Brasil
tem 15% dos dentistas do mundo; mercado de higiene bucal cresce 7% ao ano e só
fica atrás de EUA e China.
Pensei que já tinha me acostumado à
seriedade que os brasileiros dão à limpeza pessoal. Mas levei um susto quando
usei o banheiro de um restaurante há alguns meses. Apertei o que achava ser uma
saboneteira, mas em vez de sabão um líquido mentolado saiu na minhas mãos. Era
enxaguante bucal. Havia fio dental no banheiro também.
"Nós (os brasileiros) sorrimos
muito. Toda vez que pedimos alguma coisa, nós sorrimos. Quando pedimos
desculpas, sorrimos. As pessoas vêem o sorriso como uma espécie de cartão de
visita", explica Ronaldo Art, gerente de marketing para higiene oral da
Johnson & Johnson no Brasil.
A empresa põe sua marca de enxaguante
bucal, Listerine, de graça em banheiros públicos no Brasil como forma de
promover o produto. Trata-se de mais uma estratégia para abocanhar uma fatia
maior do imenso bolo do mercado de higine oral no país - que tem crescido a 7%
por ano.
Terceiro mercado.
Uma pesquisa encomendada pela BBC à
empresa de consultoria de marketing Millward Brown revelou que marcas de creme
dental estão entre as 20 mais reconhecidas do mundo.
"Historicamente, se você tem um
sorriso bonito no Brasil você é uma pessoa rica", diz Eduardo Campanella,
diretor de marcas de higiene oral da Unilever Brasil.
"Todo mundo no Brasil carrega
uma escova de dentes na bolsa. Na Grã-Bretanha, há uma piada de que apenas os
brasileiros escovam os dentes nos banheiros públicos."
Segundo o grupo de análises
econômicas Euromonitor Internacional, o Brasil tem o maior número de dentistas
do mundo. São mais de 240 mil, o que equivale a 15% dos dentistas do mundo.
Em volume geral, o mercado dental
brasileiro é o terceiro do mundo, atras apenas dos EUA e da China.
Famílias brasileiras gastam o mesmo
em cuidaddos orais que as americanas, ainda que a produtividade econômica
brasileira seja apenas um quinto da dos EUA.
Minha pasta de
dente.
Com o crescimento do mercado veio um
aumento na concorrência e a necessidade de abertura de novos filões. Empresas
como a Unilever, por exemplo, investem para transformar a pasta de dente de um
produto usado pela família como um todo em um ítem mais pessoal e
individualizado.
"Em casa, o homem tem um
desodorante e a mulher tem outro. Mas para a higiene bucal, o uso ainda é mais
familiar", afirma Campanella.
Com mais de 240 mil dentistas, Brasil
tem 15% dos profissionais do mundo segundo análises de consultoria
internacional.
Um exemplo dessa segmentação são as
pastas de dentes alvejantes para bebedores de café e vinho.
O mercado, porém, não é fácil de ser
domado.
Em 2009, por exemplo, a Johnson &
Johnson decidiu explorar a classe média emergente no Brasil, que não usava
enxaguante bucal com a mesma frequência dos brasileiros mais ricos. A companhia
criou o Essencial, de preço menor. Investiu pesado em publicidade para explicar
a importância do uso do produto no asseio bucal.
Porém, através de pesquisas, a
empresa descobriu que eram as classes mais altas quem estavam comprando o produto.
Não era uma questão de preço: os consumidores preferiam o sabor mais suave do
Essencial ao mais forte do Listerine.
A solução foi criar o Listerine Zero,
de sabor atenuado. Um novo produto surgido quase que por acidente.
Já a Unilever viu suas vendas de um
produto removedor de manchas nos dentes atingirem o dobro das previsões, o que
interferiu com a estratégia de lançamento.
"A demanda cresceu de tal
maneira que em vez de fazermos o lançamento por região tivemos que acelerar
para o resto do país", explica Marcos Angelili, vice-presidente de
marketing da Unilever.
A desaceleração na economia
brasileira não parece assustar o segmento.
"O Brasil ainda é visto como um
mercado em crescimento, enquanto a Europa e América do Norte vivem um
crescimento mais lento", diz Marcel Motta, analista da Euromonitor.
"As principais marcas europeias
e americanas estão aqui e imagino que elas continuarão vindo."

Nenhum comentário:
Postar um comentário