sábado, 28 de março de 2020

VÍRUS QUE CAUSA BRONQUITE MATA MAIS QUE INFLUENZA NO BRASIL EQUATORIAL...


FONTE: Da Agência Bori, https://www.uol.com.br/

              

Resumo da notícia
Estudo mostra que o vírus sincicial respiratório (VSR) causa mais hospitalizações e mortes que a influenza no Brasil equatorial
Impacto do VSR na região foi maior inclusive durante a epidemia de H1N1 em 2009
VSR é responsável pela maioria dos casos de infecções do trato respiratório inferior em bebês

A infecção pelo VSR (vírus sincicial respiratório), principal causa de hospitalização por doenças respiratórias em crianças menores de 5 anos, gera mais impacto no número de mortes e internações do que a influenza na região equatorial do Brasil, sendo que esse fator foi observado inclusive em 2009, quando houve a epidemia de gripe A (H1N1). É o que aponta estudo de 27 de março na revista Anais da Academia Brasileira de Ciências publicado por pesquisadores do Instituto de Biociências da USP (Universidade de São Paulo).

De acordo com o biólogo e epidemiologista Wladimir Jimenez Alonso, autor principal da pesquisa, os dados não indicam necessariamente que a infecção por VSR seja mais grave no Brasil equatorial, mas sim que a influenza não é tão importante nessas regiões.

"A pandemia de 2009 nos proporcionou uma boa oportunidade para verificar que, ao contrário do resto do Brasil, na franja equatorial não se detectaram mais hospitalizações e mortes do que o normal durante a circulação da influenza H1N1", destaca.

Os pesquisadores compararam a importância relativa dos vírus respiratórios, examinando seus padrões espaço-temporais, dados de hospitalização específicos por idade e dados de mortalidade para os anos de 2007 a 2012, obtidos de fontes oficiais.

Os dados foram agregados em "zonas sazonais de infecção respiratória", formando estados combinados com padrões sazonais semelhantes de pneumonia e influenza (P&I).

Dentro da faixa equatorial brasileira, há duas regiões. Uma delas é a Equatorial Norte, composta pelo estado de Roraima (onde o pico de infecção ocorre no meio do ano) e a Equatorial Sul, composta pelos outros estados da região Norte e, com exceção da Bahia, os estados do Nordeste (onde o pico da infecção se concentra no primeiro semestre).

"No geral, as infecções por vírus respiratórios ocorrem com maior frequência na estação chuvosa nas regiões de clima equatorial, assim como na estação fria no restante do país. Isto inclusive tem implicações para o calendário de vacinação da gripe", observa Wladimir Alonso.

Vírus negligenciado.
Globalmente, afirmam os autores, a influenza está sendo bem monitorada. Por sua vez, os outros vírus respiratórios, incluindo o VSR, têm sido bastante negligenciados.

"Isto não se justifica tecnicamente hoje em dia, pois é fácil e barato analisar de forma mais ampla as amostras coletadas. Perde-se a oportunidade de ter um mapa mais completo e de se alocar eficazmente os recursos destinados a prevenção e tratamento da população", explica.

Outra vantagem de uma triagem de patógenos mais ampla, acrescenta o pesquisador, é que se aumentaria a chance de detecção de patógenos com potencial pandêmico que não sejam a influenza, como o novo coronavírus.

Paralelo entre esses achados e o novo coronavírus.
À luz deste estudo, o biólogo e epidemiologista vislumbra que, se o coronavírus se comportar como a gripe de 2009, isto seria uma notícia positiva para o Brasil. Isso porque, na visão dele, mesmo que o vírus circulasse em todas as regiões, teria uma repercussão praticamente nula quanto a severidade e mortalidade na franja equatorial.

Para as demais regiões, se esperaria a época fria para produzir os casos mais severos, proporcionando assim maior tempo para preparar a estrutura hospitalar e maior tempo para possíveis descobertas farmacológicas para tratar especificamente esta doença.

"Infelizmente, não podemos afirmar que isto ocorrerá, uma vez que os vírus pandêmicos (como a influenza de 1918) podem não respeitar a sazonalidade do restante dos vírus respiratórios sazonais", pondera.

Por ser um país de dimensões continentais, com grande diversidade de climas e populações, os autores apontam que se abre uma janela de oportunidades para pesquisas abrangentes para resolver desafios de saúde pública, indo além das fronteiras do país.

Como exemplo, Wladimir Alonso relata que, em estudos prévios do grupo, eles mostram que a sazonalidade da influenza na faixa equatorial brasileira não ocorre seguindo o inverno do resto do país. Isso influenciou a descoberta do mesmo fenômeno em muitos outros países com regiões equatoriais, como a China, a Índia e o México.

Por sua vez, essa mesma diversidade também apresenta desafios importantes das políticas de saúde pública, pois o que é valido para evitar infecções respiratórias anuais pode ser muito diferente, por exemplo, no Pará ou Paraná.

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