FONTE: Do UOL, em São Paulo, (noticias.uol.com.br).
Se você é do tipo que não suporta o
som de unhas ou giz raspando na lousa ou de isopor, provavelmente deve estar
sentindo um arrepio agora só de pensar neles. Por ser fonte de tamanha
"aflição" em tantas pessoas, muitos pesquisadores, ao longo dos anos,
tentam descobrir porque determinados sons nos deixam tão desconfortáveis.
Mas a verdade é que, até agora,
nenhum dos estudos chegou ao veredicto final. O que eles têm em comum, no
entanto, é que nosso ouvido se incomoda com sons de determinadas faixas de
frequência, especialmente entre 2.000 e 5.000 hertz, que inclui o giz e a unha
raspando na lousa.
Em 2006, uma dessas pesquisas chegou
a ganhar o Ig Nobel — uma espécie de sátira do Nobel dedicada a entidades ou
cientistas que tiveram ideias curiosas. Três pesquisadores de universidades
norte-americanas gravaram o som de um rastelo de grama raspando ao longo de um
quadro-negro. Em seguida, remodelaram a gravação, removendo as frequências
altas, médias e baixas de diferentes gravações.
Depois de apresentar os sons
modificados aos voluntários, os pesquisadores descobriram que remover as altas
frequências não tornava o som mais agradável. Além disso, perceberam que o
ruído das unhas no quadro era parecido com o grito de alerta de um chimpanzé.
"Especulamos que o som de unhas
em um quadro-negro têm uma característica aversiva quase universal porque
provoca em nós um reflexo inconsciente, automático, como se estivéssemos
ouvindo um grito de advertência", disse o psicólogo Randolph Blake, um dos
participantes do estudo à revista "Medical Press".
Uma outra pesquisa, publicada em 2011
no jornal da Sociedade de Acústica Americana, sugeriu que o desconforto
acontece por conta do tamanho de nossa orelha e do canal auditivo.
Na ocasião, os participantes do
estudo avaliaram o desconforto que sentiam ao serem expostos a vários ruídos
desagradáveis. Os dois sons classificados como mais irritantes, segundo eles,
eram das unhas e de giz arranhando uma lousa.
Os pesquisadores, então, criaram
variações destes dois sons, modificando certas faixas de frequência. Todos
foram expostos aos ruídos enquanto seus indicadores de estresse, como pressão e
frequência cardíaca, eram analisados.
O resultado foi que, em ambos os
grupos, os ruídos mudaram a condutividade elétrica da pele dos ouvintes, o
que apontava uma reação de estresse físico significativa. Os pesquisadores
perceberam também que as frequências mais "irritantes" estava entre
2.000 e 4.000 Hertz.
Com os resultados, um dos
pesquisadores que conduziu o estudo, Michael Oehler, professor de mídia e
gerenciamento de música na Universidade de Macromedia, na Alemanha, concluiu
que o ouvido humano é mais sensível a sons que se enquadram nesta faixa de frequência.
Para ele, o canal auditivo humano
pode ter evoluído para amplificar as frequências que são importantes para a
comunicação e a sobrevivência. Assim, o arrepio causado por esse tipo de ruído
seria apenas um efeito colateral do desenvolvimento.
O cérebro comanda.
Um outro estudo,
publicado em 2012 pelo Jornal de Neurociência, sugere que o som da unha raspando em um quadro negro
desencadeia um aumento na comunicação entre duas áreas do cérebro —uma
envolvida na audição e outra nas emoções.
Na pesquisa, conduzida
por dois cientistas da Universidade de Newscastle, na Inglaterra, 13
voluntários foram submetidos a 74 tipos de sons considerados desagradáveis
enquanto eram monitorados por uma máquina de ressonância magnética. Além dos
clássicos giz e unha na lousa, a lista contava com choros de animais e
assobios.
Os pesquisadores
analisaram que, quando os sons eram irritantes, as atividades entre as áreas do
cérebro ligadas ao controle das emoções (a amígdala) e o córtex auditivo, que
processa o som, eram mais intensas.
"É como se fosse
um sinal de socorro enviado da amígdala para o córtex auditivo", disse o
pesquisador Sukhbinder Kuma.
O curioso é que,
assim como nos estudos citados acima, de 2011, sons com frequências entre 2.000
e 5.000 Hertz eram classificados como os mais desagradáveis.
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