FONTE: *** Jairo Bouer, https://doutorjairo.uol.com.br/
Cultivar a gratidão é
uma forma de estimular emoções positivas. Há inúmeros livros sobre os
benefícios dessa prática, difundida por pesquisadores, psicólogos, coaches,
religiosos ou mesmo pessoas comuns. Mas, infelizmente, o conselho tem benefício
limitado para quem sofre de ansiedade ou depressão.
Uma equipe de
psicólogos da Universidade do Estado de Ohio, nos EUA, analisou dados de 27
pesquisas diferentes focadas nos efeitos de intervenções baseadas em gratidão
nos sintomas apresentados por pacientes ansiosos ou deprimidos. Os trabalhos
envolveram, ao todo, 3.675 participantes.
Uma das intervenções
mais recomendadas é um exercício chamado “Três coisas boas”: a pessoa deve
eleger, toda noite, três fatos positivos que ocorreram naquele dia e refletir
ou escrever sobre eles. Outra atividade sugerida é escrever uma carta de
agradecimento para alguém e ler o texto em voz alta para essa pessoa. Em muitos
experimentos, as práticas foram comparadas a atividades neutras, como, por
exemplo, pedir a estudantes de faculdade para descrever o que foi feito em sala
de aula.
De acordo com os
resultados, publicados no Journal of Happiness Studies, as
intervenções de gratidão não apresentaram efeito muito superior às atividades
neutras. Como a diferença foi pequena, os pesquisadores concluíram que a
prática não deve ser substituída por tratamentos com eficácia bem estabelecida,
como a terapia cognitivo-comportamental.
Os autores do estudo
não querem, com isso, diminuir o valor da gratidão. Alguns trabalhos inclusive
mostraram que as práticas são úteis para melhorar relacionamentos. Além disso,
há evidências de que indivíduos que possuem uma tendência natural à gratidão
tendem a ter menor propensão a problemas de saúde mental.
O que os pesquisadores
são contra é a ideia de que a prática pode curar um transtorno já instalado –
vale lembrar que doenças mentais têm causa multifatorial. Dizer a alguém que
está com ansiedade ou depressão que essa pessoa deveria agradecer por tudo de
bom que ela tem não ajuda muito. Eu acrescentaria que, em alguns casos, esse
discurso pode até gerar culpa e tristeza. Se você quer ajudar um amigo ou
parente nessa situação, o melhor é ouvir sem julgamentos, mostrar-se presente e
oferecer ajuda prática, como levar ao médico ou psicólogo.
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