terça-feira, 30 de março de 2010

SEM CARTAS NA MANGA...

FONTE: Nelson Rocha, TRIBUNA DA BAHIA.

O homem mais importante do Brasil é o carteiro, ao menos para a dona de casa Raimunda Pereira, 46. Isto porque o filho dela, Ailton Luiz, de 20 anos, participa de um intercâmbio cultural nos Estados Unidos e, como ela ainda não é adepta da comunicação via internet, sempre aguarda com ansiedade as cartas que o jovem costuma enviar com os inconfundíveis selos da América do Norte. Entretanto, quando ocorre atraso na entrega da correspondência, ela entra em desespero e só relaxa depois que fala com o rapaz ao telefone.
“É desesperador aguardar uma carta que nunca chega. Como ainda não sei lidar com o computador - acho que um dia ainda vou aprender-, fico o tempo todo esperando o carteiro passar pra saber se tem carta. Pra mim, ele é o homem mais importante do país, pois é o único que me traz notícias do meu filho”, diz, sorrindo. Apesar dos avanços da tecnologia da informação, muita gente, a exemplo de dona Raimunda, ainda conta e confia nos funcionários dos Correios para receber notícias, ou qualquer outro tipo de correspondência que venha de longe.
“A Tribuna da Bahia publicou uma reportagem há mais de 20 anos, na qual a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros e os Correios, eram as instituições de maior credibilidade. Na época não existia Sedex, o carteiro era amigo de todo mundo na rua e as pessoas sabiam que horas ele passava. Havia agilidade e responsabilidade.
Hoje, as correspondências atrasam, se tiver um cartão de banco no envelope é capaz dele vir aberto, e o e-mail fez com que a carta ficasse em segundo plano. Eu ainda sou do tempo de carta escrita à mão, que mostra a letra da pessoa o que, de certa forma, revela a personalidade de quem a escreveu e tem o seu lado romântico. Mas isso a garotada de hoje não conhece”, comenta o jornalista Gutemberg Cruz, que mensalmente recebe duas cartas da amiga socióloga Sonia Martins, que mora em São Paulo, e sempre quer ter notícias de Salvador, onde já residiu.
O empresário André Gonçalves, 59, se corresponde constantemente com os seus fornecedores através de comunicados escritos numa quase aposentada máquina de datilografia. “Eu já estou acostumado com ela. Só não me acostumo é com os atrasos das correspondências. Às vezes deixo de pagar minhas contas em dia porque o Correio entrega a correspondência até dois, três dias depois do prazo, o que representa um prejuízo.
Quem cobra não quer saber por que você está atrasado no pagamento e quer receber os juros diários, isto quando não aceita a quitação da dívida em banco depois da data. O pior que este tipo de situação sempre se repete quando o carteiro não traz os boletos no tempo previsto”, revelou.
A funcionária pública Helena Seixas, 47, aproveitou um período de férias para fazer um giro de 15 dias pela Europa. De Roma, enviou um postal para a família, mas este não chegou até hoje. “Há duas semanas que eu voltei e nada de o postal chegar. Acho que o problema é com a distribuição das correspondências no Brasil. Algumas contas que eu tenho a pagar, e que dependem dos correios, também geralmente ficam para depois das datas previstas por que nunca chegam quando deveriam. E o pior é que a gente não sabe para quem reclamar”, salientou. Consultada sobre o motivo dos atrasos de correspondências, a diretoria regional da Bahia dos Correios informou, através de sua assessoria de comunicação, que “não vem registrando, nos últimos meses, alterações operacionais significativas em relação a atraso de correspondências em âmbito estadual. Ressaltamos que os Correios trabalham com rigorosos padrões de qualidade em todos os serviços prestados pela empresa.
Por isso, o índice de eficiência geral das operações - indicador que mede os resultados da organização no cumprimento de prazos de entregas de objetos postais - situa-se em torno de 98%, segundo último levantamento interno. Só na Bahia, uma média de um milhão de objetos é entregues diariamente, a maioria absoluta dentro do tempo determinado. Isso explica a confiança histórica que a população deposita nos Correios, contribuindo para o fortalecimento do seu papel de empresa pública eficiente e indispensável”.

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