FONTE: Ana Maria Henriques
“Não há um
contraceptivo para todas as mulheres, mas várias mulheres para vários
contraceptivos”, sublinha presidente da Sociedade Portuguesa da Contracepção.
Casos de embolias pulmonares alegadamente provocadas pela pílula podem resultar
em mais gravidezes não planeadas e mais abortos, defende.
Quando o assunto é a
segurança da pílula contraceptiva, o mais perigoso são as “mulheres em
autogestão”, aquelas que se dirigem às farmácias sem nunca terem passado por
uma supervisão médica. São as utilizadoras que decidem adoptar o contraceptivo
que a amiga ou familiar toma, sem terem qualquer conhecimento sobre a
composição do medicamento, ou as que usam o mesmo há muitos anos sem
acompanhamento regular. “Não há um contraceptivo para todas as mulheres, mas
várias mulheres para vários contraceptivos”, sublinha Teresa Bombas, presidente
da Sociedade Portuguesa da Contracepção (SPDC), em entrevista ao P3.
O caso de Carolina Tendon,
uma jovem de 22 anos que morreu em Fevereiro de 2014 com uma embolia pulmonar,
reacendeu a discussão sobre aquele que é o medicamento mais estudado em todo o
mundo pela comunidade científica. A família de Carolina acredita que a sua morte pode estar relacionada com
o uso da pílula: a jovem tomava, há dois anos, a Yasmin, um contraceptivo oral combinado.
Um ano após a morte, a Unidade de Farmacovigilância do Sul refere, em documento
citado pelo PÚBLICO: “A relação causal entre o medicamento suspeito e a reacção
adversa ao medicamento notificada foi classificada pelo perito clínico como
possível, por se tratar de uma reacção adversa descrita no resumo das
características do medicamento e por ter uma relação temporal bem
estabelecida”.
“Por muito moderna que a
medicina seja, há mortes por causas não identificadas ou na sequência de
medicamentos”, ressalva Teresa Bombas, estabelecendo uma comparação com “os
desportistas, muitos de alta competição, que morreram em campo”. “Eram homens,
não tomavam a pílula e passaram em tudo quanto era vigilância médica.” A médica
garante não possuir suficiente informação sobre o caso da jovem Carolina, mas
acredita que o tom de alerta que se percebe, “sobretudo na comunicação social”,
pode resultar “em complicações psicológicas e médicas”.
É seguro continuar a tomar a
pílula? “Sim, é”, responde Teresa Bombas sem hesitar. “As mulheres que o estão
a fazer sob vigilância médica, obviamente não precisam de suspender”, explica.
“Perigoso é um ‘boom’ de abandono dos contraceptivos e um ‘boom’ de aumento de
interrupção de gravidez”, explica. No final de 1995, um artigo publicado no
jornal médico “Lancet” apontava para um maior risco de tromboembolismo venoso
em mulheres que tomavam pílulas com duas substâncias específicas: gestodeno e
desogestrel. As consequências do impacto na opinião e na saúde públicas do
alerta, também lançado à comunidade médica, fizeram sentir-se “num aumento da
taxa de gravidez não planeada e do recurso à interrupção voluntária da mesma”,
revela a presidente da SPDC.
Estudos realizados no Reino Unido e na Noruega na sequência destas “crises na
comunicação social”, como lhes chama a médica, comprovam a relação directa com
o abandono do contraceptivo. No país escandinavo, a suspensão da pílula
resultou “num aumento da taxa de aborto em 36% nas jovens com menos de 24
anos”, lê-se num comunicado disponível no site da SPDC.
Uma vez que a
contracepção hormonal combinada é “o método mais comum entre as mulheres
portuguesas”, casos como este podem reflectir-se ao nível
da saúde pública. “O número de gravidezes não planeadas é um indicador de uma
boa ou má assistência no âmbito do planeamento familiar”, diz. Para já, meios
como a “Sexualidade em Linha” ou o site “Contraceção.pt” não
verificaram, assegura Teresa, “qualquer aumento de perguntas sobre a segurança
da pílula contraceptiva”. Já nos serviços médicos, “apareceram algumas pessoas
a questionar mas foi algo muito irregular, em várias zonas do país”.
"Ausência de vigilância
aumenta risco".
Além de mitos sobre a utilização e o impacto na fertilidade da mulher, já abordados num outro artigo do P3, a também médica na Maternidade Daniel Matos, em Coimbra, reconhece que as questões relacionadas com a segurança da pílula são recorrentes em consulta. Importante, nesses momentos a sós com o médico, é que as pessoas “sejam sinceras” e tenham presentes “a história pessoal de saúde e familiar”. O propósito? Saber quais os eventuais factores de risco presentes e fazer “o aconselhamento mais adequado possível”.
Além de mitos sobre a utilização e o impacto na fertilidade da mulher, já abordados num outro artigo do P3, a também médica na Maternidade Daniel Matos, em Coimbra, reconhece que as questões relacionadas com a segurança da pílula são recorrentes em consulta. Importante, nesses momentos a sós com o médico, é que as pessoas “sejam sinceras” e tenham presentes “a história pessoal de saúde e familiar”. O propósito? Saber quais os eventuais factores de risco presentes e fazer “o aconselhamento mais adequado possível”.
“Normalmente, as pessoas com
risco de enfarte, por exemplo, são mais velhas. E os casos [divulgados
recentemente] dizem respeito a jovens. Acontece que a população está cada vez
mais obesa, há cada vez mais utilização de cigarros, uma série de factores de
risco que é preciso pensar em eliminar, se se considerar a saúde a longo
prazo”, esclarece. “A pílula é um medicamento perigoso em mulheres com factores
de risco”, diz, daí que o acompanhamento seja essencial. “Há mulheres que
começaram a tomar a pílula há 20 anos, mas entretanto esqueceram-se que nos
últimos dez não foram ao médico e que aumentaram 20 quilos e passaram a fumar
20 cigarros”, exemplifica.
“A pílula é um medicamento
prescrito, precisa dos conhecimentos científicos de um profissional de saúde
para que a pessoa não corra riscos”. Em caso de dúvida, sintetiza Teresa
Bombas, o melhor e a primeira coisa a fazer deve ser falar com o médico — e não
suspender a toma espontaneamente e, muitas vezes, a meio de um ciclo. "A
ausência de vigilância" — adverte — "aumenta o risco".
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