domingo, 21 de agosto de 2011

EM JEQUIÉ, SOBRAM VÍTIMAS DA GUERRA ENTRE MOTOS E CARROS...


FONTE: Jairo Costa Júnior e Alexandre Lyrio, CORREIO DA BAHIA.

Dos 417 municípios baianos, Jequié é um dos 288 cujo número de motos ultrapassou o de carros.


A bruxa estava à solta no dia 2 de agosto, em Jequié, segunda maior cidade do Sudoeste baiano. Naquele domingo, três pessoas morreram e outras 12 foram afetadas diretamente pela guerra que tomou conta do trânsito do município de 152 mil habitantes.


Os mortos e feridos de mais um dia de batalha movida a combustível tem origem em outro fenômeno causado pelo crescimento da frota no interior do estado: dos 417 municípios baianos, Jequié é um dos 288 cujo número de motos ultrapassou o de carros. Como resultado do surto de duas rodas, os dois grupos se engalfinham por espaço.


De um lado, o grupo que convém chamar de ‘maremotos’, pela voracidade com a qual cruza o tráfego de paralelepípedos e asfalto de Jequié. Do outro, os ‘carrocidas’. E, no meio, aqueles que não têm poder para lutar contra nenhum dos lados dessa guerra. É o caso do aposentado Idelton Araújo, 76 anos, um dos dilacerados do domingo da bruxa.


“Estava atravessando a rua em frente à rodoviária (no centro da cidade) quando uma cara passou de moto e me atropelou. O sujeito, gente ruim, se mandou”, diz, enquanto tenta se recuperar da fratura exposta na perna direita e de três costelas quebradas. Já o autônomo Edenilso Miranda, 49 anos, estava na garupa de uma moto na avenida Tote Lomanto, periferia de Jequié, quando um Gol preto não identificado colheu o veículo. Resultado: três dedo na mão esquerda a menos e escoriações pelo corpo inteiro.


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Às vezes, os dois grupos são vítimas do que se pode chamar de ‘roda amiga’. Dois dos três mortos do domingo eram motociclistas que se chocaram. Um deles, o mecânico Ademir Silva França, tentava escapar de um carro que ziguezaveava no bairro Mandacaru quando bateu de frente com outro piloto, ambos vítimas fatais.


Já o vendedor de artefatos de couro Eliézer Alves Santos, 61 anos, cruzava com seu Fusca 1974 pelo centro da cidade quando foi fechado por um caminhão. Para escapar, bateu em uma árvore. O que lhe rendeu fraturas expostas nas duas pernas. “O negócio aqui é brabo. Quem não tiver muito cuidado acaba como eu”, diz.


UNIDADE DE COMBATE.

Para receber os feridos, o Hospital Prado Valadares, o único público da cidade, virou a emergência da guerra. “Hoje, mais de 80% dos atendimentos são decorrentes da batalha diária do trânsito”, informa o diretor administrativo da unidade, Sílvio Arcanjo. Na quarta-feira, 4 de agosto, o Prado Valadares parecia um hospital típico dos fronts iraquianos.


Nos corredores lotados, conta o enfermeiro plantonista Ramon Evangelista, as equipes eram todas voltadas à ala de traumato-ortopedia, criada há três anos para absorver a demanda do conflito. As mulheres também fazem parte da guerra em larga escala. Na ala feminina da enfermaria, das dez internadas, sete foram vitimadas no trânsito.


Uma delas, Danuza Silva, 27 anos, é a viúva de Ademir e estava na garupa da moto na hora do choque. Com fraturas por todo o corpo, só a sedação imposta a fazia esquecer aquele domingo de tragédias.


AS ‘NOVAS DÉLIS’ DO TRÂNSITO.

Passava das 18h de quinta-feira, 5 de agosto, e os motoristas e pilotos de Valença rumavam para mais um dia de semelhanças com Nova Déli, a capital da Índia, conhecida pelo completo caos no trânsito. Embora tenha apenas 88 mil habitantes e uma frota de 14.754 veículos, a cidade do Baixo Sul da Bahia vive o desespero do desordenamento.


Sobretudo, pela característica urbana de um município de 161 anos, cujas ruas ainda exibem o traçado antigo. Para completar, Valença é o entreposto para o badalado arquipélago de Tinharé, onde está situado o Morro de São Paulo, ilha frequentada por turistas de todo o mundo. A cidade também é cortada pela BA-001, a chamada Linha Verde, que margeia o litoral baiano.


Com isso, caminhões, carros - de motor e de mão - motos, bicicletas, ônibus e até carroças se juntam para formar a tragicomédia do trafégo travado, onde sobram episódios pitorescos, como relata o cirurgião ortopedista Marcus Frederico Laytynher, que atua há quase uma década na cidade, quando ela tinha uma frota de 4.454 veículos.


O médico conta que na ponte Inocênio Galvão de Queiroz, que une o município dividido pela foz do Rio Una, a prefeitura pôs uma trave de futebol em uma das pistas, no afã de impedir a circulação de caminhões, ônibus e picapes no centro.


“A população, revoltada, jogou a trave no rio. O prefeito (Ramiro José Campelo) mandou, então, chumbá-la para ninguém tirar mais”, diz.

Agora, carros e motos de Valença, que se embicam em meio ao caos, não passam pela ponte. Fazem gol. Para vitaminar o colapso, das três sinaleiras do município, apenas uma funciona.

Outras duas cidades - Alagoinhas, no Nordeste, e Santo Antônio de Jesus, na parte sul do Recôncavo baiano - também guardam similaridade com a capital da Índia.

A primeira, com seus 142 mil habitantes, e a segunda, com cerca de 90 mil moradores, parecem cenários de um filme de Bollywood, a capital do cinema indiano.

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