FONTE: Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil, TRIBUNA DA BAHIA.
O coronel da Polícia Militar (PM) do Rio de
Janeiro, Jorge da Silva, membro da Comissão Brasileira sobre Drogas e
Democracia (CBDD), manifestou-se nesta sexta-feira (21/03) contra a proibição
penal relativa ao uso de drogas.
Silva foi um dos participantes do debate
Legalizar é o Caminho?, promovido pelo Conselho Municipal Anti-Drogas (Comad)
sobre a liberação ou não do uso da maconha.
Falando à Agência Brasil, o coronel,
que é ex-chefe do Estado Maior da PM, esclareceu que “o modelo que temos, de
combate policial, penal, carcerário, para resolver uma questão social, já se
provou um fiasco. Basta ver o que ocorre em grandes cidades como São Paulo e,
principalmente, Rio de Janeiro, nas quais temos pessoas morrendo aos
borbotões”. Isso inclui, segundo Jorge da Silva, policiais, traficantes,
supostos traficantes e pessoas das comunidades.
“As comunidades estão com medo. Há ataques
de traficantes às bases policiais, traficantes matando policiais e estes matando
traficantes. Em suma, no final, nós temos aqui um modelo que acaba resultando
em brasileiros matando brasileiros”.
Ele lembrou que em 1998 a Organização
das Nações Unidas (ONU) queria impedir o avanço das drogas, em dez anos, por
meio da repressão policial. Em 2008, viu-se que o objetivo não foi alcançado,
disse. “É uma matança tremenda”.
Silva insistiu que o modelo está
ultrapassado. Para ele, é preciso pensar a questão das drogas em termos de
prevenção, educação, saúde pública e restrições administrativas.
“Acho que é preciso tirar o controle das
mãos dos traficantes”. Salientou que os Estados Unidos, na década de 1930,
quando declararam guerra ao álcool, o que conseguiram foi inventar o crime
organizado no modelo atualmente em vigor.
“Quando viram a besteira que fizeram,
voltaram atrás com uma nova emenda constitucional e o álcool passou a ser
controlado pelo governo. Hoje, é mais fácil tomar bebida alcoólica no Brasil do
que nos Estados Unidos”.
Jorge da Silva não gosta do termo
legalização da maconha. Ele prefere controle. Daí, admitiu que o
controle do uso dessa droga pelo governo poderia ser feito como
experiência, no Brasil. “Uma coisa eu garanto: piorar não vai”. Voltou a
insistir que o modelo que vige hoje, no país, “é insano”.
Já o presidente da Associação Brasileira de
Alcoolismo e Drogas (Abrad), psiquiatra Jorge Jaber, diz ser contrário à
legalização da maconha, por razões médicas. Ele disse à Agência
Brasil que já está comprovado que o uso da maconha, em especial por pessoas
jovens, compromete de forma significativa os neurônios.
“Há uma morte dos neurônios cerebrais, que
ocorre lentamente. Isso leva a um transtorno cognitivo, isto é, a uma
perda da capacidade de memória e de desempenho intelectual. Então, sob o ponto
de vista neurológico, há a destruição do cérebro”, informou.
Jaber acrescentou que do ponto de vista
pulmonar, o uso da maconha acarreta a instalação de bronquite e de câncer de
traqueia e de brônquios. A droga provoca também alteração na produção de
espermatozoides no homem e disfunção sexual. Do lado psiquiátrico,
disse que o uso da maconha está “fortemente associado” a transtornos
psicóticos.
“Ou seja, doenças em que o paciente perde
totalmente o contato com a realidade e pode desenvolver alucinações
visuais e auditivas, delírios persecutórios, principalmente, o que leva, por
exemplo, a situações de descontrole, colocando em risco a própria vida ou de
terceiros. Então, sob o ponto de vista médico, a maconha causa inúmeros
problemas”, apontou.
O presidente da Abrad, que integra também o
Conselho Municipal Anti-Drogas (Comad), informou que, no Brasil, está se
confirmando o uso crescente de maconha em idades cada vez mais jovens.
Ele argumentou que não há nenhuma vantagem cientificamente comprovada de que o
uso da maconha traga algum benefício, além de uma sensação que consideram
agradável.
Destacou que em populações das
classes média e média alta das maiores capitais, que têm acesso a
bens, a uma boa alimentação, a práticas esportivas, o prejuízo do consumo da
maconha é menor do que em populações de baixa renda. “Aí é uma catástrofe. É
uma garotada que não tem escola, que não se alimenta bem. É um pessoal mais
complicado e que, certamente, ficará bastante comprometido”.
Outro argumento contra a legalização da
maconha, levantado por Jaber, está ligado ao controle da droga.
“Se a proibição da venda de tabaco e
de álcool para crianças e adolescentes fosse respeitada, nós poderíamos
acredita que também a maconha, quando fosse liberada, poderia ser
controlada e os jovens não iam usar. A verdade, porém, é que não conseguimos
controlar o uso de álcool”.
Esse é um ponto importante da questão, sob o
ponto de vista de saúde pública, acrescentou, “porque nós não temos recursos
suficientes para tratar as pessoas que sofrem do uso de drogas atualmente.
Imagina quando aumentar o consumo”.
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