quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

MÃE MUDA DE IDEIA E DOA RIM PARA QUE FILHO TENHA VIDA NORMAL...

FONTE: Eduardo Schiavoni, do UOL, em Americana (SP) (noticias.uol.com.br).


Portador de uma síndrome que impede seu crescimento e desenvolvimento, o menino Luan Magalhães, 9, passou, na tarde desta quarta-feira (3), pelo transplante de rim que poderá dar a ele uma vida normal. A doadora foi a própria mãe do garoto, que cedeu um de seus dois órgãos para que a operação fosse realizada. Segundo o Hospital da Criança de São José do Rio Preto (440 km de São Paulo), onde o procedimento foi realizado, ambos passam bem.

O transplante foi o primeiro do tipo intervivos realizado na instituição. A cirurgia durou aproximadamente cinco horas e envolveu uma equipe de 20 profissionais da área médica. Após o procedimento, no qual o rim direito foi implantado no corpo do menino, Luan foi encaminhado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital, onde deve permanecer por pelo menos três dias. Já a mãe, Kenia Shirley Marques Magalhães, 34, foi enviada para o quarto.

O nefrologista Rodrigo José Ramalho, que acompanha o menino desde sua internação, afirma que o transplante permitirá que Luan tenha uma vida mais próxima da normalidade. "O risco de ele ter rejeição existe, mas as chances são pequenas, sobretudo porque recebeu o órgão da mãe. Como ainda é criança, o rim vai se adaptar ao organismo", explica o nefrologista. "A mãe também será acompanhada pela equipe da nefrologia, já que estará com um único rim no corpo e não poderá ter qualquer problema renal", completa Ramalho.

Doação de órgãos.

O pai do menino Luan Magalhães diz que tanto ele quanto a mulher eram contra a doação de órgãos anteriormente. "Nós achávamos que a pessoa que doa o órgão poderia sobreviver se ele não fosse retirado, que as pessoas podiam adiantar a morte para ficar com o órgão. Mas mudamos de opinião quando nosso filho precisou", contou Kenia Shirley Magalhães, que chegou a colocar na carteira de habilitação a opção de não doadora. "Eles perguntaram, e eu não quis. Precisou acontecer isso com meu filho para eu mudar minha opinião", disse.

Antes da cirurgia, a mãe também explicou que nunca se imaginou doando um órgão. "Sempre fui conta, nunca imaginei tirando um pedaço de mim e dando para outra pessoa.", afirmou. "Mas agora mudei de opinião e faço até campanha. É uma coisa maravilhosa, que ajuda as pessoas", conta.

De acordo com o pai de Luan, Jorge Magalhães da Silva, a família deverá permanecer mais quatro meses em São José do Rio Preto, período no qual a rejeição ao rim tem mais probabilidade de ocorrer. Depois, irá voltar para Imperatriz (2.333 km de São Paulo), no Maranhão, terra natal da família. "Já estamos aqui há quase dois anos, e graças a Deus o tratamento foi bem sucedido. Agora, é esperar a recuperação. Depois, vamos voltar a cada três meses para fazer o acompanhamento", afirmou.

Vida normal.

A saga da família Magalhães começou quando Luan tinha um ano e cinco meses, ainda em Imperatriz, no Maranhão, quando ele foi diagnosticado portador da síndrome nefrótica, doença na qual o portador elimina proteínas necessárias para o crescimento e desenvolvimento pela urina. Por causa do problema, Luan tem a idade óssea de uma criança de 4 anos e meio, pouco mais da metade de sua idade.

Os problemas, no entanto, se agravaram depois que o garoto completou seis anos. Um ano depois, em 2012, ele teve uma crise mais severa e teve que se submeter a diálise. "O médico da nossa cidade falou que os dois rins dele tinham parado. Desde então, começamos uma batalha", lembra o pai.

No princípio, ele e a mulher foram treinados e faziam, eles mesmos, os procedimentos em casa. Como os problemas de saúde eram frequentes --nos dois anos seguintes, o menino teve uma série de infecções e passou por 11 cirurgias para a troca do cateter por onde a diálise era feita --, a família foi informada que o transplante era a única opção para que ele pudesse sobreviver e ter uma vida normal.

"Ele teve trombose e passou a fazer hemodiálise, mas não deu certo. Aí nos mandaram para o Hospital do Rim, em São Paulo", contou Jorge. O menino piorou e a família chegou a Rio Preto em 28 de junho. "Viemos porque nos disseram que aqui tinha um hospital especializado nisso. E agora o transplante foi feito e espero que ele fique totalmente curado", completou.


Desde que chegaram a Rio Preto, Luan e os pais vivem em um cômodo emprestado por uma enfermeira do Hospital da Criança, que se sensibilizou com a história do garoto. "A gente não tem recursos. A maior parte do dinheiro que precisamos para nos manter veio de familiares, amigos, de pessoas da nossa cidade. Eles fizeram rifa, ajudaram como puderam", explicou Jorge Magalhães da Silva.

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