terça-feira, 27 de abril de 2021

FILHOS DEVEM APRENDER A LIDAR COM O ALZHEIMER PARA QUE PAIS TENHAM MAIS DIAS DE FELICIDADE...

FONTE: , Evelin Azevedo, https://extra.globo.com/


O filme “Meu pai”, que no domingo conquistou dois prêmios no Oscar, reforça o debate sobre o mal de Alzheimer ao narrar o relacionamento de uma filha com seu pai, que está envelhecendo. Na trama, o personagem — que tem o mesmo nome e idade do ator que o interpreta, Anthony Hopkins, de 83 anos, — apresenta uma série de sintomas característicos da doença. Especialistas esperam que o filme ajude as pessoas a se informarem sobre o problema.

— Apesar de falarmos bastante sobre o Alzheimer, muitas pessoas sentem dificuldade de compreendê-lo. Quando surgem filmes com essa temática, isso ajuda a pessoa entender melhor o que falamos, o caminho que a doença percorre, as suas características e, principalmente, as formas de lidar com este processo, que sabemos que não é simples, mas é absolutamente necessário conhecer para lidar com a situação da melhor forma possível — afirma a geriatra e psiquiatra Roberta França.

O Alzheimer é um tipo de demência. A doença é causada pela morte de neurônios, como explica o psiquiatra Ricardo Patitucci, diretor clínico da Casa de Saúde Saint Roman:

— Há uma morte neuronal por oxidação dos neurônios. Eles são oxidados, forma-se uma proteína em volta deles depois, e os neurônios passam a ser destruídos pelo próprio organismo, porque esta proteína começa a se replicar e deixa o neurônio disfuncional.

Muitas vezes, a família demora a perceber que há algo diferente acontecendo com o idoso e por isso, demora a buscar ajuda profissional. Segundo Patitucci, em vários casos o filho acha que o pai ou mãe está sendo rebelde ou querendo bagunçar a rotina da família de propósito, quando, na verdade, este comportamento é consequência da doença, que exacerba alguns traços da personalidade.

— A partir do momento em que a família sabe que é uma doença, isso muda completamente o olhar e ameniza um pouco os impactos do comportamento da pessoa nos parentes — diz Patitucci.

Antes de se fechar o diagnóstico do Alzheimer é preciso eliminar a chance de ser outra doença com sintomas semelhantes (veja os sinais abaixo e como ajudar). No entanto, assim que a família observar alguma alteração de comportamento, é preciso buscar ajuda profissional.

— Normalmente, a família coloca tudo na conta da velhice, como se envelhecer fosse uma patologia, como se os sintomas fizessem parte da normalidade, e não fazem. A família costuma só se preocupar quando algo maior acontece, como quando ele se perde na rua ou diz que está em um lugar e não sabe voltar — alerta França.

O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, que vai prejudicando o funcionamento cerebral com o passar do tempo. Apesar de não ter cura, há tratamentos que ajudam a retardar seu avanço, dando mais qualidade de vida ao paciente.

Organização ajuda na hora dos cuidados.

Na avaliação da geriatra Margarete Henriques, quando o Alzheimer é diagnosticado em uma pessoa, toda a família tem que se engajar no cuidado. A médica recomenda que uma reunião familiar seja convocada para decidir questões como quem ficará responsável por acompanhar o idoso no médico, comprar os remédios e a levá-los a eventos sociais quando a pandemia acabar. O ideal é que estas tarefas sejam divididas, para ninguém ficar sobrecarregado.

— Quando o Alzheimer está levando embora um ente querido, não deixe que leve também o familiar cuidador junto. Apoie sua família com atitudes, ações, razão e coração. Apesar de ser uma doença desgastante, os membros da família que se ajudam têm a oportunidade de cuidar da pessoa amada, de passar mais tempo com eles e curtir a vida em família — finaliza a médica.

Sinais de alerta.

Perda de memória recente.

Este é o sintoma clássico do Alzheimer. As pessoas acometidas por este tipo de demência sentem dificuldade de lembrar de coisas que aconteceram recentemente, como o que comeu no almoço. Um dos sinais é a pessoa dizer que está sendo roubada, mas, na verdade, ela guardou aquilo em um lugar diferente do comum e esqueceu onde está.

Falta de localização.

A pessoa pode se perder ao sair de casa mesmo passando por ruas pelas quais costuma passar com frequência. Mas logo depois recupera-se a memória e consegue voltar para casa ou entrar em contato com algum conhecido.

Dificuldade de executar tarefas corriqueiras.

Outro sinal de alerta é a dificuldade de fazer aquilo que a pessoa tem muita prática. Aqui vão alguns exemplos: a pessoa cozinhava muito bem e passou a errar no tempero ou a deixar a comida queimar;

Prejuízo de pragmatismo.

A pessoa passa a apresentar dificuldade em fazer as tarefas na sequência correta, como por exemplo, abotoa a blusa na ordem errada ou coloca o botão ao contrário.

Desinteresse pela rotina.

Outro sintoma é quando a pessoa passa a não querer fazer mais algo que ela sempre gostou de fazer, como assistir TV, ler jornal, acompanhar o time do coração. Ela demonstra desinteresse por algo que tinha muito apreço.

Dificuldade de aprendizado.

As pessoas com Alzheimer sentem muita dificuldade de aprender coisas novas, pois sua memória recente é perdida com facilidade. Você ensina algo simples, como usar o controle da TV e logo depois elas esquecem.

Irritabilidade.

Um dos sintomas do Alzheimer é o impacto sobre o humor da pessoa: ela se irrita com facilidade, principalmente quando percebe que está com dificuldade de fazer algo.

Como a família pode ajudar.

Procurar ajuda profissional.

É importante procurar por um psiquiatra, neurologista ou geriatra para avaliar a saúde da pessoa e buscar o diagnóstico correto, pois estes sintomas listados podem ser sinais de outras doenças também.

Estabelecer uma casa.

O ideal é que a pessoa com Alzheimer more sempre na mesma casa, de preferência a dela. Deixar o idoso morando cada semana na casa de um filho pode causar dificuldade de adaptação.

Manter uma rotina.

É preciso também estabelecer e seguir uma rotina. Isto ajuda a pessoa com Alzheimer a se localizar no tempo e no espaço.

Deixar as coisas no lugar.

É bom também sempre guardar as coisas no mesmo lugar de sempre, pois isto dá mais autonomia para a pessoa com Alzheimer poder pegar o que quiser sem ter que ficar pedindo ou perguntando onde está.

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