FONTE: , Eduardo Nunes, https://www.msn.com/
Que a alimentação saudável auxilia no fortalecimento do
sistema imunológico, muitos sabem, mas um dos maiores desafios para os
especialistas da área têm sido estudar, comprovar e fazer com que as pessoas se
conscientizem da importância da nutrição adequada na prevenção e no combate ao
câncer, um dos principais problemas de saúde pública no Brasil e no mundo. De
acordo com uma pesquisa sobre esse tema, feita pela Sociedade Brasileira de
Oncologia Clínica (SBOC) em 2017, metade das pessoas ouvidas não faz exercício
físico e uma em cada quatro não vê a obesidade como problema relacionado ao
câncer.
“A
nutrição inadequada é classificada como a segunda causa de câncer que poderia
ser prevenida, atrás apenas do tabagismo, segundo o Instituto Nacional do
Câncer (INCA). Cerca de um terço de todos os cânceres humanos está relacionado
ao tipo de alimentação”, explica Rodrigo Cunha Guimarães, oncologista do Grupo
Oncoclínicas.
Segundo
o médico, a adoção de comportamentos protetores, como seguir uma alimentação
saudável, fazer atividades físicas com regularidade, evitar bebidas alcoólicas
e manter o peso adequado são capazes de evitar 28% de todos os casos de câncer,
também de acordo com estimativas do INCA. E essa é uma porcentagem relevante se
considerarmos que 625 mil brasileiros devem receber o diagnóstico da doença em
2021. O assunto também é relevante por conta dos números globais: uma a cada
cinco pessoas desenvolverá ao longo da vida algum tipo de tumor maligno e o
câncer é a segunda principal causa de morte no planeta, conforme aponta a
Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Uma
alimentação rica em alimentos de origem vegetal como frutas, legumes, verduras,
cereais integrais, feijões e outras leguminosas e que seja, porém, pobre em
ultraprocessados, como os prontos para consumo e as bebidas açucaradas, pode
prevenir novos casos de câncer. Isso porque o excesso de gordura corporal
provoca alterações hormonais e faz com que nosso organismo fique em constante
estado inflamatório, o que por sua vez estimula a proliferação celular e
dificulta o processo ativo de morte ‘programada’ das células – inclusive
aquelas que apresentam problemas, que podem se tornar nocivas à saúde. Esses
são fatores que sabidamente contribuem para o surgimento de tumores malignos”,
diz Rodrigo.
Vale
lembrar ainda que as evidências científicas apresentadas na última década têm
relacionado dietas baseadas no consumo de açúcar, gorduras saturadas e gorduras
trans e alimentos ultraprocessados com o favorecimento dos índices de câncer de
várias formas. A exemplo disso, as mais recentes análises do Fundo Global de
Pesquisa sobre o Câncer (WCRF) e do Instituto Americano de Pesquisa para o
Câncer (AICR) indicam que a ingestão de fast food e
alimentos com alto teor de sódio e açúcar estão aumentando em todo o mundo,
levando ao crescimento global de sobrepeso e obesidade e, consequentemente, a
mais casos de câncer.
No
caso do câncer de mama, que figura como o mais incidente entre toda a população
global, recentes estudos demonstram que diferentes componentes dos alimentos,
bem como uma boa qualidade alimentar, sendo fontes de vitaminas, minerais e
compostos bioativos, podem ter relação direta na saúde celular, podendo
influenciar no não aparecimento da doença, agindo como fatores de proteção.
“No
total, temos indícios de que ao menos 13 tipos de câncer estão associados aos
maus hábitos alimentares e excesso de peso. Na neoplasia de mama, o estilo de
vida é fator determinante e há uma relação íntima com o padrão da alimentação –
motivo de investigação científica crescente por conta da complexidade em
desvendar todos os seus mecanismos. Fazem ainda parte dessa lista de tumores
que têm sua crescente incidência ligada ao nosso tipo de consumo de alimentos
os de colorretal, de útero, da vesícula biliar, do rim, de fígado, de ovário, de
próstata, mieloma múltiplo, esôfago, pâncreas, estômago e tireoide”, explica a
nutricionista oncológica Rafaela Peixoto, também do Grupo Oncoclínicas.
Dietas
ricas em carboidratos de rápida absorção, excesso de peso corpóreo e
circunferência da cintura elevada podem ainda acarretar em outras doenças
crônicas como diabetes tipo 2, pressão alta, insuficiência cardíaca e
depressão, além do câncer. Adultos com obesidade grave desde a infância vivem
até dez anos menos em relação aos que mantiveram um Índice de Massa Corporal
(IMC) – cálculo que considera o resultado do peso dividido pela altura ao
quadrado – ideal para adulto 18,5 a do 24,9 kg/m2 e 22 a 27 kg/m2 para o idoso.
Acima desse valor a pessoa é considerada com sobrepeso, enquanto o IMC superior
a 30 indica obesidade e quando atinge a marca de 40 ou mais configura a chamada
obesidade grave ou grau III, um sinal de alerta para um alto risco de
mortalidade geral.
Vilões
no prato.
São
algozes e podem favorecer o aparecimento de cânceres, assim como outras doenças
crônicas, o consumo de: sal em excesso; alimentos ultraprocessados; alimentos
muito condimentados; temperos industrializados, que aumentam a incidência de
câncer gástrico; excesso de carne e gordura animal; enlatados; carnes
processadas/embutidas (salsicha, linguiça, presunto, peito de peru e blanquet
de peru, bacon); nitritos e nitrato, presentes em alguns alimentos
industrializados – o objetivo dessa substâncias é conservar e realçar o sabor –
estão relacionadas com maior incidência de câncer de próstata, pâncreas, cólon
e reto.
Além
disso, os defumados e churrascos são impregnados pelo alcatrão proveniente da
fumaça do carvão, o mesmo encontrado na fumaça do cigarro e que tem ação
carcinogênica conhecida.
“Se
em vez disso, sua dieta for incrementada por frutas e hortaliças frescas e
orgânicas, o cenário muda. É que determinados compostos presentes nestes
alimentos impedem a mutação do DNA, criando uma espécie de proteção contra
lesões celulares. Alguns alimentos específicos, como a cúrcuma, conhecida como açafrão
da terra, também estão associados com a inibição do crescimento das células
cancerosas”, ensina Rafaela Peixoto.
E as
dicas de alimentação balanceada são também valiosas para garantir melhores
respostas aos tratamentos de quem recebeu o diagnóstico do câncer.
“Quem
tem a doença pode e deve repensar os hábitos alimentares, aumentando o consumo
de nutrientes para fortalecer a imunidade. Além disso, é muito importante fazer
um acompanhamento com um nutricionista especializado”, ressalta o oncologista Rodrigo.
O
último relatório do Fundo Mundial de Pesquisa do Câncer e do Instituto
Americano de Pesquisa do Câncer destaca a importância de uma dieta saudável na
prevenção do câncer de forma global. Veja as principais orientações do
documento que é baseado nas evidências listadas pela Universidade da
Califórnia, em São Francisco, nos Estados Unidos:
–
Mantenha o peso adequado;
–
Siga fisicamente ativo;
–
Consuma uma dieta rica em vegetais (frutas, verduras, leguminosas, grãos
integrais…);
–
Limite o consumo de fast food e
alimentos processados ricos em gordura, amido e açúcar;
–
Modere na carne vermelha e processada;
–
Reduza a ingestão de bebidas açucaradas;
–
Diminua o consumo de bebida alcoólica;
–
Para as mães: amamentem seus bebês;
–
Não fume;
–
Evite exposições solares em excesso.
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