FONTE: Estadão Conteúdo, CORREIO DA BAHIA.
Em relação às chuvas, há uma previsão de diminuição de até 50% no inverno no Nordeste e aumento de até 35% no Rio Grande do Sul.
A alternância de dias muito quentes e muito frios que o País viveu neste inverno, se olhada individualmente, pode ser explicada pela variação normal do clima. Mas se observada dentro de uma sequência de oscilações de eventos extremos ao longo dos últimos anos pode ser interpretada como mais um sinal de que as mudanças climáticas já estão acontecendo.
Essa é uma das conclusões que podem ser tiradas do
primeiro relatório de avaliação nacional que o Painel Brasileiro de Mudanças
Climáticas (PBMC) divulga hoje em São Paulo. O trabalho é resultado do esforço de 345 pesquisadores, das mais
diferentes áreas, que avaliaram estudos feitos desde 2007 sobre os impactos do
aquecimento global no Brasil.
“Oscilações de
extremos são coincidentes com as mudanças climáticas. Com o aquecimento da
atmosfera, ela fica mais instável, o que cria uma variabilidade de extremos. Do
muito quente para o muito frio. Do muito úmido para o muito seco”, explica o
meteorologista Tercio Ambrizzi, da USP, coordenador do grupo de trabalho 1 do painel.
Ao analisar o
histórico de ocorrência desses eventos, os pesquisadores observaram que, nos
últimos 30 anos, tem aumentando a frequência de chuvas fortes (com mais de 60
milímetros de água) no inverno do Sul e do Sudeste, onde a estação é seca. “Isso
não ocorria antes dos anos 70, por exemplo. Se fosse uma ou outra chuva só,
poderia ser uma simples variação, mas o aumento desses eventos nos diz que algo
está diferente. É uma resposta local às mudanças globais”, afirma.
O mesmo vale,
diz ele, para as duas secas históricas experimentadas pela Amazônia em 2005 e
2010. Esse olhar sobre o passado, somado aos trabalhos com modelagens
climáticas, ajuda a entender o que as projeções têm indicado para as próximas
décadas.
O relatório
mostra uma elevação de temperatura de 2,5°C a 5°C nos meses de verão, e de 3°C
a 6°C no inverno, até o final do século. A variação depende do bioma analisado.
Em relação às chuvas, há uma previsão de diminuição de até 50% no inverno no
Nordeste e aumento de até 35% no Rio Grande do Sul. “O que as projeções mostram
coincide com o que já estamos sentindo”, comenta Ambrizzi. Em geral, o
relatório aponta para o aumento de períodos de seca prolongada e de chuva
forte, assim como a ocorrência de fenômenos naturais com forte poder de destruição.
Consequências.
Além da base científica das mudanças climáticas, o trabalho analisa também os impactos que elas terão nos diversos setores da economia, as principais vulnerabilidades do País e também sobre como ele está se adaptando ao que está por vir. Esses são os temas do grupo de trabalho 2.
Além da base científica das mudanças climáticas, o trabalho analisa também os impactos que elas terão nos diversos setores da economia, as principais vulnerabilidades do País e também sobre como ele está se adaptando ao que está por vir. Esses são os temas do grupo de trabalho 2.
Há ainda um
terceiro, que aborda como o Brasil está mitigando suas emissões de gases de
efeito estufa. De acordo com o engenheiro agrícola Eduardo Assad, da Embrapa,
os estudos mostram uma tendência de que a mudança do clima afete a oferta
hídrica. Rios do leste do Amazonas e do Nordeste do Brasil podem sofrer uma
redução de vazão de 20%.
Os da bacia do
Tocantins, de até 30%. Já os da bacia do Prata, na região Sul, poderão ter
aumento de 10% a 40%. “Isso pode trazer problemas para a oferta energética na
Amazônia, justamente onde estão concentrados os esforços do governo para a
construção de hidrelétricas”, diz Assad. Outro impacto poderá ser observado
sobre os ecossistemas oceânicos.
Segundo Assad,
nos próximos 40 anos eles poderão sofrer uma redução de 6% do potencial máximo
de pesca. “O que percebemos nesse levantamento, porém, é que há várias lacunas
científicas. E uma delas é justamente sobre essa região, onde vive a maior
parte da população do Brasil e muitas pessoas dependem desses recursos.”
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