FONTE: Eduardo Schiavoni, do UOL, em Americana (SP) (noticias.uol.com.br).
Portador de uma síndrome que impede seu
crescimento e desenvolvimento, o menino Luan Magalhães, 9, passou, na tarde
desta quarta-feira (3), pelo transplante de rim que poderá dar a ele uma vida
normal. A doadora foi a própria mãe do garoto, que cedeu um de seus dois órgãos
para que a operação fosse realizada. Segundo o Hospital da Criança de São José
do Rio Preto (440 km de São Paulo), onde o procedimento foi realizado, ambos
passam bem.
O transplante foi o primeiro do tipo intervivos
realizado na instituição. A cirurgia durou aproximadamente cinco horas e
envolveu uma equipe de 20 profissionais da área médica. Após o procedimento, no
qual o rim direito foi implantado no corpo do menino, Luan foi encaminhado à
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital, onde deve permanecer por pelo
menos três dias. Já a mãe, Kenia Shirley Marques Magalhães, 34, foi enviada
para o quarto.
O nefrologista Rodrigo José Ramalho, que
acompanha o menino desde sua internação, afirma que o transplante permitirá que
Luan tenha uma vida mais próxima da normalidade. "O risco de ele ter
rejeição existe, mas as chances são pequenas, sobretudo porque recebeu o órgão
da mãe. Como ainda é criança, o rim vai se adaptar ao organismo", explica
o nefrologista. "A mãe também será acompanhada pela equipe da nefrologia,
já que estará com um único rim no corpo e não poderá ter qualquer problema
renal", completa Ramalho.
Doação de órgãos.
O pai do menino Luan Magalhães diz que tanto ele
quanto a mulher eram contra a doação de órgãos anteriormente. "Nós
achávamos que a pessoa que doa o órgão poderia sobreviver se ele não fosse
retirado, que as pessoas podiam adiantar a morte para ficar com o órgão. Mas
mudamos de opinião quando nosso filho precisou", contou Kenia Shirley
Magalhães, que chegou a colocar na carteira de habilitação a opção de não
doadora. "Eles perguntaram, e eu não quis. Precisou acontecer isso com meu
filho para eu mudar minha opinião", disse.
Antes da cirurgia, a mãe também explicou que
nunca se imaginou doando um órgão. "Sempre fui conta, nunca imaginei
tirando um pedaço de mim e dando para outra pessoa.", afirmou. "Mas
agora mudei de opinião e faço até campanha. É uma coisa maravilhosa, que ajuda
as pessoas", conta.
De acordo com o pai de Luan, Jorge Magalhães da
Silva, a família deverá permanecer mais quatro meses em São José do Rio Preto,
período no qual a rejeição ao rim tem mais probabilidade de ocorrer. Depois,
irá voltar para Imperatriz (2.333 km de São Paulo), no Maranhão, terra natal da
família. "Já estamos aqui há quase dois anos, e graças a Deus o tratamento
foi bem sucedido. Agora, é esperar a recuperação. Depois, vamos voltar a cada
três meses para fazer o acompanhamento", afirmou.
Vida normal.
A saga da família Magalhães começou quando Luan
tinha um ano e cinco meses, ainda em Imperatriz, no Maranhão, quando ele foi
diagnosticado portador da síndrome nefrótica, doença na qual o portador elimina
proteínas necessárias para o crescimento e desenvolvimento pela urina. Por
causa do problema, Luan tem a idade óssea de uma criança de 4 anos e meio,
pouco mais da metade de sua idade.
Os problemas, no entanto, se agravaram depois que
o garoto completou seis anos. Um ano depois, em 2012, ele teve uma crise mais
severa e teve que se submeter a diálise. "O médico da nossa cidade falou
que os dois rins dele tinham parado. Desde então, começamos uma batalha",
lembra o pai.
No princípio, ele e a mulher foram treinados e
faziam, eles mesmos, os procedimentos em casa. Como os problemas de saúde eram
frequentes --nos dois anos seguintes, o menino teve uma série de infecções e
passou por 11 cirurgias para a troca do cateter por onde a diálise era feita
--, a família foi informada que o transplante era a única opção para que ele
pudesse sobreviver e ter uma vida normal.
"Ele teve trombose e passou a fazer
hemodiálise, mas não deu certo. Aí nos mandaram para o Hospital do Rim, em São
Paulo", contou Jorge. O menino piorou e a família chegou a Rio Preto em 28
de junho. "Viemos porque nos disseram que aqui tinha um hospital
especializado nisso. E agora o transplante foi feito e espero que ele fique
totalmente curado", completou.
Desde que chegaram a Rio Preto, Luan e os pais
vivem em um cômodo emprestado por uma enfermeira do Hospital da Criança, que se
sensibilizou com a história do garoto. "A gente não tem recursos. A maior
parte do dinheiro que precisamos para nos manter veio de familiares, amigos, de
pessoas da nossa cidade. Eles fizeram rifa, ajudaram como puderam",
explicou Jorge Magalhães da Silva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário