FONTE: *** Jairo Bouer (doutorjairo.blogosfera.uol.com.br).
Um estudo
norte-americano comprova que os comerciais de comida na TV estimulam o cérebro
de adolescentes com excesso de peso de forma mais intensa que o de jovens com
peso normal. As propagandas afetariam regiões ligadas ao prazer, ao paladar e
também à boca, fazendo com que os telespectadores simulem mentalmente que estão
consumindo o alimento e, assim, assimilem com mais facilidade hábitos pouco
saudáveis.
De acordo com a
pesquisa, publicada na revista científicaCerebral Cortex, por causa
dessa interferência tão completa e poderosa, os hábitos adquiridos por
influência da TV podem dificultar a perda de peso na idade adulta.
A prevalência da
obesidade tem aumentado nas últimas décadas, e vários estudos já associaram o
número mais alto de programas de TV assimilados durante a infância ao risco
mais elevado de obesidade.
Com ajuda de exames
de ressonância magnética funcional, pesquisadores da Universidade de Dartmouth
examinaram as respostas dos cérebros de alguns adolescentes com peso saudável e
de outros com sobrepeso, todos na faixa de 12 a 16 anos. Eles foram expostos a
20 comerciais, sendo parte de fast food e a outra parcela, de itens que não
tinham a ver com alimentação. Os filmes eram inseridos no meio de programas
dirigidos para jovens, para que ninguém percebesse o propósito do estudo.
Os resultados
mostraram que todos os jovens apresentaram uma ativação mais forte de áreas do
cérebro ligadas a recompensa, atenção e foco durante a exibição de comerciais
de alimentos em relação às outras propagandas.
Além disso, os
adolescentes com maior concentração de gordura corporal apresentaram maior atividade
relacionada a recompensa e percepção de sabor do que os jovens com peso
saudável. Essa área envolve a liberação de dopamina e outros neurotransmissores
ligados ao prazer, o que pode levar a um comportamento viciante.
A descoberta mais
surpreendente, segundo os pesquisadores, foi que os comerciais de fast food
também ativaram a região cerebral ligada ao controle da boca nos adolescentes
com excesso de peso. Isso significa que os jovens provavelmente simulam
mentalmente, mesmo sem perceber, que estão comendo os alimentos mostrados na
TV. Isso é algo que acaba sendo aprendido – e se transforma em um hábito.
Os autores explicam
que crianças e adolescentes assistem a uma média de 13 comerciais de alimentos
por dia nos EUA, número que não deve ser muito diferente do registrado no
Brasil. Por isso, é importante entender como esse conteúdo é absorvido por
eles.
Os pesquisadores
acrescentam que estratégias de intervenção para combater a obesidade poderiam
utilizar esse “mecanismo de ação” dos comerciais para o bem, já que, para
emagrecer, não basta suprimir a vontade de comer algo tentador, é preciso
também incentivar o desejo de consumir alimentos saudáveis.
Jairo Bouer é médico formado
pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com residência em
psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. A partir do seu trabalho no
Projeto Sexualidade do Hospital das Clínicas da USP (Prosex), passou a focar
seu trabalho no estudo da sexualidade humana. Hoje é referência no Brasil, para
o grande público, quando o assunto é saúde e comportamento jovem, atendendo a
dúvidas através de diferentes meios de comunicação.
Sobre o blog.
Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões
sobre saúde, sexo e comportamento.
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