FONTE: , Evelin Azevedo, https://extra.globo.com/
“As pessoas acham que só criança tem autismo, que não existem vários adultos com autismo leve”, relata o advogado Fabricio Rayner, de 32 anos, diagnosticado com Asperger, um tipo leve da condição. Este é só um dos tipos de preconceito que pessoas com o transtorno do espectro autista sofrem. Além de terem que lidar com as dificuldades sociais impostas pelo próprio transtorno, estas pessoas precisam saber conviver com os mitos que cercam sua condição.
Este mês é dedicado à conscientização do transtorno do espectro autista. Chamado Abril Azul, a campanha visa munir a população de informações. Com isso, espera-se a diminuição de preconceitos e mitos, assim como o aumento de diagnósticos precoces.
O fonoaudiólogo Cristiano de Oliveira, de 34 anos, conta que sempre foi excluído pelas pessoas por causa de suas características.
— Sempre fui visto como calado, estranho, chato, arrogante e grosseiro. Me sentia injustiçado, pois nada disso era verdade — afirma.
Na visão de Cristiano, um dos maiores mitos é o de que o autismo teria “cura”.
— A afirmação de que seja possível uma pessoa autista sair do espectro do autismo, deixando de ser autista, é um absurdo. Isso não existe, ninguém deixa de ser autista ou sai do espectro do autismo!
De acordo com Clay Brites, pediatra e neurologista infantil do Instituto NeuroSaber, o autismo é um transtorno de neurodesenvolvimento que aparece nos primeiros anos de vida da criança, mas que nem sempre é identificado corretamente.
— Este transtorno é caracterizado por dificuldades, incapacidade ou desinteresse de interação social, dificuldade, incapacidade ou desinteresse de iniciar e manter comunicação social e comportamentos atípicos, com repetições e interesses restritos desconectados do contexto — explica o médico.
Apesar de apresentarem dificuldades com as habilidades sociais, o autista não é sinônimo de dependência dos pais, desemprego ou solidão. Tudo isso não passa de preconceito. Cristiano é casado com outra fonoaudióloga que trabalha com a temática do autismo. Já Fabricio tem uma namorada que também recebeu o diagnóstico de Asperger. Ambos têm formação superior e exercem suas profissões.
— Minha dificuldade, às vezes, é estar em um lugar onde eu precise ser um pouco mais social, mas não tenho interesse em ser. Minha grande dificuldade é entender o que eu tenho que fazer naquele momento — narra Fabricio.
Para lidar com o autismo da melhor forma na vida adulta, Cristiano conta que fez algumas adaptações em sua rotina para evitar a sobrecarga sensorial, como usar cortina blackout e protetor auricular, se expor por menos tempo a situações inevitáveis de sobrecarga e, depois delas, ficar cerca de meia hora relaxando em ambiente escuro e silencioso.
Diagnóstico tardio pode atrapalhar.
Fabricio e Cristiano receberam o diagnóstico de autismo apenas no ano passado, já adultos. Segundo Clay Brites, receber o diagnóstico tardio afeta muito a vida dos autistas: aumenta o risco de sofrer preconceitos, inclusive dentro da família; eleva as chances de sofrer bullying na escola e de ser isolado pelos colegas de classe.
Em busca de conseguir seu diagnóstico, Fabricio conta que passou por situações de preconceito de quem menos esperava.
— Sofri preconceito dos profissionais do SUS que sempre debocharam de mim quando procurei atendimento para explicar minha situação — relembra: — Me sinto protegido com o meu diagnóstico. Agora compreendo a mim mesmo.
Já Cristiano resume sua reação ao diagnóstico a uma palavra: liberdade.
— Inicialmente, me senti mal por ter crescido sem saber disso e sem ter as adaptações que teriam tornado a vida mais fácil. Mas, passada a raiva, comecei a fazer as adaptações que tornaram minha vida melhor dali em diante. O que sei é que receber o diagnóstico foi libertador para mim, e me fez muito bem, mesmo tardio — diz ele, que passou a participar mais da empresa que tem com a esposa, que dá cursos e palestras sobre autismo.
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