FONTE: MARCOS DÁVILA, da Folha de S. Paulo.
Pressa e prazer
dificilmente dividem o mesmo lençol. Que o digam os 30% de homens do mundo
inteiro que sofrem de ejaculação precoce. De olho neles, a indústria
farmacêutica acena com mais uma pílula mágica: a dapoxetina, que está em fase
final de avaliação pela FDA (agência que regula drogas e fármacos nos EUA). Se
aprovada, essa nova droga, que é um antidepressivo de efeito de curto prazo
(pode ser usado três horas antes da relação) poderá se transformar num
blockbuster comparável ao Viagra -já que ainda não existe nenhum medicamento
exclusivo para a ejaculação precoce.
"A ejaculação precoce é um problema de saúde pública", afirma a
psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Estudo da Vida Sexual do Brasileiro,
realizado no ano passado pelo Projeto Sexualidade (ProSex), da USP. Na
pesquisa, 25,8% dos brasileiros admitiram sofrer de ejaculação precoce.
"Isso acaba com a auto-estima do homem e pode se transformar num problema
de ereção".
A seguir, o Equilíbrio responde 25 questões depois de consultar
urologistas, psicoterapeutas, ginecologistas e sexólogos.
1 -
O que é ejaculação precoce?
É
quando o homem chega ao ápice da relação --antes, durante ou logo após a
penetração-- com o mínimo de estímulo sexual e sem ter desejado. Esse
descontrole deve ser persistente, repetitivo e causar sofrimento acentuado ou
dificuldade interpessoal. A disfunção sexual é descrita dessa forma no DSM 4, o
manual de diagnósticos da Associação Psiquiátrica Americana.
2 -
É possível estabelecer um tempo mínimo para atingir o orgasmo?
A
sigla IELT (intravaginal ejaculation latency time) --que significa o tempo de
permanência do pênis dentro na vagina, desde a entrada até a liberação do
sêmen-- aparece em muitas pesquisas sobre o tema. Um estudo publicado em julho
deste ano no "Journal of Sexual Medicine" chegou a um IELT médio de
5,4 minutos, depois de avaliar durante um mês a vida sexual de 500 casais de
cinco países. Outros pesquisadores afirmam que ejacular antes de um minuto após
a penetração é o que caracteriza uma ejaculação precoce. Mas em 1,5 minuto a
disfunção seria somente "provável".
Após diversos estudos feitos nos anos 60 em um laboratório em San Francisco, no
auge da revolução sexual, a dupla de pesquisadores norte-americanos Willian
Masters e Virgínia Johnson, pioneiros da terapia sexual, chegou à conclusão que
o ejaculador rápido é o homem que não consegue se controlar por um tempo
suficiente para satisfazer sua companheira em pelo menos 50% dos atos sexuais.
Se a parceira persistentemente não chega ao orgasmo por outras razões, que não
a rapidez do processo, o conceito deixa de ser válido. Alguns anos depois, esse
percentual foi elevado para 80%. "A contribuição de Masters e Johnson, em
relação às teses do cronômetro, é justamente valorizar o potencial e o prazer da
mulher. Porém, o tempo que a mulher leva para atingir orgasmo é muito variável.
Até por razões de repressão cultural, a resposta sexual feminina foi sempre
mais demorada: por volta de 10 a 15 minutos, segundo inúmeras pesquisas",
afirma o urologista Moacir Costa no livro "Quando o Sexo É Mais Rápido que
o Prazer" (ed. Prestígio, 152 págs., R$ 24,90), lançado nesta semana
durante o 30º Congresso Brasileiro de Urologia, em Brasília.
3 -
Existe diferença entre ejaculação rápida e precoce?
Não.
São duas definições para o mesmo problema. Em 2002, um consenso internacional
de disfunções sexuais realizado pela Issir (Sociedade Internacional para o
Estudo da Sexualidade e da Impotência), em Paris, mudou a definição de
"precoce" para "rápida". A psiquiatra Carmita Abdo, que
participou do consenso, afirma que a mudança serviu para deixar a classificação
mais objetiva na língua inglesa. "Em português, o termo precoce continua
sendo mais apropriado", diz a psiquiatra.
4 -
A mulher pode colaborar com o tratamento?
Claro.
A intimidade só ajuda nessas horas. Uma mulher compreensiva e disposta a ajudar
é fundamental no sucesso do tratamento. Se o ato sexual for encarado mais como
uma troca de afeto e menos como uma corrida pelo orgasmo, as chances de
melhorar o prazer aumentam. Mulheres competitivas e dominadoras, no entanto,
tendem a agravar a situação.
5 -
Existe cura para essa disfunção sexual?
Sim.
Atualmente, o problema é tratado com psicoterapia, com farmacoterapia ou com
uma combinação das duas. Há dois tipos de ejaculador precoce: o primário, que
apresenta a disfunção desde o início da vida sexual, e o secundário, aquele que
adquiriu o problema depois de ter tido relações satisfatórias por alguns anos.
O tratamento medicamentoso nos casos secundários geralmente é mais eficiente
que nos primários. Mas os especialistas afirmam que a combinação entre as duas
terapias costuma ter mais sucesso.
6 -
É possível tratar a ejaculação precoce com antidepressivos?
Antidepressivos
em baixas doses são muito utilizados para tratar esse tipo de disfunção.
Segundo o urologista Abraham Morgentaler, a idéia original dessa indicação
surgiu depois de analisar um efeito adverso bem conhecido dos antidepressivos:
retardar o orgasmo. "Alguém inteligente teve a boa idéia de usar isso para
quem tinha orgasmo rápido demais", afirma Morgentaler. Atualmente, são
utilizados principalmente os antidepressivos do tipo ISRS (inibidores seletivos
de recaptação de serotonina), que apresentam menos efeitos adversos. Segundo a
psiquiatra Carmita Abdo, os antidepressivos baixam a ansiedade, condensam as
secreções e diminuem excitabilidade. É recomendado o uso combinado com a
psicoterapia. O medicamento também contribui para que o paciente crie um
vínculo maior com a terapia.
7 -
Tomar remédios contra disfunção erétil, como Viagra, tem algum efeito?
Alguns
médicos recorrem a esse tipo de medicação como parte do tratamento,
principalmente nos chamados pacientes secundários --que passaram a gozar rápido
depois de terem experimentado uma vida sexual estável. O mecanismo de ação
dessa categoria de medicação (inibidores da enzimafosfodiesterase 5, PDE5)
ajuda a relaxar as células musculares lisas e aumentar o fluxo sangüíneo para o
pênis. E esse tipo de remédio diminui bastante o intervalo entre uma ereção e
segunda --o chamado período refratário. Isso ajudaria a inverter o efeito
"bola de neve": uma relação insatisfatória baixa a auto-estima e a
confiança do homem, aumentando a ansiedade e a chance de fracasso na próxima
relação. "O remédio pode reverter esse ciclo vicioso. pois age diretamente
na auto-estima do homem", afirma o urologista Joaquim Claro, professor da
Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
8 -
Qual a origem do problema?
As
causas fisiológicas são extremamente raras e controversas, principalmente quando
se fala em hipersensibilidade da glande ou alto reflexo ejaculatório. Portanto
os fatores emocionais e de condicionamento é que são realmente considerados
pelos especialistas. "É como aprender a chutar com a esquerda e a
direita", afirma a ginecologista e terapeuta sexual Jaqueline Brendler,
presidente da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Ela afirma
que, durante o "aprendizado sexual", o homem pode acabar se
condicionado a gozar rápido. A iniciação sexual também é alvo de discussão.
Muitos homens têm suas primeiras transas com prostitutas (que muitas vezes
aceleram o ritmo da relação para acabar logo) ou em situações periclitantes
(dentro de um carro, na casa dos pais da namorada). "Antigamente, gozar
rápido era sinal de virilidade. De meio século para cá, a partir do momento em
que a mulher passou a ter seu papel na relação, esse conceito começou a mudar.
Os homens passaram a ter de acompanhar o ritmo da parceira e se tornaram mais
frágeis, vulneráveis", afirma a psiquiatra Carmita Abdo.
"Existem teorias ainda hipotéticas que apontam para predisposição genética
e um distúrbio no receptor 5-HTT [responsável pela reabsorção da molécula de
serotonina pelos neurônios]", afirma a psiquiatra. Muitos especialistas
acreditam que, além de demonstrar pressa nas preliminares e antecipar a
penetração, os "rapidinhos" também apresentam um grau de ansiedade
elevado em outros setores da vida. E essa ansiedade é retroalimentada pela
ejaculação precoce.
Nenhum comentário:
Postar um comentário