FONTE: Maria Fernanda Ziegler - iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
Ao
menos três novos estudos brasileiros mostram avanços consideráveis no
tratamento da doença de Chagas. A doença atinge atualmente cerca de 4 milhões
de pessoas no Brasil.
O mais
recente deles mostra que é possível recuperar lesões cardíacas de pacientes com
a doença. Atualmente, o tratamento de pacientes na fase crônica, quando a
infecção já se aloja nos músculos do coração e do aparelho digestivo, é feito em
cima dos sintomas e não na causa da infecção. Porém, testes feitos em
camundongos por uma equipe da Fiocruz, liderada pela pesquisadora Joseli
Lannes Vieira, bloquearam a toxina que desencadeia os problemas cardíacos.
“Provamos
que nossa hipótese estava correta, que existe relação direta entre a inflamação
e a cardiopatia. O bloqueio da citocina com o uso de uma droga levou a uma
melhora do quadro. Agora precisamos fazer novos testes usando outras formas de
terapias que também reduzam o TNF [uma substância inflamatória] e não tenham
tantos efeitos colaterais. Uma possibilidade é o omega 3, que é mais barato”,
diz.
A
equipe tinha observado que pacientes com cardiopatia por doenças de Chagas
grave, além do aumento do tamanho do coração, apresentavam altos níveis de TNF
solúvel no sangue. O coração aumenta de tamanho e tem batimento irregular,
entre outros problemas.
Agora é
preciso que se façam mais testes com outras terapias que reduzam do TNF no
sangue e também fazer testes em humanos. “É um processo e demos o primeiro
passo. Durante cem anos não se teve uma proposta terapêutica para a doença de
Chagas. Mitigam-se os sintomas nos pacientes, a doença evolui de uma forma mais
lenta, mas o paciente continua apresentando os mesmos problemas”, afirma.
Joseli
explica que a maioria dos pacientes com doença de Chagas no Brasil já está na
fase crônica da doença, quando a infecção já se aloja nos músculos do coração e
do aparelho digestivo. Na fase crônica, não há ainda comprovação da eficácia
dos medicamentos disponíveis. Os remédios usados atualmente podem apenas
controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, mas não
impedem o avanço das lesões causadas pela infecção.
Depressão de Chagas.
Outra descoberta importante, realizada em 2012, foi a comprovação de que a depressão faz parte da doença. “Conseguimos mostrar em modelo animal que a depressão faz parte da doença. Provamos que camundongos com doença de Chagas apresentavam sintomas da depressão”, diz.
Outra descoberta importante, realizada em 2012, foi a comprovação de que a depressão faz parte da doença. “Conseguimos mostrar em modelo animal que a depressão faz parte da doença. Provamos que camundongos com doença de Chagas apresentavam sintomas da depressão”, diz.
Para
Joseli, o importante dessa descoberta também está no fato de comprovar que
pacientes com Chagas devem sem tratados também por psicólogos e psiquiatras.
“Acreditava-se
que o paciente ficava deprimido por causa do estigma da doença, mas sabemos que
o camundongo não vai ficar deprimido por conta disso. Logo, provamos que é algo
biológico. Existe uma relação entre a infecção e a depressão”, afirma a
pesquisadora que também participou deste estudo.
Metas.
Os estudos fazem parte de um esforço para desenvolver droga e novas propostas terapêuticas contra a doença de chagas. A meta é que até 2019 – ano que a descoberta da doença faz 110 anos –, os pacientes tenham a cura.
Os estudos fazem parte de um esforço para desenvolver droga e novas propostas terapêuticas contra a doença de chagas. A meta é que até 2019 – ano que a descoberta da doença faz 110 anos –, os pacientes tenham a cura.
Joseli
afirma que há muito o que comemorar e também muito a ser descoberto, inclusive
está em estudo a criação de uma vacina contra a doença. “Essa é uma doença
negligenciada, uma doença da pobreza. Até 2005, o que se dizia é que se tratava
de uma doença sem cura. Inicialmente, o que se fazia era combater o vetor, o
barbeiro, mas pouco ainda havia sido estudado sobre como a doença age na pessoa
infectada”, disse.
A
doença de Chagas é causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e transmitida ao
homem pela picada de um inseto conhecido como “barbeiro”, “potó”, “procotó” ou
“chupão”. Após sugar o sangue da pessoa, o inseto libera fezes infectadas com o
parasita. Pelo contato das mãos com as fezes do barbeiro ao coçar o local da
picada ou levar a mão à boca ou aos olhos, o parasita penetra na corrente
sanguínea. Há ainda outras formas de transmissão: da mãe infectada para o bebê
ainda na barriga, por transfusão de sangue e contaminação por alimentos que
contenham fezes do inseto.
No prazo do relógio.
Em 2006, o Brasil recebeu um certificado da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Panamericana de Saúde (Opas) por ter conseguido interromper a transmissão da doença de Chagas pela espécie de barbeiro mais frequente no país: o Triatoma infestans.
Em 2006, o Brasil recebeu um certificado da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Panamericana de Saúde (Opas) por ter conseguido interromper a transmissão da doença de Chagas pela espécie de barbeiro mais frequente no país: o Triatoma infestans.
No
entanto, segundo o Ministério da Saúde, nos últimos anos, estão surgindo novos
casos da infecção devido a uma forma alternativa de transmissão ligada à
contaminação de alimentos. Principalmente na região amazônica, surtos de casos
agudos vêm sendo registrados entre pessoas que consumiram suco de açaí e caldo
de cana. As bebidas são contaminadas pelo T. cruzi quando barbeiros infectados
são moídos acidentalmente junto com os alimentos.
Faltam
ainda pouco mais de quatro anos para que os pesquisadores atinjam a meta de
encontrar uma cura para a doença. “Ainda existe muita gente com a doença e
muita gente em cidades grandes como o Rio e São Paulo, por exemplo. Na América
Latina, nem se fala. Em Cochabamba, na Bolívia, 70% da população tem a doença.
Por isso, pesquisar a doença de Chagas cabe a nós mesmos. Acredito que teremos
muita coisa boa descoberta nos próximos anos”, afirma.
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