FONTE: Do UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
Foi durante uma
partida de frisbee com um amigo, em Santa Cruz (EUA), que o engenheiro de
materiais Don McPherson descobriu, sem querer, que uma de suas criações era
capaz de corrigir a percepção de cores de daltônicos, como conta reportagem
publicada no site "Smithsonian.com".
McPherson é
especialista em pesquisa de lentes e, no momento da partida, usava um óculos
que havia desenvolvido para médicos utilizarem em cirurgias a laser. O objeto
permitia aos cirurgiões diferenciar claramente o sangue dos tecidos durante
seus procedimentos, porque as lentes eram capazes de absorver grande quantidade
de luz. Por causa do efeito das lentes na visão e devido ao design atraente que
os óculos possuíam, tanto cirurgiões quanto o próprio McPherson começaram a
usar os óculos fora do ambiente de trabalho, substituindo os óculos de sol.
"As lentes faziam com que todas as cores parecessem incrivelmente
saturadas. Faziam o mundo parecer muito brilhante", diz.
Durante o
tal jogo, em uma tarde do ano de 2005, o amigo de McPherson, que tem
daltonismo, pediu os óculos emprestados, por mera curiosidade. Ao colocá-los no
rosto, espantou-se com o que viu. "Consigo enxergar os cones!",
disse, referindo-se aos cones de trânsito laranjas que estavam na rua.
Pela primeira vez, ele conseguia distinguir as cores do cone das cores da grama
e do concreto ao redor.
O
oftalmologista do Cema Hospital Especializado de São Paulo, Leonardo Marculino,
afirmou que, apesar de não conhecer a tecnologia, ela deve ajudar quem tem
graus leves da doença. "Nos casos mais leves, o paciente ainda consegue
identificar que tal cor é tal cor, pela repetição, mesmo vendo uma cor
diferente. Por isso, se certos filtros forem usados, provavelmente ele
conseguirá ver a cor correta", explicou. Marculino acredita que em níveis
mais graves, a técnica não surtiria efeito. "Nesses casos, os pacientes
enxergam cores diferentes a todo momento. Uma hora ele acha que é vermelho,
outra hora verde, outra marrom. Não há um padrão, então não há como
corrigir", diz.
Diante do
deslumbramento do amigo com os óculos no rosto, a conclusão de McPherson foi
rápida. As mesmas lentes usadas para absorver as cores do raio laser poderiam ser
usadas para outro propósito: corrigir a luz para que daltônicos pudessem
enxergar cores. Eureca!
Após a descoberta,
ele começou a pesquisar o daltonismo, algo sobre o qual sabia muito pouco. O
passo seguinte foi conseguir uma autorização de institutos nacionais de saúde
dos EUA para a realização de testes clínicos. Hoje, McPherson e dois colegas,
Tony Dykes e Andrew Schmeder, possuem uma empresa especializada na fabricação
desses óculos, a EnChroma Labs, que agora produz lentes de policarbonato entre US$
325 a US$ 450 (R$ 936 a R$ 1.746). Os criadores afirmam que estão
constantemente experimentando novas interações.
Como funciona a 'mágica'.
McPherson explica que
todas as pessoas têm três tipos de fotoreceptores nos olhos, também conhecidos
como cones, que são sensíveis ao azul, verde e vermelho. O azul opera de forma
relativamente independente, enquanto os cones vermelhos e verdes podem se
sobrepor, o que afetaria a percepção de certas cores.
Por exemplo, se 10
fótons (partículas de radiação eletromagnética, o que inclui a luz)
sensibilizam o cone vermelho e 100, o cone verde, o objeto visto parece mais
verde. Já no caso de um número igual de fótons alcançar os cones vermelhos e
verdes, a cor percebida seria amarelo. Um problema surge quando a percepção
dos cones de vermelho-verde se sobrepõe em demasia, situação que é verificada
em 99% dos casos de daltonismo. Assim, num cenário de cores próximas, em vez de
amarelo, o indivíduo percebe pouca ou nenhuma cor.
A tecnologia dos
óculos desenvolvidos por McPherson funciona através da colocação de uma banda
de absorção nas lentes que captura a luz, deixando passar apenas o suficiente
para sensibilizar os fotoreceptores e corrigir defeitos na visão. Alguns
usuários em quem os óculos funcionam descrevem a mudança representada pelo uso
das lentes. "É muito estranho ver as coisas de forma diferente, pela
primeira vez em 45 anos. Estou ansioso para ver o meu primeiro arco-íris",
diz Marc Drucker, um dos clientes da marca. Porém, o recurso foi capaz de resolver
o problema na visão de cerca de 80% dos clientes.
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