"Frozen" (2013) não é apenas um filme
sobre uma princesa com poderes mágicos, sua irmã, um boneco de neve engraçado e
uma rena adorável.
Também pode servir de paralelo para a recuperação
de uma desordem alimentar, segundo uma pesquisadora que vem estudando a
animação.
Su Holmes, da Universidade de East Anglia, no
Reino Unido, lutava contra a anorexia e, enquanto assistia à princesa Elsa
cantar "Let It Go" ("Livre Estou", na versão em português),
a música-tema do filme, pensou consigo mesma: "Estou maluca ou esta canção
parece tratar da minha própria situação?".
Depois de fazer uma pesquisa no Google, ela
descobriu que não havia sido a única a chegar a esta conclusão.
"Encontrei muitas pessoas que pensavam o
mesmo na internet, em blogs de pessoas que haviam se recuperado da
anorexia."
'Let it Go'.
No filme, Elsa tem poderes de controlar o gelo e
a neve. Seus pais descobrem sua habilidade e ficam preocupados que ela possa
ser perigosa. O castelo em que vivem é fechado ao público, e ela é encorajada a
se esconder, tanto física quanto emocionalmente.
Depois de lançar acidentalmente uma maldição
sobre o reino, deixando-o em um estado perene de inverno, e congelar o coração
de sua irmã, ela se isola em um castelo de gelo. Ao cantar "Let it
Go", ela aceita a si mesma.
Milhares de comentários em sites sobre desordens
alimentares trazem comentários de pessoas dizendo que elas se identificam com
as experiências vividas por Elsa, diz Holmes.
"Havia dois grupos-chave. O primeiro é
centrado na canção, porque nela Elsa fala da pressão que sofre para que seja
uma garota perfeita e de como ela precisa se libertar disso", afirma a
pesquisadora.
"Há um longo histórico de casos de anorexia
envolvendo garotas 'perfeitas' e as pressões de pais e da sociedade para elas
sejam assim. Muitas meninas dizem que a história de Elsa é muito parecida com a
relação delas com anorexia."
O segundo grupo, de acordo com Holmes, usou a
figura de Elsa como um incentivo para comer ainda menos.
"A mesma letra foi interpretada de forma
completamente contrária. Elas dizem: 'Foi assim que me senti quando minha mãe
descobriu minha anorexia e pensei que não seria mais aquela garota
perfeita'."
Esta não foi a única conexão entre
"Frozen" e a anorexia identificada por Holmes.
"A ideia da anorexia e sua associação com o
frio e algo 'invernal' é realmente complexa. Há esta ideia de anoréxicas são
pessoas frias, isoladas, com emoções e desejos sexuais reprimidos."
Perfeccionismo.
Não há qualquer indicação de que o filme possa
ter causado a desordem alimentar.
"Elas já eram anoréxicas quando se interessaram
pela animação. Há muito conteúdo na mídia que mostra corpos esguios, e isso é
parte da cultura em que vivemos", afirma Holmes.
"Não destacaria o filme neste sentido mais
do que outros do gênero, como 'Enrolados', 'Cinderela' ou 'Branca de Neve'.
Esta é uma questão social muito mais ampla."
Para Holmes, a pesquisa no site mostrou que as
pessoas buscavam algo com que se identificar.
"Elas queriam ver na tela alguém como ela, e
isso tem um significado muito grande para elas neste sentido."
A organização sem fins lucrativos Beat, que
trabalha no combate à anorexia, explica que desordens alimentares são de
natureza complexa e muitas vezes têm vários fatores entre suas causas.
"Muitas pessoas que sofrem deste problema
têm personalidades perfeccionistas e muitas vezes buscam algo impossível de
alcançar", diz a organização.
"Sabemos como estas desordens são retratadas
pela mídia, como imagens e textos podem servir de gatilho para o problema e
buscamos constantemente educar e informar que perpetuar o lado sensacionalista
destas desordens é perigoso e pode ter consequências graves."
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