quarta-feira, 2 de setembro de 2009

GREVE DE COVEIROS LEVA FILHO A CAVAR SEPULTURA DA MÃE EM PERIPERI...

FONTE: *** Bruno Wendell (CORREIO DA BAHIA).

Como se não bastasse a morte da mãe - a pensionista Maria José Oliveira dos Santos, 63 anos -, o pedreiro Joserval Oliveira Santos, 36, foi ao extremo para ter o direito de sepultá- la no cemitério municipal de Periperi. Na manhã de terça-feira (1º), sua indignação superou a dor da perda e o fez arregaçar as mangas: ajudou a escavar a cova onde sua mãe, falecida no domingo, seria sepultada. Enquanto revezava a escavação com o encarregado do cemitério, coveiros empregados da Alternativa - em greve desde a segunda-feira - assistiam à cena de braços cruzados.
Maria José morreu por volta das 10h30 de domingo no Hospital Irmã Dulce devido a uma infecção generalizada. Na segunda-feira, a família conseguiu comprar o caixão, mas o corpo ainda permaneceu no hospital por causa da greve. “Desde as 10h de segunda que a gente ligava para os cemitérios, mas os sepultamentos estavam suspensos porque não tinha coveiro trabalhando”, contou.
Diante do desespero, ele recorreu a preposto da Secretaria Municipal de Serviços Públicos e Prevenção à Violência (Sesp) de prenome Janete, que lhe garantiu o sepultamento da pensionista às 10h de terça. Mas, ao chegar ao cemitério, foi avisado pelo encarregado do local (funcionário da prefeitura) de que não havia quem realizasse a escavação. “Uma falta de respeito”, disse o pedreiro segurando uma coroa de flores.
Revoltado, ele e amigos transportaram o caixão até a ala do velório. A atitude fez com que o servidor público, por conta própria, desse início à escavação. Na ocasião, ele chegou a solicitar ajuda a um dos coveiros que estava próximo. “Eu quero trabalhar, mas eles não querem”, respondeu o empregado da Alternativa.
Revoltado diante de toda a situação, Joserval pegou uma picareta e começou também a retirar a terra. “Quero que minha mãe seja enterrada logo. Chega de sofrimento”, desabafou. Foram quase 40 minutos escavando até a chegada de Janete com um outro funcionário da prefeitura, que concluiu o serviço por volta das 13h30.
Um alívio para os familiares. Mas o drama do pedreiro não foi o único. A doméstica Ana Paula Alcântara dos Santos, 29, foi ao cemitério na tentativa de sepultar, na terça (1º) pela manhã, o irmão Pedro Alcântara, 28, assassinado a tiros no domingo em Paripe. Depois de tanta insistência, o rapaz foi enterrado às 16h de ontem.
A Secretaria Municipal da Comunicação (Secom) informou que a prefeitura depositou R$ 32 mil na conta da Alternativa referente à fatura de agosto e que, com isso, acredita solucionar o problema dos salários atrasados. No entanto, coveiros reclamam que estão há dois meses sem receber dinheiro. A reportagem tentou por telefone falar com funcionários da Alternativa, mas não teve sucesso.

***
Notícia publicada na edição impressa do dia 02/09/2009 do CORREIO.

Nenhum comentário:

Postar um comentário