terça-feira, 25 de agosto de 2009

O IBOPE...

FONTE: Janio Lopo (TRIBUNA DA BAHIA).

Em entrevista a Veja, o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, diz que o presidente Lula não fará o sucessor. Aponta uma série de erros políticos do PT, rememora o episódio do mensalão e chega, enfim, a enumerar as contradição do partido cuja consolidação se deu através da defesa da ética, da moralidade, do combate à corrupção e tudo aquilo mais que hoje é bandeira de outras agremiações políticas – da boca para fora, claro. Concordo com as previsões de Montenegro embora, sem qualquer ofensa, caberia a ele admitir, também, que seu instituto é visto hoje por parcelas respeitáveis da população como manipulador de números, a serviço desta ou daquela candidatura e que ultimamente tem sido um desastre em termos de acertos. A autocrítica machuca e talvez por isso o senhor do Ibope opte por falar bem da sua empresa e se arvore a meter a madeira em quem achar conveniente. Ele deve acreditar no que pensa. Aliás, felizmente é livre pensar. Sinal de que Montenegro existe.
Sou, entretanto, obrigado a assentir com o raciocínio do dono do Ibope. Houvesse a oportunidade de um terceiro mandato, Lula nem precisaria tirar a faixa presidencial. É carismático e populista – não nessa ordem necessariamente. Mas Lula é Lula. Não é o PT. Não comungo porém com a tese de que ele transferirá seus votos para a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) ou para quem quer que seja. No máximo, depois de algumas baforadas, ele pode deixar uns pequenos tragos para a sua candidata. Não mais do que isso. Há um outro componente contra Lula. Apesar dele não ser PT (falo do PT autêntico, que já não respira e sequer bate o coração porque está morto e sepultado), o que resta da legenda já deu sinais de cansaço. O presidente, com todo respeito, enjoou. Ficou sem graça. Caiu na mesmice. Ninguém mais ri nem fica rubro com as bobagens que escapole da sua garganta.
Hoje, estou convencido de que os institutos de pesquisas não estavam errados quando afiançavam Paulo Souto como governador reeleito no Estado ainda na véspera do pleito de 2006. Não foram os institutos que se equivocaram. Foi Jaques Wagner quem acertou. E o fez baseado num fato simples, praticamente palpável, embora invisível a olho nu. Sem qualquer petulância vejo a derrota de Lula pelos mesmos motivos pelos quais apostei na vitória esmagadora de Wagner, levando-se em consideração uma observação deste à época eleitoral. O carlismo estava em decadência. A população, sufocada. O eleitorado ansioso por mudanças. Enfim, a sociedade não condenava as pessoas, mas o modelo velho, retrógado, ultrapassado. O tempo passava na janela, mas só o senador ACM e seu grupo político não viam. Ou não queriam ver. O Democratas baiano que substituiu o PFL tem outra cabeça hoje.
Lembro-me que há um mês e pouco da eleição de 2006, fiz uma entrevista com Wagner, então recém-saído do Ministério do Trabalho (estava acompanhado da repórter Raiane Veríssimo) na qual se abordou o definhamento do carlismo. Disse-lhe sem meias palavras: ministro, a sua vitória sobre ACM e o grupo deste (falava que haveria segundo turno) o credenciará a disputar a Presidência da República. Parênteses: (devo ter gravado esse trecho da conversa). Fecha parênteses. Como sempre gentil e humilde, Wagner riu.
Para concluir: Wagner tem todos os predicados para reeleger-se. Ao contrário do que os cientistas políticos bocejaram, nunca creditei a eleição de Wagner à sua ligação a Lula. O presidente ajudou, mas nada de especial.
Está preso aqui na garganta: antes que me asfixie com a própria saliva, melhor deixar o veneno escorregar pelos cantos da boca. Aceite ou não, Wagner acaba incorrendo em erros semelhantes aos cometidos pelo Palácio do Planalto. Mantém na sua equipe políticos de competência duvidosa ( não preciso dizer os nomes), gente de mal com a vida e consigo mesmo, que fechar as portas para prefeitos, vereadores e até deputados petistas. Para completar faz composições políticas inimagináveis, inclusive dentro da chamada direita, mas que ele vê como naturais. Com isso, tende a criar uma briga interna de proporções ainda não mensuradas. Mais: alimenta um discurso contra seu principal ex-aliado já fora de moda e de tempo. E bobeia ao esquecer de apertar os parafusos de sua comunicação para que o povão consiga interpretar suas ações e palavras. Há tempo para uma mudança radical, claro. Se não houver uma transformação nos próximos meses, serei o primeiro a berrar em alto e bom som que a reeleição do governador está por um triz. O excomungado de hoje por Wagner pode ser o ultramoderno amanhã no imaginário popular. Aliás, quem diz isso não sou eu. Nem tampouco fiz consulta com Augusto Montenegro (tenho juízo). Conto nesses casos com a minha inseparável bola de cristal (sem brilho algum), alguns búzios quebrados e imprestáveis pelo tempo, cartas de tarô cujas figuras são indistinguíveis, todos os orixás (só conheço os nomes de dois ou três), mas, o mais importante, com o meu próprio palpite, que serve para nada.

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