FONTE: Edmo Atique Gabriel, cardiologista e cirurgião cardíaco***, https://www.msn.com/
Por meio de observação empírica, o homem foi descobrindo, ao
longo dos séculos, que alguns alimentos eram melhores do que outros para sua
saúde e disposição. A capacidade de examinar e correlacionar a qualidade e a
quantidade dos ingredientes com o bem-estar e a expectativa de
vida permitiu inclusive iluminar o elo entre a dieta e o estado
cardiovascular. E a ciência, claro, colocou tudo isso em outro patamar de
confiança.
A
soma das evidências dos estudos hoje permite que identifiquemos fatores de
risco e a influência dos hábitos alimentares na saúde do coração.
Isso nos dá a possibilidade de intervir mais precocemente, prevenindo eventos
potencialmente fatais como infarto e derrame cerebral, e estender a
longevidade.
Na
realidade, as pesquisas nos mostram modelos de estilo de vida que não se
resumem aos alimentos em si, mas contemplam também fatores culturais e
geográficos. Um bom exemplo é a dieta mediterrânea. Pode
até parecer simples, mas a estreita ligação entre cardápio e fatores
socioeconômicos, religiosos e até climáticos torna difícil responder à
pergunta: qual é a melhor dieta para o coração?
Amparados
em estudos populacionais feitos ao longo das últimas décadas, assim como em
pesquisas sobre as propriedades dos alimentos, chegamos a uma direção lógica
que nos permite dar alguns conselhos gerais sobre o menu bem-vindo à
longevidade cardiovascular. Esses conselhos convivem com uma profusão de outros
indícios e mesmo modismos e atitudes radicais que
nem sempre prezam pela saúde.
Em
2020, um importante estudo liderado por pesquisadores italianos, o Opera (Obesity Program of Education, Research and
Assessment), reuniu evidências
sobre quais grupos alimentares devem ser mais ou menos priorizados pensando na saúde
do coração. Resumindo os achados, podemos dizer que esse trabalho pede para
prestarmos atenção no seguinte:
Carboidrato: a redução de 20-25% na quantidade de carboidratos simples
(arroz branco, macarrão, batata...) num período de seis meses ajuda a baixar os
níveis de gordura no sangue, a pressão arterial e
o peso corporal.
Gordura saturada: é a gordura da carne vermelha e de boa parte dos produtos
industrializados. Ela aumenta as taxas do colesterol ruim (LDL), favorece o
desenvolvimento do diabetes e eleva o risco de entupimento nos vasos
sanguíneos, a despeito do peso.
Açúcar
refinado: o risco de ter
sobrepeso ou obesidade aumenta
em cerca de 15% se você adicionar mais de uma colher de açúcar ao seu dia. Não
deveríamos ingerir mais que 5 gramas do ingrediente. O abuso faz subir o peso e
os níveis de triglicérides.
Fibras: pessoas que ingerem regularmente alimentos ricos em
fibras, como frutas e verduras, apresentam uma redução de mais de 20% no risco
de desenvolver doenças cardiovasculares. O aporte ideal de fibras promove maior
eliminação do colesterol e inibe processos inflamatórios que agridem o corpo.
Ômega-3: a gordura poli-insaturada, que abunda em pescados de água
fria, tem propriedades cardioprotetoras, entre elas diminuição do triglicérides
e defesa anti-inflamatória do endotélio, a camada que reveste internamente os
vasos.
Antocianinas: são compostos que conferem cor vermelha ou roxa aos
vegetais (morango, uva, cereja etc.). Também estão relacionados a melhor
controle das gorduras pela circulação.
Vitaminas: embora os estudos não sejam conclusivos, os
cientistas italianos relatam benefícios das vitaminas C e E nesse contexto.
Fornecidas por alimentos de origem vegetal, elas têm efeito antioxidante.
Deficiências podem aparecer com o envelhecimento.
Juntando
esses dados com outras pesquisas focadas na saúde cardiovascular, chegamos a
alguns modelos de dieta que se mostram proveitosos para o coração. Eu
destacaria:
Dieta
mediterrânea: preza pelo
consumo de frutas, legumes, verduras, cereais, azeite e peixes. E pede restrição a carne vermelha, gordura saturada e açúcar refinado. Tem resultados
contra obesidade, diabetes, pressão e colesterol altos. As sociedades americana
e europeia de cardiologia defendem fortemente a implementação desse cardápio
como forma de prevenir problemas cardiovasculares.
Dash (Dietary
Approaches to Stop Hypertension): traduzindo
do inglês, é uma dieta criada para controlar a hipertensão. Foca nos vegetais e
promove redução no consumo do sal. Ao baixar a pressão arterial, ajuda a
afastar perigos como infarto e AVC.
Dieta
vegetariana: não se pode
questionar seu valor para o coração. Um estudo da Universidade de Oxford, na
Inglaterra, mostra que ela reduz em até 30% os eventos cardiovasculares. Mas o
ideal é individualizar a adoção do cardápio, e contar com orientação
especializada, a fim de ponderar e evitar carências nutricionais.
Outras
dietas, como a cetogênica,
vêm recebendo atenção dos cientistas nos últimos tempos — nesse caso, a
combinação do teor elevado de gorduras e baixo consumo de carboidratos parece
contribuir para controle do peso e dos níveis de lípides no sangue. E vamos
aguardar o que estudos mais longos e robustos têm a nos dizer a respeito.
De
um modo geral, fica claro que existem modelos dietéticos capazes de resguardar
a saúde cardiovascular. No entanto, devemos ter em mente que a dieta isolada
não garante o sucesso da empreitada. Cada pessoa tem particularidades
genéticas e diferentes necessidades do ponto de vista energético e nutricional.
Além disso, outros elementos do estilo de vida contam pontos.
No
mundo ideal, personalizaríamos os ajustes na alimentação de cada um. Mas, se me
perguntarem com qual dieta eu fico pensando no coração, juntando os dados da
literatura médica com a experiência profissional, eu diria que a dieta
mediterrânea é um ótimo modelo. E, para que ela traga bons resultados, não
devemos descuidar do acompanhamento médico, da atividade física e de outros
itens que compõem um estilo de vida saudável.
*** Edmo Atique Gabriel é cardiologista e cirurgião cardíaco,
professor universitário e palestrante.
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