FONTE: *** Camila Neumam,
Do UOL, em
Porto Alegre
(noticias.uol.com.br).
A mulher nunca esteve
tão propensa a ter vários parceiros e a trai-los. A culpa destes comportamentos
é a evolução de seu cérebro que está mudando com a vida moderna e lhe tornando
insaciável. A independência econômica feminina também estimula a rotatividade
nos relacionamentos e a 'pulada de cerca', já que lhe daria mais segurança para
bancar as consequências de um possível rompimento. Essas são as conclusões de
estudos recentes da neurociência e da psiquiatria abordados no Congresso
Internacional do Cérebro, Comportamento e Emoções, que aconteceu na semana
passada em Porto Alegre (RS).
Do ponto de vista
biológico, o comportamento adúltero tem relação direta com o sistema de
recompensa do cérebro, associado à liberação da dopamina, substância química
responsável pela sensação de prazer. O sistema é ativado quando fazemos sexo e
comemos alimentos saborosos. Isto é, ao fazermos essas atividades, ele nos
fornece uma recompensa levando-nos, portanto, a repeti-las para nos sentirmos
bem.
O sistema funciona da
mesma maneira em homens e mulheres, mas pesquisas recentes descobriram que seus
efeitos são diferentes entre os sexos.
Viciadas em prazer.
Enquanto nos homens
ele atinge um teto, fazendo com que gerações de marmanjos se satisfaçam com
sexo, futebol e cerveja, nas mulheres 'o céu é o limite', ou seja, quanto mais
acesso ela tiver a situações de prazer, mais ela vai querer, segundo o estudo.
"O sistema de
recompensa é o que faz a gente querer interagir com a novidade. A sociedade de
hoje, que pulveriza estímulos, ativa mais esse sistema e, nas mulheres que são
mais suscetíveis, o sistema embasa a sua mudança cultural", afirma o
psiquiatra Diogo Lara, professor de psiquiatria da PUC-RS, especialista em
neurobiologia.
Essa plasticidade
cerebral foi detectada em um pool de pesquisas feitas com ratos machos e
fêmeas, nos últimos cinco anos, que tiveram o sistema de recompensa
analisado enquanto recebiam drogas psicoativas por algum tempo. Os machos
'drogados' reagiam ao estímulo com pouca variação de comportamento, enquanto
que a fêmea evoluía mais rapidamente para o vício.
Estudos do sistema de
recompensa feitos em humanos constataram a mesma característica das ratas no
cérebro feminino, concluindo que as mulheres estão se tornando cada vez mais
'escravas' do prazer.
"A mulher de
hoje responde mais fortemente a estímulos quando esses são repetidos, seja qual
for a novidade, ela quer mais, fica insaciável. Hoje elas comem mais, fumam
mais, compram mais, usam mais drogas. Ai entra também o sexo, o interesse maior
em ter mais parceiros, em trair. A rotatividade na vida da mulher está muito
maior do que em relação às suas avós, enquanto que entre os homens não se vê
uma mudança tão grande. Isso não quer dizer que ela vai trair, mas que está
mais propensa a trair", diz Lara.
Porém, o que ainda
faz as mulheres serem aparentemente mais fieis do que os homens? Dois hormônios
que atuam de forma mais intensa nas mulheres: a oxitocina e a vasopressina,
conhecidos como os hormônios do amor. Eles são ativados por outro sistema
cerebral também encontrado nos homens, contudo mais proeminente nelas. Por isso
elas têm uma tendência maior a querer relacionamentos sérios.
"A fidelidade
tem a ver com o jogo dos dois sistemas. Se eu só tenho atração sexual, sem
vínculo afetivo, um sistema está mais ativado do que o outro. Se tenho atração
e compromisso, os dois sistemas estão ativados. Em relacionamentos mais
duradouros, vai ocorrendo um desequilíbrio dos sistemas e o da atração sexual
diminui em detrimento do amor. Depois de um tempo, o que está fazendo falta vai
ser ativado, mas nem sempre com a mesma pessoa, dando a vontade da
'escapada'", explica Lara.
Com a recompensa
ganhando mais espaço na rotina da mulher, a tendência é que sua tomada de
decisão saia mais dos antigos padrões, abrindo espaço para a diversidade
amorosa.
"A busca de amor
e de novidade está ficando equiparada na mulher porque essa busca por
recompensa está cada dia mais forte. Isso traz um conflito do tipo: quero só
uma pessoa ou mais pessoas?", conclui o psiquiatra.
Traição se torna risco
controlado.
Para a psiquiatra
Carmita Abdo, autora da pesquisa "Mosaico Brasil", sobre a
infidelidade do brasileiro, a emancipação econômica e sexual da mulher impacta
na sua opção por ter mais parceiros. Sem depender financeiramente do cônjuge,
ela percebeu que a traição se tornou "um risco controlado".
"Os estudos
mostram que o fato de ter uma independência econômica deixa a mulher em menos
conflito numa situação de infidelidade, mas não necessariamente o poder
econômico vai fazê-la trair o parceiro", afirma.
A pesquisa realizada
com 8.200 participantes, em 2008, mostrou índices de traição muito maiores
entre os homens do que entre mulheres - 65% dos homens entre 18 e 25 anos
traem, enquanto 70% entre os com 40 e 50 anos e 75% entre os com 60 a 70 anos.
A surpresa ficou do lado feminino, especialmente entre as mais jovens. De
acordo com a pesquisa, 48% das mulheres com 18 a 25 anos de idade afirmaram já
terem traído pelo menos uma vez na vida e entre as com 60 e 70 anos o índice
passou dos 20%.
"Existe uma
percepção de uma crescente proporção de mulheres que estão praticando a
infidelidade no Brasil nas novas gerações. Ou elas estão praticando, ou estão
mais a vontade para falar sobre o assunto", afirma a fundadora e
coordenadora do ProSex (Programa de Estudos em Sexualidade) do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Para a psiquiatra, a
mudança de comportamento vem alterando a forma como a mulher encara as relações
amorosas, procurando por mais diversão antes de 'se amarrar'.
"As mulheres
começam a definir o amor, o relacionamento, o afeto, muito mais pela paixão,
pela diversão e pelo sexo, do que pelo padrão do começo do século 20, que era
baseado no companheirismo, na doação e na parceria. Essa é uma visão que está
perdendo campo, não que não exista mais, mas esta perdendo a unanimidade",
afirma.
*** A jornalista viajou a convite do Congresso
Internacional do Cérebro, Comportamento e Emoções.
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