domingo, 28 de março de 2010

FILME DE DANIEL FILHO FESTEJA CEM ANOS DO MÉDIUM CHICO XAVIER...

FONTE: Doris Miranda (CORREIO DA BAHIA).
Nem parece que ele se foi. Morto em 2002, aos 92 anos, no dia da final da Copa do Mundo Japão-Coreia do Sul, quando o Brasil se tornou pentacampeão, Francisco Cândido Xavier (1910-2002) continua muito presente no coração dos brasileiros.
Não só dos 2,3 milhões que, segundo a Federação Espírita Brasileira (FEB), professam os ensinamentos do espiritismo, doutrina da qual o médium mineiro se tornou o maior símbolo no país. Mas também dos fiéis de outras religiões, que acreditam na força de seu discurso, pautado pelas demonstrações de amor ao próximo.
Prova disso é o número de obras em homenagem a Chico que começam a chegar ao mercado a partir de sexta (dia 2), quando o espírita nascido em Pedro Leopoldo faria cem anos se encarnado estivesse.
A ponta do iceberg é ‘Chico Xavier’, cinebiografia afetiva dirigida por Daniel Filho (Se Eu Fosse Você 1 e 2), que entra em cartaz em mais de 300 salas brasileiras, depois de uma maratona de pré-estreias concorridas, incluindo Pedro Leopoldo, Uberaba (MG) e Paulínia (SP), onde boa parte do filme foi rodado.
A produção, realizada com orçamento de R$ 11 milhões, é estrelada por Matheus Costa (11 anos), Ângelo Antônio (45) e Nelson Xavier (68), que vivem Chico Xavier na infância, juventude e maturidade, respectivamente, revelando um homem que se confundiu com santo, recebeu a acusação de charlatão, mas foi amado por sua bondade, acima de qualquer suspeita.
“A mensagem de Chico Xavier é permanente. Não são ensinamentos religiosos, mas sim de vida”, opina o ateu Daniel Filho, 72 anos, que assumiu o trabalho em honra do amigo espírita Augusto César Vanucci (1934-1992).
A trama resgata a história do médium a partir do livro As Vidas de Chico Xavier, lançado em 2003 pelo jornalista Marcel Souto Maior: “Imaginei dez cenas que não podiam faltar no filme. E, sem saber disso, Daniel colocou todas elas”, diz. O roteiro é adaptado por Marcos Bernstein, de Central do Brasil.
MISSÃO.
Condensando acontecimentos de 1918 a 1975, a trama se inicia com um Chico ainda menino (Matheus Costa), quando começa a ser atormentado. Tanto pelos espíritos que conversam com ele a todo instante, quanto pela madrinha má (Giulia Gam), que lhe inflige castigos violentos para tentar romper aquilo que chama de aliança com o capeta.
Ele tem consolo somente no colo da mãe já morta (Letícia Sabatella), que lhe orienta a aceitar tudo o que for imposto, pois o retorno virá mais tarde. Já adulto (Ângelo Antônio), Chico assume a mediunidade como missão e começa a escrever os primeiros dos mais de 400 livros psicografados com a ajuda do espírito Emmanuel (André Dias), materializado no filme a partir das descrições do religioso.
Para conseguir unidade na interpretação dos três atores, Daniel Filho apelou para métodos não convencionais. Ensaiou com todos juntos o texto completo, fez um trabalho de padronização de voz e sugeriu aos intérpretes que consultassem uns aos outros para encontrar o tom certo. Mas, acima de tudo, deixou que cada um tomasse suas próprias providências. Ângelo Antônio borrifava sobre si e os outros o perfume de Chico que ganhou da família dele, em Uberaba. Nelson Xavier rezou e vestiu os ternos originais do médium. Daniel Filho foi a um centro e recebeu uma mensagem de Bezerra de Menezes, espírito de um médico que operava através de Chico Xavier.
LANÇAMENTOS.
O centenário de Chico Xavier vai render outros frutos, além da obra de Daniel Filho. A previsão é de que mais cinco filmes sobre o médium sejam lançados até o final de 2011.
O mais esperado desses é, sem dúvida, Nosso Lar, baseado no livro psicografado por Chico Xavier em 1944, a partir do texto ditado pelo espírito de André Luiz. Dirigido por Wagner de Assis (A Cartomante), o filme tem efeitos especiais e estreia prevista para setembro.
Nesse mesmo mês, a documentarista Cristiana Grumbach (Morro da Conceição) lança As Cartas, que apresenta relatos de mães que receberam textos supostamente psicografados por seus filhos.
As mensagens familiares também inspiram As Mães de Chico, de Glauber Filho (Bezerra de Menezes: O Diário de um Espírito), que começa a ser filmado no mês que vem com Nelson Xavier novamente no papel de Chico. “Mas, dessa vez, faço ele bem velhinho, numa participação rápida”, revela Nelson.
Outro livro psicografado por Chico Xavier, A Vida Continua, deve ser vertido para o cinema em dezembro, com direção do ator Paulo Figueiredo. Mas não é só cinema. O paranormal vai virar até personagem de HQ com o lançamento de Chico Xavier em Quadrinhos (Ediouro), com arte de Rodolfo Zalla, roteiro de Franco de Rosa e textos psicografados pelo espírita.
Como se vê, as palavras de amor e esperança de Chico Xavier ainda encontram eco: “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”.
A TRISTE HISTÓRIA DE CHRISTIANE TORLONI.
Quando o telefone tocou na casa de Christiane Torloni, convidando para a leitura do roteiro do próximo filme de Daniel Filho, ela topou na hora. Sentada ao lado de Tony Ramos na mesa da produtora do diretor, ela seria a voz da personagem Glória. Não sabia nada além disso. Quando Nelson Xavier começou a leitura na voz mansa de Chico, a história foi se construindo. Tony Ramos era um diretor de televisão que conduzia a transmissão ao vivo de uma entrevista com Chico Xavier. Glória, chorosa, observava na plateia as respostas do médium mineiro. Com o avançar da leitura, a trama ficou clara. Os personagens de Tony e Christiane eram casados e tinham perdido o único filho. Ele negava os sentimentos, ela buscava consolo.
Quando percebeu isso, a atriz interrompeu a leitura e desabou num choro incontrolável. Afinal, Christiane perdeu um dos seus filhos gêmeos num terrível acidente, 18 anos atrás, atropelando-o quando ela tirava o carro da garagem. Padrinho do menino, Daniel Filho ficou mortificado. Pediu desculpas e disse que pensou em ajudá-la a superar aquela dor há tempos abafada. Quando sugeriu que escolhesse outro papel, Christiane negou.
“Não, Daniel, quero fazer. Não posso recusar esse papel”, disse ao compadre. O que se vê na tela, portanto, é uma mulher machucada, que teve a coragem de emprestar sua própria dor para o personagem, cujo ápice do sofrimento se revela em gestos simples, como o alisar carinhoso da cama do filho ausente.
ATOR AFIRMA QUE CHICO XAVIER É O PAPEL DE SUA VIDA.
Nelson Xavier, 68 anos, conta que nunca pediu papel a nenhum diretor. Mas bastou saber que Daniel Filho ia assumir ‘Chico Xavier’ para mudar de ideia. “Liguei para ele e me escalei”, relembra. “Fiquei fascinado com o personagem”, justifica, emocionado. Aliás, é só falar sobre a influência de Chico em sua vida para Nelson ir às lágrimas. Confira, a seguir, trechos da entrevista com o ator, feita em Paulínia, São Paulo.

O SENHOR DISSE QUE INCORPORAR CHICO XAVIER TEVE UM EFEITO DEVASTADOR. O QUE QUER DIZER COM ISSO?
Foi como uma cachoeira de emoção, como ser invadido por uma onda de amor. Uma coisa tão forte que não pude resistir ao legado desse homem santo. Foi o meu grande papel.

MAS SUA SEMELHANÇA COM ELE É IMPRESSIONANTE...
Tentei interpretá-lo, não imitá-lo. Senti sua presença o tempo inteiro e foi isso que me conduziu.

PODE EXPLICAR ESSA ONDA DE AMOR?
Chico Xavier me fez lembrar que o amor e a fé têm que estar presentes na vida da gente. E o amor é o caminho para a transformação, uma forma de exercer política.

O SENHOR TEM DITO QUE O CHICO XAVIER FOI UMA FORMA DE RECONCILIAR-SE COM SUA MÃE, ESPÍRITA COMO ELE.
Todas as vezes que o Chico rezava no filme pedindo a presença da mãe era eu pedindo a presença da minha. Eu resgatei minha relação com minha mãe. Sempre zombei da fé dela, da fé que ela queria que eu seguisse. Não posso deixar de me lembrar dela (chorando).

CHICO XAVIER TEVE A MESMA INFLUÊNCIA QUE LAMPIÃO SOBRE O SENHOR?
Sim. Lembro que, quando vestia a roupa de Lampião, me sentia o cavalo dele, no sentido espiritual. Agora, com Chico, aconteceu a mesma coisa.

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