FONTE:
Thamires Andrade, Do UOL (estilo.uol.com.br).
Uma campanha de uma marca de energéticos causou
polêmica nas redes sociais, recentemente, ao publicar o vídeo de duas mulheres obesas, questionando a
ditadura da magreza. "Cada dia é um novo dia para lutar contra ideias
ultrapassadas, que só fazem com que as mulheres fiquem presas a um ideal de
perfeição surreal", diz uma. "A gente batalha para que se enxergue
beleza nas diferenças", fala a outra. A campanha viralizou e vários
internautas passaram
a criticar as modelos, dizendo que elas não eram saudáveis. O que levanta a
questão: afinal, é possível estar acima do peso e ainda assim ter uma boa
saúde? De acordo com especialistas ouvidos pelo UOL, sim, é
possível.
"Hoje em dia nós sabemos que existem os
obesos metabolicamente magros e os magros metabolicamente obesos. Existem
pessoas com um IMC (índice de massa corpórea) considerado normal, mas que têm o
perfil metabólico semelhante a de um obeso", explica a endocrinologista e
presidente da Abeso (Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da
Síndrome Metabólica), Cintia Cercato.
De acordo com a endocrinologista, isso ocorre,
pois a obesidade é uma doença heterogênea, ou seja, não basta o cálculo do IMC
para determinar a saúde do indivíduo. "Existe um tipo de obesidade que não
está associado a um risco cardiovascular. Portanto, os exames de gordura no
sangue, triglicérides, colesterol e resistência à insulina desses pacientes
aparecem normais e eles são considerados saudáveis", afirma.
Ainda que a obesidade aumente as chances de ter
alterações metabólicas, engana-se quem pensa que a quantidade de obesos
metabolicamente saudáveis é pequena. Segundo Durval Ribas Filho, nutrólogo e
presidente da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), a prevalência desses
pacientes é de 6 a 35% da população obesa. "O que favorece esse
metabolismo não estar alterado, mesmo com o sobrepeso, é o fator genético.
Algumas pessoas não têm tendência a acumular gordura visceral [que aumenta o
risco de doenças cardiovasculares]. E os saudáveis, quando comparadas com
outros obesos, têm adipócitos [células que armazenam gorduras] menores."
Se a pessoa com obesidade praticar atividade
física, então, a chance de ser saudável é ainda maior. "O sedentarismo é
um fator de risco para doenças maior do que a obesidade em si. Obesos que são
ativos fisicamente têm menor mortalidade do que magros sedentários. A obesidade
é complexa e, muitas vezes, é difícil que a pessoa consiga emagrecer, portanto,
é importante que os médicos incentivem a prática de exercício físico, já que
deixar de ser sedentário reduz muito o risco de doenças", diz Cintia.
Discriminação.
Segundo Filho, a sociedade sempre entendeu que
obesidade é sinônimo da pessoa ser glutona e desleixada. "Estamos em 2016
e ainda hoje as pessoas pensam que todo obeso come muito e não faz atividade,
enquanto todo magro come pouco e é ativo", afirma.
O nutrólogo ainda diz que os pacientes com
obesidade não são acolhidos pela sociedade. "Se uma pessoa chega em uma
festa e conta para outra que tem diabetes, ela é acolhida, vão recomendar um
refrigerante sem açúcar, por exemplo. Mas se o obeso começa uma dieta e fala
para alguém em uma festa, ele escuta que tem que deixar a dieta para outro
dia."
O mesmo preconceito acontece, segundo o
presidente da Abran, para quem precisa de medicamento para tratar a obesidade.
"Quando um paciente precisa de remédio para hipertensão ou diabetes,
ninguém faz qualquer questionamento. Mas a sociedade critica quem precisa de
remédio para emagrecer", exemplifica.
Para Cintia, as garotas da campanha foram
criticadas, pois, na cabeça dessas pessoas, uma modelo acima do peso não pode
ser bonita e estar em anúncio publicitário. “A gente vive essa questão do
bullying, da falta de respeito com quem tem obesidade e da gordofobia. Essas
pessoas precisam entender que é preciso tratar o obeso com respeito, porque, a
obesidade, muitas vezes, não é uma questão de escolha do indivíduo”, explica.
Tratamento.
Ainda que estar acima do peso não seja sinônimo
de falta de saúde, a obesidade aumenta, sim, o risco de certas doenças como as
cardiovasculares e as de ossos e articulações. “Por terem mais chances de
desenvolver essas doenças, esses pacientes precisam ser avaliados
constantemente por meio de exames. Não existe uma regra da frequência em que
devem ser feitos, mas se o paciente já tem histórico de alguma doença na
família, como diabetes, ele precisa, pelo menos uma vez por ano, avaliar a
resistência à insulina”, afirma a endrocrinologista.
Caso apareça alguma alteração nesses exames, aí o
tratamento recomendado é emagrecer. “Se a causa daquilo é o excesso de peso,
melhor do que dar remédio para a diabetes ou para colesterol, é emagrecer”, diz
Cintia.
O tratamento recomendado varia de caso a caso,
mas a primeira abordagem, segundo a presidente da Abeso, é a mudança no estilo
de vida, que consiste em uma dieta aliada à prática de atividade física. “No
caso de um paciente obeso que já tenha alguma comorbidade [doenças que aparecem
ou se intensificam com a obesidade], podemos lançar mão de tratamentos
farmacológicos."
Nos casos de obesidade extrema e de pacientes que
não conseguem emagrecer com farmacológicos e mudança no estilo de vida, a
endocrinologista afirma que há a possibilidade da indicação de uma cirurgia
bariátrica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário