorecem para uma seleção de bactérias
mais resistentes. Para acabar com as DSTs não temos que discutir sobre um
remédio melhor e sim sobre a prevenção".
Ana Cristina
Gales, infectologista e professora da Unifesp.
Para a
infectologista, o melhor caminho para prevenir e frear infecções sexualmente
transmissíveis é lembrar daquele famoso conselho: use camisinha.
"Parece
que todo mundo já sabe da importância do preservativo, mas precisamos repetir
para que todos realmente usem. Em um cenário em que bactérias estão ficando
resistentes aos antibióticos a camisinha impede a infecção e pode pôr um fim na
transmissão."
Outra ajuda no
controle da infecção é a criação de uma base de dados para as DSTs.
A professora afirma
que antigamente o Ministério da Saúde não recomendava que os médicos fizessem
exames mais aprofundados nos pacientes. Caso apresentassem os sintomas da DST,
deviam receber o medicamento direto.
"O esquema
antigo impediu a criação de um banco de dados para analisar a resistência das
bactérias. Porém, o
novo protocolo de 2016 recomenda o exame
físico e teste laboratorial. Com isso conseguiremos criar um dado nacional para
acompanhar de perto a resistência das bactérias", explica. Assim,
será possível saber quais bactérias estão circulando no país e quais são
resistentes a que remédios.
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