quarta-feira, 24 de março de 2010

VIGILANTE É QUEIMADO VIVO...

FONTE: Silvana Blesa (TRIBUNA DA BAHIA).

Moradores do bairro de Castelo Branco estão em pânico com a onda de violência. Os traficantes estão arrombando residências e roubando o que encontrarem de valor no imóvel, para saciar o vício das drogas. E os residentes, acabam se calando com medo de represálias, à mercê da bandidagem. Por não aceitar o roubo em sua residência e discutir com os ladrões que são moradores da área, segundo familiares, o vigilante Josué Manuel da Cruz, de 44 anos, pagou com a vida o preço da denúncia. Ele teve sua casa invadida na noite de anteontem, foi amordaçado, amarrado num bicama, torturado, tendo uma perna e um pé quebrados, assim como uma perfuração de faca no peito e acabou queimado vivo.
Era por volta das 23 horas de segunda-feira, quando vizinhos escutaram o barulho das telhas quebrando em conseqüência do fogo na residência de Josué. Imediatamente, todos os vizinhos correram com baldes com água para tentar apagar as chamas que já tomavam conta de todo o imóvel. Há poucos metros da casa do vigilante, os pais dele souberam da notícia e correram em busca de ajuda para apagar o fogo.
“Como a porta do imóvel estava trancada, pensamos que ele não estava. Também passamos a acreditar que ele havia deixado alguma panela no fogo, foi deitar e esqueceu, mas quando a perícia disse que ele foi torturado, tendo a perna e um pé quebrados, além da perfuração no peito e encontrado amarrado na bicama, não pensamos em outra coisa a não ser, ação dos traficantes com os quais ele havia discutido em razão do roubo em sua casa”, contou um irmão do vigilante. O Corpo de Bombeiros foi acionado, mas os vizinhos já haviam apagado o incêndio quando eles chegaram.
A aposentada Maria Madalena, de 82 anos, mãe de Josué, estava indignada com tamanha monstruosidade que fizeram com o seu filho. Mãe de 13 filhos, a aposentada relatou os últimos momentos que passou com Josué. “Era por volta das 21 horas, quando ele esteve aqui na minha casa. Josué levou uma carne e alguns mantimentos para preparar. Mais tarde só recebemos a notícia que a casa dele estava em chamas.
Ainda tentei descer até lá, mas os vizinhos não me deixaram ir. Estou sem acreditar até agora que meu filho foi morto de uma forma tão brutal. Ele era trabalhador, uma pessoa sem inimigos. Todos os vizinhos daqui gostavam dele. É lamentável o que aconteceu, e só Deus pode nos ajudar”, desabafou a mãe.
AÇÃO PREMEDITADA.
Até agora, os agentes da 10ª Delegacia de Pau da Lima trabalham com a hipótese de uma vingança em razão do vigilante ter discutido com traficantes, que, na sexta-feira passada, arrombaram sua residência e roubaram objetos. O delegado que investiga o caso, Pedro Andrade, disse que pelas evidências da cena do crime, os autores estavam com muita raiva da vítima. “Foi uma barbaridade. Os moradores têm que ficar reféns desses monstros?”, perguntava o delegado, revoltado com o assassinato.
Segundo familiares, ele sabia quem havia cometido o roubo, foi até os marginais e discutiu com eles. Na noite de anteontem, os mesmos assaltantes teriam preparado a morte da vítima. Assim que ele saiu da casa da mãe e seguia com os mantimentos para sua residência, os autores da agressão foram avisados e já esperavam a vítima, que residia no Loteamento São Cristóvão, Rua 43, bairro de Castelo Branco, local de difícil acesso, devido às escadarias. Ao entrar em casa, os bandidos rapidamente invadiram, impossibilitando reação por parte da vítima. Outra moradora da área também teve a casa arrombada e vários objetos roubados.
Daí em diante, as cenas de torturas começaram. Primeiro, eles amordaçaram o segurança, para evitar que ele gritasse e chamasse atenção dos vizinhos. Quebram uma perna dele, um pé, fizeram uma perfuração de faca no peito, amarraram o vigilante num bicama na sala do imóvel e fugiram ateando fogo no carpo da vítima. O rapaz foi queimado vivo, e os assassinos fugiram trancando a porta por fora, e levando a chave. Quando os vizinhos conseguiram apagar o fogo e arrombar a porta, se depararam com uma cena estarrecedora. O corpo do vigilante estava totalmente carbonizado, mas ainda eram perceptíveis os sinais de tortura.
MORADORES REFÉNS DA VIOLÊNCIA.
“Aqui está de mais. E o pior disso tudo é que não podemos fazer nada. Nem mesmo denunciar. Nossas casas são invadidas, somos assaltados e temos que fingir não ver nada. Os traficantes comercializam drogas em plena luz do dia e temos que passar por eles, e nem olhar. Nossos filhos crescem vendo isso tudo. Em que mundo vivemos e até onde vamos sofrer com essa situação? Cadê as autoridades?”, desabafou um parente do vigilante.
A moradora que teve a casa arrombada na semana passada não denunciou a ação dos criminosos temendo represálias. Moradores evitaram conversar com a imprensa a respeito dos roubos e do assassinato. “Ninguém vai falar nada. Até porque os moradores não vão pôr suas vidas em risco. Aqui, olho viu, boca pio, ninguém quer ser o próximo”, revelou o cunhado de Josué, Carlos Antônio Santos.
Josué Manuel da Cruz morava sozinho na residência desde a morte de sua esposa, há cinco anos. Ele tem uma filha de 20 anos, que não residia com ele. Nas horas vagas, o vigilante, que também fazia biscate de pedreiro, era compositor e cantava em rodas familiares. “Lembro do meu irmão cantando alegre, as músicas que ele mesmo fazia. Era uma pessoa tranquila, não perturbava ninguém. Seu único vício era a bebida alcoólica”, disse a irmã, Janete.
O delegado Pedro Andrade e os agentes de investigação estão buscando informações que levem à prisão dos agressores. O enterro de Josué será realizado na manhã de hoje.

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