O Guarany de
Sobral tinha tudo para viver um ano histórico. Foi o líder da primeira
fase do Campeonato Cearense, está praticamente garantido nas semifinais e foi o
campeão do interior de forma antecipada. Mas o projeto que poderia surpreender
os poderosos Ceará e Fortaleza foi encerrado devido a pandemia do novo
coronavírus. Com o torneio suspenso, o clube interrompeu os contratos de todo o
elenco.
Os jogadores foram
comunicados na última segunda-feira (23) do aviso de rescisão, confirmado pelo
presidente Mauro Fuzaro. Até mesmo destaques como os atacantes Ciel e Siloé
estão fora dos planos. O 'Jogo Extra' entrou em contato com o
departamento jurídico do Guarany, que justificou a decisão por fatores
financeiros.
- A diretoria fez uma
reunião virtual e colocamos em pauta quais seriam as dificuldades. O Guarany é
um clube que precisa conviver com débitos passados. Temos dívidas trabalhistas
que vem sendo honradas, mas limitam a nossa capacidade orçamentária. Tínhamos
uma previsão de renda para esse ano que ficou aquém do esperado - conta o
diretor jurídico Thyago Donatto.
A reportagem apurou que
a maior preocupação da diretoria foi a falta de jogos disputados nos próximos
meses. Caso a paralisação do Cearense ultrapasse três meses, isso poderia
interferir no planejamento financeiro do clube. Além disso, existe incerteza
sobre a realização da Série D do Brasileirão e um problema com o patrocinador
master, que não repassa uma verba fixa para o clube. A folha salarial do elenco
é de R$ 200 mil mensais.
A decisão revoltou
atletas, comissão técnica e principalmente os torcedores. Do elenco principal,
apenas o técnico Washington Luiz permaneceu. 'Jogo Extra' entrou
em contato com o comandante, que preferiu não estender assunto "a pedido
do diretor de futebol", mas está tentando ajudar a reverter a situação.
- O que posso lhe falar
é que estou conversando e tentando intermediar uma situação para que o
posicionamento inicial seja repensado - declarou Washington Luiz. Os jogadores
também foram procurados, mas preferiram não se pronunciar.
O futuro também é
incerto para o Guarany de Sobral. Sem elenco e classificado para uma competição
nacional, o que fazer quando a pandemia for superada? O clube assumirá o risco
de remontar o elenco às pressas e trabalha com duas possibilidades: apostar em
nomes formados nas categorias de base do clube e contar com o retorno desses
mesmos jogadores que tiveram o contrato rescindido.
- Nós esperamos que os
atletas aceitem propostas para retornarem caso não venham a estabelecer vínculo
com outros clubes. Nós sabemos desse risco. Aqueles que aceitarem a proposta de
rescisão e aguardarem, tão logo tenha uma retomada do futebol, para nós o
cenário é positivo. Nosso clube fez uma ótima campanha na primeira fase,
garantiu uma vaga na Copa do Brasil - comenta Thyago.
Segundo Iara Costa,
repórter do 'O povo', existe um parágrafo no regulamento do Campeonato Cearense
que diz que "novos atletas só podem ser registrados até 27 de março".
Ou seja, caso o torneio retorne, o Guarany não poderia inscrever atletas e nem
contar com os que rescindiram. Isso faria o clube ser rebaixado
automaticamente, mas a diretoria acredita que esse ponto será modificado.
- Existe essa limitação
quanto a data limite para inscrição, mas entendemos que essa data terá que ser
flexibilizada. Nós estamos falando de um transtorno mundial, que tem reflexo no
esporte e modificou o calendário. Não seremos apenas nós, existem outros clubes
em dificuldades. Contamos com o bom senso da organização - completa o diretor
jurídico.
Sindicato dos Atletas
tenta reverter rescisões.
Do outro lado da
história, os jogadores tentam reverter a decisão através do Sindicato dos
Atletas de Futebol do Estado do Ceará (SAFECE). A ideia inicial da instituição
é estabelecer um diálogo entre os atletas e a diretoria para evitar as
rescisões.
- Temos um time
(Guarany) muito bom, que jogou de igual pra igual com todo mundo, e um clube
que pode chegar num nível de Copa do Nordeste, tá com uma estrutura bacana.
Acho que não pode se precipitar. Calma, vamos conversar, sugerir um diálogo com
CBF e Federação - declarou presidente do Sindicato, Marcos Gaúcho, em
entrevista ao 'O Povo'.
Uma proposta já foi
enviada ao Guarany por meio de dois jogadores. A reportagem entrou em contato
com o Guarany de sobral, que afirmou "estar aberto ao diálogo".
- O que o Sindicato
propôs foi manter o vinculo com os atletas no mês de março e abril e deixar
para conversar apenas em maio. Segundo eles, até o mes de abril será possivel
saber sobre como ficará o calendario. A proposta foi encaminhada para a diretoria
e ainda não temos uma posição - informou o clube.
Para a imprensa
cearense, a tendência é que mais clubes sintam dificuldades por conta da
paralisação do calendário.
- Clubes do interior do
Brasil têm muitas dificuldades para se manterem ao longo de disputas dos
campeonatos, imagina quando um para de repente. Aqui no Ceará, em campeonatos
estaduais, as equipes literalmente pagam para jogar, uma vez que não consegue
ter lucros. Sem futebol não tem receitas e se até clubes de Série A podem ter
problemas com isso, times do interior sofrem ainda mais. Não creio que o
Guarany vá desfazer o que fez pela dificuldade apresentada - opina o jornalista
Gerson Barbosa, do 'O Povo'.
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