FONTE: , Evelin Azevedo, https://extra.globo.com/
O filme “Meu pai”, que no domingo conquistou dois prêmios no Oscar, reforça o debate sobre o mal de Alzheimer ao narrar o relacionamento de uma filha com seu pai, que está envelhecendo. Na trama, o personagem — que tem o mesmo nome e idade do ator que o interpreta, Anthony Hopkins, de 83 anos, — apresenta uma série de sintomas característicos da doença. Especialistas esperam que o filme ajude as pessoas a se informarem sobre o problema.
— Apesar de falarmos bastante sobre o Alzheimer, muitas pessoas sentem dificuldade de compreendê-lo. Quando surgem filmes com essa temática, isso ajuda a pessoa entender melhor o que falamos, o caminho que a doença percorre, as suas características e, principalmente, as formas de lidar com este processo, que sabemos que não é simples, mas é absolutamente necessário conhecer para lidar com a situação da melhor forma possível — afirma a geriatra e psiquiatra Roberta França.
O Alzheimer é um tipo de demência. A doença é causada pela morte de neurônios, como explica o psiquiatra Ricardo Patitucci, diretor clínico da Casa de Saúde Saint Roman:
— Há uma morte neuronal por oxidação dos neurônios. Eles são oxidados, forma-se uma proteína em volta deles depois, e os neurônios passam a ser destruídos pelo próprio organismo, porque esta proteína começa a se replicar e deixa o neurônio disfuncional.
Muitas vezes, a família demora a perceber que há algo diferente acontecendo com o idoso e por isso, demora a buscar ajuda profissional. Segundo Patitucci, em vários casos o filho acha que o pai ou mãe está sendo rebelde ou querendo bagunçar a rotina da família de propósito, quando, na verdade, este comportamento é consequência da doença, que exacerba alguns traços da personalidade.
— A partir do momento em que a família sabe que é uma doença, isso muda completamente o olhar e ameniza um pouco os impactos do comportamento da pessoa nos parentes — diz Patitucci.
Antes de se fechar o diagnóstico do Alzheimer é preciso eliminar a chance de ser outra doença com sintomas semelhantes (veja os sinais abaixo e como ajudar). No entanto, assim que a família observar alguma alteração de comportamento, é preciso buscar ajuda profissional.
— Normalmente, a família coloca tudo na conta da velhice, como se envelhecer fosse uma patologia, como se os sintomas fizessem parte da normalidade, e não fazem. A família costuma só se preocupar quando algo maior acontece, como quando ele se perde na rua ou diz que está em um lugar e não sabe voltar — alerta França.
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, que vai prejudicando o funcionamento cerebral com o passar do tempo. Apesar de não ter cura, há tratamentos que ajudam a retardar seu avanço, dando mais qualidade de vida ao paciente.
Organização ajuda na hora dos cuidados.
Na avaliação da geriatra Margarete Henriques, quando o Alzheimer é diagnosticado em uma pessoa, toda a família tem que se engajar no cuidado. A médica recomenda que uma reunião familiar seja convocada para decidir questões como quem ficará responsável por acompanhar o idoso no médico, comprar os remédios e a levá-los a eventos sociais quando a pandemia acabar. O ideal é que estas tarefas sejam divididas, para ninguém ficar sobrecarregado.
— Quando o Alzheimer está levando embora um ente querido, não deixe que leve também o familiar cuidador junto. Apoie sua família com atitudes, ações, razão e coração. Apesar de ser uma doença desgastante, os membros da família que se ajudam têm a oportunidade de cuidar da pessoa amada, de passar mais tempo com eles e curtir a vida em família — finaliza a médica.
Sinais de alerta.
Perda de memória recente.
Este é o sintoma clássico do Alzheimer. As pessoas acometidas por este tipo de demência sentem dificuldade de lembrar de coisas que aconteceram recentemente, como o que comeu no almoço. Um dos sinais é a pessoa dizer que está sendo roubada, mas, na verdade, ela guardou aquilo em um lugar diferente do comum e esqueceu onde está.
Falta de localização.
A pessoa pode se perder ao sair de casa mesmo passando por ruas pelas quais costuma passar com frequência. Mas logo depois recupera-se a memória e consegue voltar para casa ou entrar em contato com algum conhecido.
Dificuldade de executar tarefas corriqueiras.
Outro sinal de alerta é a dificuldade de fazer aquilo que a pessoa tem muita prática. Aqui vão alguns exemplos: a pessoa cozinhava muito bem e passou a errar no tempero ou a deixar a comida queimar;
Prejuízo de pragmatismo.
A pessoa passa a apresentar dificuldade em fazer as tarefas na sequência correta, como por exemplo, abotoa a blusa na ordem errada ou coloca o botão ao contrário.
Desinteresse pela rotina.
Outro sintoma é quando a pessoa passa a não querer fazer mais algo que ela sempre gostou de fazer, como assistir TV, ler jornal, acompanhar o time do coração. Ela demonstra desinteresse por algo que tinha muito apreço.
Dificuldade de aprendizado.
As pessoas com Alzheimer sentem muita dificuldade de aprender coisas novas, pois sua memória recente é perdida com facilidade. Você ensina algo simples, como usar o controle da TV e logo depois elas esquecem.
Irritabilidade.
Um dos sintomas do Alzheimer é o impacto sobre o humor da pessoa: ela se irrita com facilidade, principalmente quando percebe que está com dificuldade de fazer algo.
Como a família pode ajudar.
Procurar ajuda profissional.
É importante procurar por um psiquiatra, neurologista ou geriatra para avaliar a saúde da pessoa e buscar o diagnóstico correto, pois estes sintomas listados podem ser sinais de outras doenças também.
Estabelecer uma casa.
O ideal é que a pessoa com Alzheimer more sempre na mesma casa, de preferência a dela. Deixar o idoso morando cada semana na casa de um filho pode causar dificuldade de adaptação.
Manter uma rotina.
É preciso também estabelecer e seguir uma rotina. Isto ajuda a pessoa com Alzheimer a se localizar no tempo e no espaço.
Deixar as coisas no lugar.
É bom também sempre guardar as coisas no mesmo lugar de sempre, pois isto dá mais autonomia para a pessoa com Alzheimer poder pegar o que quiser sem ter que ficar pedindo ou perguntando onde está.
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