FONTE:*** GIULIANA MIRANDA, ENVIADA ESPECIAL A CHICAGO (www1.folha.uol.com.br).
Sucesso
de vendas e com alto custo, os remédios contra o diabetes tipo 2 com
base no hormônio GLP-1, os "primos do Victoza", são o xodó da
indústria farmacêutica. Por seu potencial emagrecedor e por causar baixa incidência de hipoglicemia, esses
medicamentos também ganharam a preferência de endocrinologistas.
Agora,
com o uso continuado dos primeiros medicamentos dessa classe por uma quantidade
grande de pacientes, começaram a surgir trabalhos científicos indicando risco
aumentado para pancreatite e alguns cânceres.
O
GLP-1 é um hormônio produzido normalmente pelo organismo que favorece a
liberação da insulina e contribui para a sensação de saciedade. Esses novos
remédios, grosso modo, usam hormônios similares ao GLP-1 para turbinar esses
efeitos.
De
acordo com autores de artigos que questionam a segurança dos medicamentos, seus
efeitos potencialmente perigosos foram omitidos dos testes clínicos
apresentados pelas farmacêuticas.
"As
partes individuais de evidências não publicadas podem parecer inconclusivas,
mas, quando consideradas com outras evidências emergentes ou já antigas, um
quadro preocupante surge" disse Deborah Cohen, diretora de investigação do
"British Medical Journal", que publicou um extenso material sobre o
assunto neste mês.
O
assunto foi debatido na reunião científica da ADA (Associação Americana do
Diabetes), que terminou nesta semana em Chicago (EUA).
As
farmacêuticas negam que tenha havido omissões e endocrinologistas saíram em
defesa dos produtos, considerando que os dados ainda não são conclusivos.
"O
paciente com diabetes tem maior propensão a desenvolver pancreatite e alguns
cânceres. Os resultados não conseguiram provar uma relação de causalidade entre
as drogas e esses problemas", disse o endocrinologista Freddy
Eliaschewitz, diretor do CPClin (Centro de Pesquisas Clínicas), de São Paulo.
Marcos
Tambascia, endocrinologista e professor da Unicamp (Universidade Estadual de
Campinas), concorda com o colega e destaca que as novas drogas têm recebido
atenção por obter perda de peso.
Esse
efeito fez com que muita gente que não tem diabetes usasse o remédio como
emagrecedor, o chamado uso "off label" (fora da bula).
"É
muito arriscado. Não há testes que confirmem a segurança ou possíveis efeitos
colaterais. Não é nem possível calcular a dose adequada", disse
Eliaschewitz.
O
diabetes tipo 2, diretamente relacionado à obesidade, é uma epidemia mundial.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, 347 milhões de pessoas têm o problema.
Devido
ao alto custo --cerca de R$ 400 por mês, enquanto que a terapia-padrão, a
metformina, é distribuída gratuitamente no país-- e à quantidade cada vez maior
de potenciais usuários, essas drogas vêm recebendo investimentos da indústria.
O
Victoza (liraglutida), o primeiro a ficar "famoso", e o Byetta
(exosenatida) já são vendidos no Brasil. A Sanofi espera trazer sua versão, o
Lyxumia (lixisenatida), já aprovado na Europa e na Austrália, no início do ano
que vem.
A
albiglutida, da GSK, e a dulaglutida, da Eli Lilly, mostraram bons resultados
em estudos com versões para serem injetadas só uma vez por semana. Os demais
são de dose diária, exceto o Byetta, usado duas vezes ao dia.
*** A jornalista GIULIANA MIRANDA viajou a convite da Sanofi.
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