FONTE: *** Jairo Bouer, http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br
Tirar um cochilo depois
do almoço não é um hábito comum no Brasil. A tendência, aliás, é bem diferente:
as pessoas têm tido cada vez menos tempo para fazer essa refeição. Mas um
estudo chama atenção para o potencial benefício das sonecas no meio do dia para
a capacidade de aprendizado e memória dos adolescentes. Em outras palavras, a
prática pode ser sinônimo de melhor desempenho na escola.
A pesquisa, financiada
pelos Institutos Nacionais de Saúde, nos Estados Unidos, foi coordenada pela
pesquisadoras Jianghong Liu, da Universidade da Pensilvânia, e Xiaopeng Ji, da
Universidade de Delaware. Como nos EUA o descanso após o almoço é ainda menos
comum que no Brasil, elas fizeram um experimento com 363 estudantes do distrito
de Jitan, na China, com 12 anos de idade, em média. Lá, as sonecas depois da
refeição fazem parte da rotina nas escolas e nos ambientes de trabalho, assim
como as tradicionais “siestas” dos espanhóis. Além disso, era importante
analisar os efeitos da prática como rotina – levar gente para o laboratório
poderia distorcer os resultados.
Sabe-se que todos os
adolescentes enfrentam uma alteração no seu ciclo de sono e vigília, chamado de
circadiano: a vontade de dormir e de acordar atrasa em mais ou menos duas horas
nessa fase, em comparação com o ciclo de crianças mais novas ou adultos. Vários
estudos inclusive já mostraram que os jovens poderiam ter um desempenho muito
melhor na escola se as aulas começassem um pouco mais tarde. Mas implementar
esse tipo de mudança não é tão fácil.
No final das contas, o
que acontece é que os adolescentes dormem tarde e acordam cedo. Para piorar
tudo, a luz emitida por tablets e smartphones, bem como a excitação provocada
por videogames e redes sociais, piora – e muito – a qualidade do sono desses
garotos e garotas. Resultado? Uma privação crônica, que afeta o cérebro e faz
com que prestar atenção na aula e memorizar as matérias seja quase impossível.
De acordo com as
pesquisadoras, os adolescentes (e muitos adultos, também) têm facilidade para
pegar no sono entre meio-dia e 2 da tarde. Mas, em geral, o estímulo é cortado
por aulas à tarde ou programas extracurriculares. Para pais e mães que
trabalham, levar o filho para almoçar e descansar em casa, para depois seguir a
rotina à tarde, é quase sempre inviável.
Muita gente também teme
que deixar o jovem dormir depois do almoço pode atrasar o sono ainda mais à
noite. Mas não é isso que as pesquisadoras constataram: os estudantes com
hábito frequente de cochilar no meio do dia eram os que dormiam melhor. Mas o
ideal é que a soneca seja de meia hora ou, no máximo, de até uma hora. Mais do
que isso pode atrapalhar o ciclo circadiano. Outro detalhe é o horário: se for
feita após as 4 da tarde, atrapalha o sono noturno.
Muitos trabalhos já
comprovaram os benefícios da “siesta” para o rendimento de adultos no trabalho,
mas havia poucos com adolescentes. Também por causa isso, as autoras do estudo
destacam que ainda é preciso estudar melhor a relação entre o cochilo e a
melhora no aprendizado entre os jovens, envolvendo diferentes culturas. De
qualquer forma, se dormir o suficiente é importante para todo mundo, para eles
é ainda mais. A privação crônica de sono pode deflagrar até quadros de
ansiedade e depressão, o que é perigoso nessa fase que já costuma ser
complicada por natureza.
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