FONTE: Camila Neumam, Do UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
Cientistas da
Universidade Cornell, nos Estados Unidos, observaram, em um estudo recente, o
motivo que pode tornar adolescentes impulsivos e infratores. Exames de
neuroimagem em jovens mostraram que o córtex pré-frontal, região do cérebro
ligada à tomada de decisão, ou seja, que nos faz pensar antes de agir, ainda
está em formação nos adolescentes. Essa área do cérebro tende a ficar 'madura'
somente aos 20 anos.
Por outro lado, a
região cerebral associada às emoções e à impulsividade, conhecida como sistema
límbico, tem um pico de desenvolvimento durante essa fase da vida, o que
aumenta a propensão dos jovens a agirem mais com a emoção do que com a
razão.
Esse desequilíbrio no
desenvolvimento torna os adolescentes mais propensos ao risco sem medir as
consequências. Os jovens são mais extremados em seus sentimentos – é só nos
lembrarmos do sofrimento que foi a primeira paixão, os primeiros goles de
álcool e o cigarro fumado escondido dos pais só para se sentir aceito em um
grupo.
Cérebro criminoso.
O aumento da
emotividade e da impulsividade seriam gatilhos naturais para atitudes
extremadas, inclusive para cometer crimes, segundo a neurocientista BJ Casey,
diretora do Escola de Medicina Weill, da Universidade Cornell, que liderou o
estudo. As diferenças biológicas foram observadas em exames de neuroimagem
feitos primeiramente em camundongos jovens e depois em humanos por meio de
testes que testavam reações no mesmo momento em que seus cérebros eram
examinados em aparelhos de ressonância magnética.
"Nosso trabalho
sugere que há uma rápida aceleração no desenvolvimento dos centros de emoção no
cérebro durante a puberdade, enquanto o córtex pré-frontal, que regula as
emoções inibindo estes centros, ainda está se desenvolvendo lentamente nos
adolescentes", diz Casey em entrevista ao UOL por e-mail.
"As observações
do estudo foram de encontro com o que os criminologistas chamam de 'curva
idade-crime', ou o nascimento do comportamento criminal, especialmente no sexo
masculino, durante a adolescência, com picos em torno dos 17 anos",
ressalta Casey.
A pesquisa observou
que os adolescentes costumavam tomar decisões mais arriscadas do que adultos e
crianças, principalmente quando agiam em grupo. "Com o cérebro não
totalmente desenvolvido, o adolescente pode ser levado a cometer decisões pouco
acertadas que lhe causam problemas, mas ele não pensa nas consequências de suas
ações no calor do momento, especialmente se estiver em grupo ou se sentindo
ameaçado", diz Casey.
Cadeia para jovem 'é
cruel'.
Por ser algo que
tende a mudar com o tempo, já que o cérebro continua se desenvolvendo, a
pesquisadora é contra a prisão de adolescentes em casos de crimes. Para Casey,
o ideal é inclui-los em programas de reabilitação para recuperá-los o quanto
antes.
"O cérebro é
conectado por meio de experiências, e, durante a adolescência, o indivíduo
precisa de oportunidades para aprender a enfrentar os desafios sociais,
intelectuais e sexuais da vida adulta de forma socialmente aceitáveis.
Infelizmente, o encarceramento raramente inclui modelos adultos socialmente
aceitáveis ou colegas com boa conduta social e, muitas vezes, inclui
confinamento solitário. Por isso, não são pelas oportunidades na prisão que
eles vão aprimorar as suas habilidades sociais de forma socialmente
aceitas", afirma.
Casey dá como exemplo
seu próprio país, os Estados Unidos, onde há uma discussão para aumentar a maioridade penal para
18 anos em Estados onde ela é menor. Segundo a pesquisadora, as decisões
levaram em conta a falta de provas que indiquem que a prisão de adolescentes
evite a reincidência criminal.
"Adolescentes
devem ser responsabilizados por seus crimes, mas o tratamento de um adolescente
como um adulto é uma punição cruel quando eles têm a capacidade de regular seu
próprio comportamento reduzida. A maioria dos crimes de adolescentes não são os
violentos e aqueles que são geralmente ocorrem com problemas de saúde mental.
Estes jovens precisam de serviços e tratamento em um ambiente seguro e que os
mantenham a salvo", diz.
Psicopatas devem ficar
presos.
No caso dos
psicopatas, a coisa muda de figura. Há jovens que naturalmente são maldosos e
vão cometer crimes deliberadamente se eles se mantiverem em liberdade, por isso
devem ficar presos, segundo o neurocientista Ricardo de Oliveira Souza, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, que pesquisa a morfologia do cérebro
psicopata.
De acordo com o
neurocientista, exames de neuroimagem, como a ressonância magnética, já são
capazes de ver detalhes no cérebro que indicam traços psicopatas em jovens. No
entanto, seu uso não é indicado no Brasil por questões éticas. Nos Estados
Unidos, esses exames já são usados em alguns casos policiais.
"Existe
instrumentos clínicos de diagnóstico e até de prognóstico para psicopatia com
precisão de 85%. O exame de neuroimagem detectaria experimentalmente, mas não é
correto usar como prova pericial, exceto em caso em que haja lesão cerebral
adquirida", afirma.
Porém, ele afirma ser
necessário diferenciar criminosos comuns de psicopatas. E se for comprovada a
psicopatia, essas pessoas devem ser retiradas da sociedade, segundo Souza.
"O ambiente tem
modulação nas pessoas normais, mas há indivíduos que nascem maus, são os
psicopatas que são 3% da população. Quando se tem esse diagnóstico é importante
admitir que essas pessoas não vão se recuperar. O ideal é que elas fiquem confinadas
eternamente", diz.
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