FONTE: Maria Fernanda Ziegler - iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
A polêmica em relação aos riscos
do colesterol no sangue tem gerado debate entre médicos. De um lado, a Sociedade Brasileira de Cardiologia decidiu,
recentemente, tratar a doença com mais rigor, baixando de 100 para 70 o total
aceitável de miligramas de LDL (o chamado colesterol ruim) por decilitro de
sangue para pacientes com alto risco de doenças cardiovasculares.
Por outro lado, numa atitude
completamente oposta, há médicos que questionam a necessidade de se preocupar
com o índice, o que realmente seria uma dieta saudável para o coração e até mesmo efeitos colaterais das
estatinas, remédio usado para reduzir o índice de colesterol ruim.
A querela começou
quando a associação americana publicou novas diretrizes que indicavam a necessidade de
reduzir em 50% o LDL de pacientes de risco. A preocupação se dá, pois de acordo
com as associações, o colesterol é uma gordura (tese lipídica) que quando
acumulada ocasiona a doença cardiovascular.
"Por isso, ninguém pode desestimular
o uso de remédios para pacientes de risco”, afirma Hermes Xavier,
presidente do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de
Cardiologia e autor da nova diretriz.
Não é o que pensa o clínico geral
Eduardo Almeida, PhD em Saúde Coletiva
pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Para
ele, o colesterol é uma fraude. “O colesterol não é uma gordura, é um esterol
(álcool), com estrutura semelhante a de um hormônio, e está na membrana
celular, está na carne e não na gordura. Criou-se uma falsa ciência para a
venda de alimentos e posteriormente a venda de remédios”, diz.
Não sendo gordura, explica, não
cria placas e, consequentemente, não entope as artérias. "O colesterol não
é um caso e saúde, é uma campanha de marketing", diz ele em referência à indústria alimentar - que
criou produtos como a margarina, de gordura vegetal - e a farmacêutica,
responsável pelas estatinas, o remédio de controle do colesterol.
Almeida afirma, ainda, que as estatinas bloqueiam
a enzima hepática, inibindo o colesterol, mas também bloqueia outras enzimas
como o doricol, responsável pela replicação do DNA e a coenzima Q-10, que faz parte da mitocôndria e estaria
ligada a produção de energia. "A pessoa começa a ter dores musculares e
aumenta a chance de ter insuficiência do miocardio. O remédio ocasiona danos ao fígado, parkinson,
aceleração de doenças neurodegenerativas", disse.
Sem risco.
O cardiologista Raul Dias dos
Santos Filho, diretor da Unidade Clínica de Lípides do Instituto do Coração do
Hospital das Clínicas, em São Paulo, defende que não existe nenhum estudo que
comprove relação entre as estatinas com o mal de Parkinson ou doenças
neurodegenerativas. “Há estudos realizados com idosos que não mostraram esta
relação. Sobre as dores musculares, isto acontece em apenas 10% dos pacientes”, disse.
Para ele, não faltam evidencias de que há
relação entre o alto colesterol e as doenças coronarianas. "Se alguém fala
que colesterol alto não é fator de risco, está desinformado", diz,
enfático. "O que ocorre são pessoas de outras especialidades querendo
interferir na questão do colesterol", alfineta Hermes Xavier.
Para os defensores das estatinas,
dois grandes estudos, um feito pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, e outro da Associação Americana
de Cardiologia (AHA) indicam a necessidade de baixar o índice considerado bom do colesterol ruim. O
estudo britânico analisou mais de 270 mil pacientes e comparou LDL com doença
cardíaca. O americano mostrou que o uso de estatinas resultou em 44% menos
mortes por causas cardiovasculares.
Consenso.
Mas, se os médicos discordam em muitos
pontos, muitos deles “elementares” sobre o colesterol, em uma coisa eles
concordam: os fatores de risco. Maus hábitos como tabagismo e vida sedentária
devem ser combatidos para evitar novos casos de doenças coronarianas.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde
(OMS), a inatividade física é o quarto principal fator de risco para a
mortalidade global, estimando-se que cause 3,2 milhões de mortes anualmente em
todo o mundo.
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