Mais do que anonimato, muitos outros cuidados são
necessários para resguardar a intimidade e dar segurança a quem mantém
relacionamentos sigilosos.
Os amantes se preocupam em não deixar rastros de
nenhum tipo: um mero fio de cabelo perdido no banco do carro pode colocar o
casamento do outro em risco, tal como uma nota fiscal.
Conheça alguns dos malabarismos feitos por quatro
mulheres.
Helena*,
28 anos, teve um caso durante um mês e meio.
“Pelo fato de eu estar saindo com o namorado da
minha melhor amiga, passei a evitar contato com ela. Não saia com ele aos
finais de semana, e ninguém sabia que estávamos juntos, para evitar fofoca.
Também não usava perfume quando estava com ele, porque minha amiga sabia qual
era minha fragrância preferida. Tinha muito peso na consciência por estar tendo
esse caso. Por isso, quando ia a algum bar beber com amigos, desligava o
celular porque tinha medo de ficar bêbada e acabar ligando para ela e contar
tudo. Outro cuidado que tomava era falar pouco e fazer as vezes de ouvinte
quando ela me procurava para dizer que o relacionamento deles não estava bem.
Não queria de modo algum incentivá-la a terminar para que ele ficasse comigo.”
Mikaela*,
41 anos, casada, mantém um relacionamento extraconjugal.
“Tenho um relacionamento extraconjugal há mais de
20 anos e sou casada há mais de 15. Ele é um velho amigo, que já foi casado e
hoje está separado. Moramos em cidades diferentes, então, só conseguimos nos
ver quando viajamos, o que para mim é fácil, por causa do trabalho. Atualmente,
para nos falarmos, o modo mais eficiente é o WhatsApp. O contato dele fica
silenciado no meu aparelho, as fotos que me manda não são baixadas
automaticamente, e as mensagens são guardadas no arquivo do aplicativo e
deletadas de tempos em tempos. Também nos falamos por telefone: uso meu
aparelho celular corporativo e ninguém mexe nele, nem meu marido nem meus
filhos. Para ter uma segurança maior, mudo a senha com frequência. Não uso
Facebook, porque pode ser que eu ou ele esqueçamos de desconectar a conta em
uma máquina qualquer, deixando outras pessoas terem acesso aos nossos perfis.
Apesar dos cuidados, nesse tempo todo, passei por inúmeros sustos. Certa vez,
fui chamada no Facetime [software de chamada em vídeo] por ele e meu marido
atendeu. Por sorte, o contato dele estava salvo com outro nome. Para fazer
isso, peguei os dados de outra pessoa que realmente existe e tem o nome
parecido com o dele. Quando viu a imagem do meu amigo no computador, meu marido
não relacionou o nome à pessoa, mas ficou desconfiado porque apareceu uma
pessoa sem camisa na tela me chamando… Nunca mais deixei todos os aparelhos e
programas interligados e com login ativo.”
Luciana*,
26 anos, tem um caso há mais de um ano.
“Tenho um caso com meu colega de faculdade que
está noivo. Estou livre, mas mesmo assim resolvemos tomar muitos cuidados para
ninguém saber de nada, porque todos estudamos na mesma sala. Apesar de eu não
ter muita amizade com a noiva dele, a situação é delicada. Para podermos sair e
ficar juntos, é montado um esquema de guerra: ele mata aula com ela até certa
hora, enquanto estou em sala normalmente. Depois que deixa a noiva em casa, ele
me avisa por Whatsapp e vou embora da faculdade para encontrá-lo no caminho da
casa dele. Para nos falarmos, usamos o Whatsapp, porque você pode excluir as
mensagens e não há como recuperá-las depois. Pelo menos, é o que a gente acha.
Como somos da mesma turma, tudo bem ele ter meu telefone e eu o dele. Ainda
evito conversar sobre coisas da faculdade para que ele não se confunda e fale
com ela sobre algo, que na verdade conversou comigo. E nunca entro no carro
dele, jamais. Sempre uso o meu e, se for o caso, ele é quem entra no meu. Não
quero nenhum fio de cabelo meu perdido no banco. Sou ruiva e tenho cabelo
comprido, daria muita bandeira.”
Camila*,
31 anos, casada, manteve um relacionamento paralelo por um mês.
“Somos colegas de turma e sempre nos esforçamos
para agir de modo que não parecesse que tínhamos algo a esconder dos outros,
apesar de eu ser casada e ele estar namorando. Por conta disso, às vezes íamos
à padaria tomar café e conversar e nada mais. Assim, se alguém nos visse, não
teria do que desconfiar e, ao mesmo tempo, podíamos ficar um pouco juntos. Para
saírmos à noite, ele dizia para a namorada que tinha de trabalhar até mais
tarde. Eu não precisava dizer muita coisa para o meu marido, porque tenho
várias atividades depois do expediente. Quando íamos para um motel, sempre
checava se o secador de cabelo estava funcionando antes de lavar o cabelo. Não
adianta nada só ver se o quarto tem o aparelho, pode estar quebrado. E nunca
desligávamos o celular. Se por acaso no estabelecimento não tinha sinal
telefônico, deixar a internet ligada era imprescindível para que nossos pares
tivessem como falar com a gente e não desconfiassem da nossa ausência. Quando
usávamos o Wi-Fi do motel, era fundamental apagar o nome da rede do celular na
hora da saída. Geralmente, o nome é muito parecido com o do lugar. Também
cuidava para jogar o canhoto do cartão de débito e a nota fiscal no lixo do
próprio local, jamais guardava na carteira ou na bolsa.”
* Os nomes das
entrevistadas foram trocados a pedido deles para manter o anonimato.
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