Em tempos de covid-19,
todo mundo está preocupado com a saúde dos mais idosos ou de quem sofre com
doenças crônicas. Mas não podemos esquecer que estamos numa fase propícia à
ansiedade, e que os adolescentes também são muito vulneráveis ao sofrimento
emocional.
Uma grande pesquisa
publicada na quarta-feira (25), pelo periódico Jama Psychiatry,
alerta para o crescimento da procura de serviços ambulatoriais de atendimento
em saúde mental por adolescentes nos EUA no período de 2005 a 2018. E o aumento
foi ainda mais acentuado entre as garotas.
O estudo foi conduzido
por pesquisadores da Universidade de Columbia e da Escola de Saúde Pública
Johns Hopkins Bloomberg, e contou com dados de mais de 230 mil jovens.
A análise confirma que
ansiedade, depressão e pensamentos suicidas têm se tornado mais prevalentes,
entre os adolescentes, em relação a outros transtornos mentais. O lider do
estudo, o médico e pesquisador Ramin Mojtabai, explica que ninguém sabe ao
certo por que isso está ocorrendo, mas as evidências são claras.
Muito do que se sabe
sobre taxas de depressão e outros problemas de saúde mental entre adolescentes
dos EUA vem da Pesquisa Nacional de Uso de Drogas e Saúde, feita anualmente com
milhares de americanos de 12 anos ou mais. Esses dados indicam, por exemplo,
que, em 2017, 20% das meninas adolescentes de 12 a 17 anos relataram ter tido
pelo menos um episódio depressivo no ano anterior, em comparação com 8,7% das
mulheres adultas.
O atual estudo revela
que, entre 2005 e 2018, quase 20% dos adolescentes relataram ter recebido
tratamento ou aconselhamento por causa de problemas de saúde mental no ano
anterior à abordagem. Também constata que a proporção não mudou muito quando se
considera todos os jovens.
No entanto, quando se
leva em conta somente as garotas, é possível verificar um aumento de 11,4% (de
22.8%, em 2005-06, para 25,4% em 2017-18). Já entre os garotos, houve uma queda
de 7,9% no mesmo intervalo, de 17,8% para 16,4%. A maioria dessas mudanças
ocorreu após 2011.
Os problemas de saúde
mental foram divididos em categorias: problemas de internalização (que incluem
ansiedade, depressão, pensamento suicida e distúrbios de somatização),
problemas de externalização (desvio de conduta e uso de substâncias), problemas
de relacionamento e problemas na escola.
Os autores notaram que
os problemas de internalização apresentaram aumento de quase 20% no período
analisado (de 48,3% em 2005-06 para 57,8% em 2017-18). Entre eles, os
pensamentos ou tentativas de suicídio aumentaram 63,3% (de 15,0% para 24,5% do
total), o que é muito preocupante.
As tendências foram
observadas em diferentes contextos de atendimento, do aconselhamento escolar
até a internação psiquiátrica. O estudo também indicou um aumento na busca por
serviços ambulatoriais e uma queda na busca pelos profissionais das escolas.
Em geral, é consenso
entre os psiquiatras que problemas de internalização afetam mais as garotas,
enquanto problemas de conduta e uso de drogas são mais frequentes entre os
garotos. Várias outras pesquisas têm sugerido que o uso excessivo da internet e
das mídias sociais pode ser o culpado pelo aumento da depressão e dos
pensamentos suicidas entre os jovens, e que o impacto da tecnologia é maior
para o sexo feminino. Por isso é importante que os pais fiquem de olho nisso,
já que estamos num momento complicado.
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