FONTE: Amanda Sant’Ana, TRIBUNA DA BAHIA.
A guloseima consumida na hora do recreio, a
substituição de uma refeição por um lanche fast food, o biscoito e o salgadinho
consumidos no final de tarde em casa, aliados ao sedentarismo, estão
contribuindo, cada vez mais, para que crianças e adolescentes se tornem obesos.
Isso porque os principais meios de diversão dessa nova geração são o
computador, os jogos em celulares e o videogame. Esse comportamento é observado
no Brasil e também nos Estados Unidos.
Através de uma pesquisa
brasileira do Orçamento Familiar, realizada em 2009 pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), 36,6% das crianças estão acima do peso, um índice preocupante, que mostrou um significativo
crescimento da obesidade neste grupo nos últimos anos: “Hoje, observamos que os
centros urbanos concentram grande parte dessa jovem população, justamente pelo
fácil acesso às grandes redes de fast food, que não oferecem um cardápio
adequado para substituir a refeição de dentro de casa. Aliado a este fato está
o modo de vida sedentária que este jovem leva na cidade, no qual utiliza a
tecnologia como única forma de diversão e lazer em seu dia a dia”, avaliou o
cirurgião do aparelho digestivo, Dr° Luiz Vicente Berti.
Para, o especialista, foi-se o
tempo em que ser uma criança gordinha era sinônimo de saúde. Na opinião
dele, a obesidade não é mais apenas um problema estético: “O excesso de peso
pode provocar o desenvolvimento de várias doenças metabólicas já na primeira
fase da vida, como diabetes, problemas cardiorrespiratórios, ortopédicos e de
cirrose hepática por excesso de gordura depositada no fígado - a chamada esteatose”, comentou.
Tratamento.
Considerada uma epidemia da
modernidade, no Brasil, a obesidade gera um gasto anual de mais de R$ 400
milhões ao Sistema Único de Saúde (SUS), com tratamentos voltados às doenças
relacionadas a este mal. Por isso, em março deste ano o Ministério da Saúde
assinou a portaria que define desde a orientação e apoio a mudanças de hábitos
até critérios para a realização de cirurgia bariátrica, que reduziu de 18 para
16 anos a idade mínima para a realização do procedimento. Além disso, não
existe mais idade máxima para a realização da cirurgia, que até então era de 65
anos. Hoje, a norma determinante é a avaliação clínica, na qual se leva em
conta os riscos e benefícios que podem
acometer o paciente.
De acordo com o cirurgião, o
tratamento da obesidade infantil exige esforço, não só para a criança, mas
também para a família.
A criação de pequenos hábitos saudáveis, o
incentivo a uma alimentação rica e apropriada, a realização de exercícios
físicos e comportamentos que levam à melhoria da qualidade de vida são fundamentais.
“O método mais indicado para
tratar a obesidade em crianças e em adolescentes se baseia, principalmente, na
combinação de uma dieta prescrita por nutricionista aliada ao programa de
atividade física regular com acompanhamento psicológico. Vale acrescentar que o
apoio e estímulo da família são fundamentais durante o tratamento da obesidade.
E quando os resultados da terapia de conduta não são satisfatórios, a
cirurgia bariátrica é a indicação para reverter o quadro”, afirma Dr. Berti.
Fique atento!
Alguns alimentos devem ser evitados com
intuito de uma boa alimentação, além de evitar a obesidade infantil. Abaixo,
pontuamos algumas atitudes que podem colaborar com o aumento de peso nas
crianças e devem ser evitadas:
-- Oferecer comida como recompensa - dizer
que a criança só vai comer a sobremesa se comer tudo. Esse tipo de chantagem
passa a ideia de que fazer uma refeição não é bom, mas a sobremesa sim.
-- Ameaçar a criança se ela não comer salada
- essa atitude pode criar uma aversão maior a verduras, legumes.
-- Não dar o exemplo - pais que se alimentam
de forma desbalanceada, dificilmente convencerão seus filhos a comer
corretamente. Não adianta exigir que o filho tome suco natural, se os pais só
consomem refrigerantes.
-- Ceder ao primeiro “não gosto” - as
crianças têm suas preferências alimentares e elas devem ser respeitadas. Mas
além de oferecer os alimentos que a criança mais gosta e pede, é importante
também insistir e oferecer os demais alimentos, para que ela entenda que os
alimentos que ela não gosta também são importantes.
É comum a criança aceitar novos alimentos
apenas após algumas tentativas e não nas primeiras. Insista, em algum momento
ela pode ceder.
-- Não deixar a criança sentar à mesa - a
refeição da criança deve ser servida na mesa, junto com os adultos. Ela deve
ter a oportunidade de, enquanto aprende a comer à mesa, participar da refeição
familiar, reforçando os laços familiares de união e tornando a refeição um
momento agradável.
-- Não estabelecer horários para as
refeições - as crianças necessitam de regras e horários para se alimentar.
Chantagens do tipo “se não comer, não brinca’”, por exemplo, devem ser
evitadas.
O ideal é que se estabeleça uma disciplina
que mostre “a hora de brincar e a hora de comer”, para que esses tipos de
situações não se misturem na cabeça da criança.
Modificação do estilo de
vida ajuda.
Como o tratamento interdisciplinar da
obesidade se baseia na modificação do estilo de vida, o que implica na
alteração dos hábitos alimentares e físicos, o especialista considera vital que
o paciente conte com um trabalho integrado de acompanhamento da área
nutricional, psicológica e de atividade física, não somente antes, mas também
após o tratamento clínico ou cirúrgico da obesidade.
Nos casos cirúrgicos, para combater a
obesidade infantil são indicadas as técnicas do balão intragástrico, banda
gástrica ajustável, gastrectomia vertical e bypass gástrico: “A cirurgia
bariátrica é uma técnica que vem sendo realizada desde 1974 e já conquistou seu
espaço entre os tratamentos para combater a obesidade e controlar as doenças
metabólicas, sendo considerada padrão ouro nestes casos. O procedimento tem
apresentado bons resultados na perda de peso, refletindo positivamente na
qualidade de vida, na imagem corporal e na melhoria da saúde física e emocional
dos pacientes submetidos”, concluiu.
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