A
pesquisa foi realizada por cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (USP) em parceria com pesquisadores europeus.
"Pular" o
café da manhã está relacionado a um aumento em indicadores de obesidade entre
adolescentes. Essa é a principal conclusão de um estudo publicado na revista
Scientific Reports. A pesquisa foi realizada por cientistas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com pesquisadores
europeus.
Com base em
levantamentos com meninos e meninas entre 12 e 18 anos, o estudo identificou a
relação entre abolir o café da manhã e aumento no Índice de Massa Corporal
(IMC), na circunferência da cintura e na razão cintura/altura - indicadores
ligados à obesidade.
Para os levantamentos,
3.528 jovens europeus e 991 brasileiros relataram seus hábitos cotidianos. Os
dados foram casados com medidas de peso dos participantes. Considerando o tempo
de sono dos jovens, foi calculado o impacto do café da manhã, do tempo em
frente às telas e da falta de atividade física vigorosa nos indicadores de
obesidade.
"Mesmo dormindo
bem, se o adolescente 'pula' o café da manhã, aumenta o peso e a circunferência
da cintura. O comportamento de 'pular' o café da manhã se associou a um aumento
nesses marcadores (de obesidade) muito expressivamente", explicou uma das
autoras do estudo, a epidemiologista Elsie Costa de Oliveira Forkert, do Grupo
de Pesquisa em Risco Cardiovascular e Ambiental, da Faculdade de Medicina da
USP.
Segundo Elsie, o
impacto do fator café da manhã nos índices de obesidade foi até maior do que o
efeito dos outros comportamentos avaliados pela pesquisa - como o tempo de tela
e a falta de exercícios físicos. Estudos anteriores já haviam apontado a
importância da primeira refeição do dia no desenvolvimento dos jovens. O hábito
de deixar de lado a primeira refeição do dia é comum entre adolescentes.
Estima-se que 20% abram
mão do desjejum. Entre meninas, esse comportamento é ainda mais habitual -
44,5% das europeias e 37,8% das brasileiras. Entre meninos, o porcentual cai
para 35,9% e 34,6%, respectivamente. Segundo Elsie, a diferença pode estar
ligada à busca pelo emagrecimento para fins estéticos.
Acontece que restrições
causam efeito contrário. "Não entrando alimento, o organismo libera
hormônios contra reguladores. Ele entende que a reserva está pequena e segura
um pouco mais", diz Elsie. Outra razão é que, se o jovem deixa para comer
no meio do dia, escolhe alimentos de baixo valor nutricional e mais calóricos,
o que contribui para o ganho de peso.
Dia a dia.
"O que vejo no dia
a dia é que muitos não tomam o café da manhã, mas comem na escola. E, quando
compram, não é a melhor opção, é um sanduíche pronto, refrigerante, leite com
chocolate e açucarado, suco de fruta adoçado, isso quando não compram coxinha,
esfirra", diz o endocrinologista Mario Kehdi Carra, presidente da
Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica
(Abeso).
Mas as famílias relatam
dificuldades em lidar com a falta de apetite dos jovens no início do dia.
"Na maioria das vezes, só tomo leite. Até tento comer, mas não sinto
fome", conta o estudante Pietro Affonso, de 14 anos. "Até posso
sentir fome durante a aula, daí dou uma beliscada no lanche (pão com patê)
".
Segundo Andressa
Heimbecher, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia, é preciso que os pais investiguem a causa da falta de fome - ela
pode estar ligada, por exemplo, a um jantar muito calórico ou até a problemas
de refluxo. Para ela, o café em casa também é vantajoso sob outro ponto de vista.
É o momento em que pais podem observar como os filhos comem e propor mudanças.
"O comportamento alimentar das crianças é o espelho dos pais. Se ele não
senta para tomar café não transmite o exemplo."
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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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