FONTE: Theo Ruprecht ***,
https://saude.abril.com.br
Quando
a glicemia está alta, é bom ficar de olho na saúde do esqueleto. Do contrário,
o risco de ossos quebrados pode aumentar.
Não pense que só o
sistema cardiovascular de pessoas com diabetes sofre.
Estudos apresentados no Congresso Mundial de Osteoporose e Doenças
Osteometabólicas, que está acontecendo em Cracóvia
(Polônia), reforçam que essa doença
enfraquece os ossos e promove fraturas – mas de um
jeito diferente do esperado.
Comecemos pelo diabetes
tipo 1, versão menos comum do problema em que o próprio organismo do paciente
ataca o pâncreas, comprometendo a produção de insulina – e, com isso, bagunça o
controle do açúcar no sangue. Ao comparar 97 vítimas dessa encrenca com outras
77 saudáveis, pesquisadores da Universidade Médica da Bielorússia notaram
que 18,5% da primeira turma já apresentava vértebras quebradas, contra apenas
1,3% do outro pessoal.
Caso você esteja
achando estranho: sim, é possível ter uma pequena lesão na espinha dorsal e não
perceber. Mas ela, se já não está provocando eventuais dores, limitações de
movimento, deformações ou uma corcunda, ao menos sinaliza para um risco elevado
de mais ossos quebrados no futuro.
“Já tínhamos mais noção
de que isso acontece mesmo no diabetes
tipo 1. Mas agora estão surgindo evidências com o tipo 2
também”, ressalta a endocrinologista Marise Lazarreti Castro, presidente
da Associação
Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo, direto
do congresso para a SAÚDE.
Pois é: essa versão da
encrenca, caracterizada por uma resistência à ação da insulina que, no longo
prazo, sobrecarrega o pâncreas e faz a glicemia ir às alturas, também parece
estar associada a fraturas. De acordo com mais um trabalho daqueles mesmos
cientistas bielorrusos, mulheres após a menopausa que sofrem com diabetes
tipo 2 apresentam uma probabilidade quase três vezes
maior de ter vértebras quebradas.
Nesse experimento, 94
diabéticas foram equiparadas a 89 voluntárias com glicemia normal. E aqui vem
um detalhe importante (e preocupante): o resultado não mudou muito até quando
as pacientes o exame que detecta a osteoporose vinha praticamente inalterado.
Ou seja, o teste de densitometria óssea parecia estar ok, porém mesmo assim
elas sofreram com mais lesões.
“Não é a densidade de
osso, e sim a qualidade dele que está sendo afetada”, explica Marise. É como
se, frente ao excesso açúcar na circulação, o organismo não conseguisse
construir, reciclar e reformar o nosso arcabouço esquelético direito. “Há,
inclusive, uma teoria de que a glicose afetaria o colágeno, uma proteína
abundante nos ossos”, diz Marise.
Verdade que também há o
risco de o diabetes diminuir a densidade dos ossos, o que é mais facilmente
reconhecível com exames tradicionais para detectar a osteoporose. Mas o fato é
que trabalhos como os citados acima levantam a seguinte questão: como prevenir
fraturas por fragilidade do esqueleto se um teste de densitometria óssea às
vezes deixa a desejar?
Uma possibilidade do
especialista é recorrer a outros testes ou, ainda, dar uma maior atenção às
radiografias necessárias para o exame de densitometria óssea. Outra é fazer
checkups preventivos com frequência.
Porém, acima disso,
convém ao indivíduo com diabetes tomar medidas que solidificam os ossos. Quais
são elas? Fazer exercício físico, ingerir fontes de cálcio e garantir um aporte
de vitamina
D,
entre outras estratégias.
Essas práticas, de
quebra, chegam a ajudar a controlar a glicemia do paciente. Afinal, não há um
diabético que nunca tenha ouvido do médico para comer bem e suar a camisa, não
é mesmo?!
Remédio para os ossos
que ajuda no diabetes?
Outro levantamento
interessante apresentado com destaque no congresso sugere que o denosumabe, uma
nova droga que aumenta a densidade óssea de pessoas com osteoporose, auxiliaria
a controlar o diabetes tipo 2 em si.
É importante deixar
claro que a pesquisa ainda é muito inicial e não permite cravar qualquer coisa,
porém ela dá indícios de que esse fármaco pode baixar a taxa de glicose nos
vasos. “Sabemos que o denosumabe atua no pâncreas. Isso talvez explique o
achado”, afirmou Bart Clarke, autor do artigo, da Mayo
Clinic (EUA), durante sua apresentação.
O experimento ainda
indica que os pacientes emagreceram um pouco por causa da droga. E cabe
destacar que a obesidade ocasiona e agrava o diabetes tipo 2.
É cedo para se
entusiasmar. Contudo, talvez no futuro teremos tratamentos que, de certa
maneira, atuam paralelamente contra o diabetes e a osteoporose.
***As
despesas do jornalista com hospedagem e voos para o local do evento foram pagas
pela Sanofi Consumer Healthcare.
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