quarta-feira, 2 de setembro de 2009

SEPULTAMENTO SÓ PARA QUEM TEM DINHEIRO...

FONTE: Roberta Cerqueira (TRIBUNA DA BAHIA).

Já imaginou o que é perder um ente querido e ainda enfrentar o constrangimento de não ter como enterrá-lo? Muitos dos que dependiam de um dos 10 cemitérios municipais de Salvador, para sepultar amigos e parentes, ontem, sentiram na pele esta dor, em razão da paralisação dos coveiros, que cruzaram os braços para reivindicar o pagamento de dois meses de salários atrasados, os quais a prefeitura garante que repassou para a empresa terceirizada.
Se não bastassem todos os problemas encarados por quem depende de hospitais públicos e postos de saúde, para obter um atendimento médico, até que a grave dos coveiros municipais seja encerrada, nem após a morte as dificuldades se encerram, pois, quem falecer e não tiver dinheiro, para ser enterrado em um dos cemitérios particulares da capital baiana, provavelmente passará por novos empecilhos.
O Cemitério Municipal de Plataforma, ontem, funcionou com apenas um dos seis coveiros da unidade. Sem querer se identificar, temendo represálias do próprio movimento, ele disse estar passando dificuldades para sustentar a família, composta por cinco pessoas. Segundo ele, apenas um sepultamento foi agendado para ontem, às 14 horas, os demais foram cancelados por falta de coveiros.
Depois de 20 dias de internamento, no Hospital Irmã Dulce, Maria José Oliveira, 63 anos, acabou não resistindo a uma inflamação abdominal e veio a óbito, no último domingo. Dois dias após a morte, seu corpo ainda estava sem destino.
Com dificuldades para comprar o caixão, seu filho, o pedreiro Jocerval dos Santos, 36, não teve como enterrar a mãe no mesmo dia e no dia seguinte ainda se deparou com as mobilizações dos coveiros. Marcado para a manhã de ontem, no cemitério de Periperi, às 11 horas da manhã não havia nenhum funcionário para abrir a cova.
“Estou revoltado com esta situação, será possível que pobre não tem nem mesmo o direito de morrer?”, questionava ele, enquanto aguardava uma funcionária da Secretária de Serviços Públicos (Sesp), de prenome Janete. “Ela ficou de deslocar um funcionário de outra unidade para fazer o sepultamento”, dizia, enquanto aguardava na porta do cemitério, ao lado do corpo da mãe.
Na mesma situação estava a doméstica Ana Paula Alcântara dos Santos, 29, que peregrinava, há dois dias, em busca de um cemitério para fizer o enterro de seu irmão, o biscateiro Pedro Alcântara dos Santos, 28, assassinado no final de semana. “Este é o terceiro cemitério, aqui do Subúrbio, que eu visito”, disse ela, ofegante depois de correr as unidades de Plataforma, Paripe e por último Periperi. O corpo do jovem permanecia do IML (Instituto Médico Legal).
Já no Cemitério Municipal de Brotas, um sepultamento foi realizado, pela manhã. De acordo com os dois coveiros, em atividade no local, segundo relatos dos mesmos, eles teriam sido transferidos de outras unidades, um procedimento, de acordo com eles, comum à atividade. O enterro estava marcado para as 10 horas, mas, passadas 11h30, ainda não havia ocorrido.
A Sesp informou que os valores já foram repassados para a empresa terceirizada Alternativa, que procurada pela reportagem da Tribuna da Bahia, negou a afirmação. De acordo com Bruno Figueiredo, gerente comercial da empresa, os valores ainda não foram pagos pelo município, o que acabou gerando os atrasos das folhas de pagamento dos funcionários. No entanto, assegurou que os valores referentes ao mês de julho foram pagos, ontem, por volta do meio dia.

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