FONTE: ***, Chloé Pinheiro, https://www.msn.com/
Eis
o caminho para que o organismo decifre os cheiros, do nariz ao cérebro:
1. Porta de entrada.
O
odor (bom ou ruim) é uma informação carregada por várias partículas, que ficam
suspensas no ar até serem aspiradas pelo nariz. Lá, são retidas pelo epitélio, a camada de revestimento,
e viajam até a parte superior da cavidade, que possui terminações nervosas com
receptores para essas moléculas. O ser humano tem 400 tipos de receptores.
Cachorros o dobro, e camundongos o triplo.
2. Transmissão de mensagens.
As
terminações são o início do bulbo olfatório, estrutura responsável por conduzir
informações do nariz para o cérebro. Funciona assim: cada partícula de odor tem
um formato específico. Quando elas se encaixam nos receptores, que são uma
espécie de papila gustativa do olfato, geram impulsos elétricos que viajam pelo
nervo olfatório até o cérebro, onde
serão distinguidos.
3. Central de tradução.
Os
estímulos elétricos são recebidos pelo córtex olfatório e, de lá, são
processados por diversas áreas. Tantas que a ciência ainda está mapeando essa
rede. Mas se sabe que o hipotálamo e o lobo temporal, regiões da memória, e o sistema límbico, que gerencia emoções, leem as
mensagens. É por isso que o cheiro desperta lembranças afetivas e alertas tão
potentes.
4. Problemas em outros
departamentos.
As
papilas gustativas da língua são bem limitadas. A maioria das características
tão peculiares do gosto de um alimento vem do olfato. Quando o perdemos, até
95% do paladar pode ir embora junto.
Boi na linha.
Obstáculos
podem surgir das narinas até o fundo do cérebro. A barreira mais comum é
a mecânica, em que desvio de septo, presença de pólipos
(a famosa carne esponjosa) e crises de rinite ou
acúmulo de catarro bloqueiam a passagem do odor. E é comum que traumas causados
por acidentes lesionem os nervos, que são bem delicados. Mais raramente,
tumores no bulbo olfatório ou em outras regiões prejudicam o olfato.
Outro
problema são as inflamações que podem atingir o nervo ou suas células de
suporte, que ficam ao redor. Se o desajuste for nas células, mais fácil a
recuperação. É o que acontece, por exemplo, na Covid-19.
A perda de olfato da Covid-19.
A
anosmia (nome técnico da perda total) ocorre em até 90% dos infectados, segundo
estudos da Universidade de São Paulo (USP). Em cerca de 45% dos casos, a
deficiência ocorre por causa da inflamação, e tende a se resolver em semanas.
Para
outros 43% são meses até o olfato voltar, devido a lesões nas células
auxiliares, ao redor do nervo. Por fim, algo entre 1 e 2% das pessoas
apresentam uma lesão no nervo em si, quadro mais grave e nem sempre reversível.
A
perda do olfato pelo coronavírus pode ser revertida. Uma das principais
maneiras é por meio do treinamento olfativo. Kits com cheiros específicos, como
rosas, café e outros, estimulam a reabilitação das células nervosas. É como se
fosse uma fisioterapia mesmo.
Em
alguns casos de Covid-19, quando a inflamação é o problema, os otorrinos podem
prescrever corticoides para
impedir lesões nos nervos. É possível ainda que haja uma causa subjacente (e
corrigível) para o dano, como as barreiras mecânicas que mencionamos. Quanto
menos tempo o nervo ficar sem estímulo, mais provável sua recuperação.
Da cabeça ao nariz.
Pessoas
com Alzheimer ou Parkinson costumam
sofrer alterações na percepção de cheiros — estudos falam que até 80% dos
portadores de Parkinson apresentam algum grau de perda do olfato. Tanto é que
hoje se estuda a possibilidade de essas manifestações funcionarem como
marcadores para identificar precocemente o surgimento dessas doenças.
*** Fontes: Fernando Gomes, neurocirurgião e professor da Universidade de São Paulo (USP); Richard Voegels, otorrinolaringologista e professor da USP; Gilberto Ulson Pizarro, otorrinolaringologista do Hospital Paulista; João Camurça, otorrinolaringologista do Hospital Cema (SP).
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