A oncologista
especializada em câncer de mama Rachel A. Freedman, do Instituto do Câncer Dana
Farber, diz ter percebido alguns anos atrás que vários pacientes que lhe foram
encaminhados não sabiam muito sobre a própria doença e seus tratamentos.
Como havia pouca
informação publicada sobre quanta informação os pacientes tinham de seus
cânceres, a doutora Rachel e alguns colegas decidiram fazer um estudo. Eles
fizeram quatro perguntas a 500 mulheres: se sabiam em que estágio estava a
doença e qual seu grau (um indicador da agressividade do tumor) e se o tumor
era alimentado por estrogênio ou por um fator de crescimento chamado HER-2.
"Ninguém
pesquisou isso antes, e é uma série de questões bem simples", afirma ela.
Os pesquisadores
compararam as respostas das mulheres com suas informações médicas. Os
resultados, publicados em janeiro pelo jornal Cancer, mostraram que um pouco
mais da metade das mulheres sabia o estágio da doença e se era alimentada por
estrogênio ou HER-2. Apenas 20 por cento tinham conhecimento sobre o grau.
Negras e hispânicas sabiam menos em geral do que as mulheres brancas.
O estudo não
determinou por que as pacientes tinham tão pouca informação. "É difícil
saber se os médicos não estão falando sobre isso ou se as pacientes não estão
ouvindo", explica Rachel.
Ter esse tipo de
informação é fundamental porque muitos cânceres de mama são curáveis quando as
mulheres continuam o tratamento, avisa ela. Se as pacientes não sabem o quanto
o tratamento é importante, tendem a interrompê-lo, especialmente se os efeitos
colaterais forem complicados.
Mas existe muita
diferença entre ouvir sobre tratamentos que podem salvar sua vida e ouvir que
eles falharam. Quando o câncer está em um nível avançado e o medo da morte
ronda, as pessoas normalmente preferem não conhecer todos os detalhes, afirma
Rachel.
Ainda assim, diz ela,
mesmo entre as pessoas mais doentes, "acho que a maioria dos pacientes
quer saber".
Descobrir que uma
terapia agressiva não vai mais ter efeito permite que alguns pacientes mudem
para tratamentos cuja função é mantê-los confortáveis.
Mas as pessoas que
tiveram má sorte possuem maneiras diferentes de lidar com ela. Um ano atrás,
Stuart Scott, âncora da ESPN que morreu de câncer em janeiro, disse que não
sabia de seus prognósticos. "Nunca pergunto em que estágio estou. Nunca
quis saber. Não vai mudar nada para mim. Tudo o que sei é que causaria mais
preocupações e um grau maior de desespero. Não faz diferença se estou no
estágio 1, 2 ou 8. Estou tentando lutar o melhor que posso", afirmou em
uma entrevista ao New York Times.
As escolas de
Medicina estão cada vez mais tentando treinar os médicos a dar notícias ruins
sem chocar os pacientes. Mas um estudo recente sugere que mesmo a maneira mais
gentil pode não diminuir a dor tanto quanto o esperado.
No Centro Médico de
Câncer MD Anderson, da Universidade do Texas em Houston, pesquisadores
mostraram a 100 pacientes com câncer avançado vídeos de dois médicos
conversando separadamente com uma mulher triste, com um câncer em estágio
final, que lhes perguntou se havia alguma quimioterapia nova que pudesse
ajudá-la.
Os médicos e a
paciente eram atores, e os vídeos foram feitos de modo a garantir que o tom de
voz dos médicos, sua expressão facial, maneira de agir e linguagem corporal
fossem calorosos e idênticos. A única diferença estava na mensagem – uma era
mais otimista do que a outra.
Em um dos vídeos, o
médico disse à paciente que não havia mais nenhuma quimioterapia possível
"neste momento", mas se ela começasse a se sentir um pouco melhor,
"podemos encontrar alguma coisa para você".
No outro vídeo, o
médico disse que não existia nenhuma quimioterapia possível e que "não há
nenhuma chance real de curarmos seu câncer".
Os pesquisadores
então pediram aos pacientes para dizer o quanto de compaixão e de
confiabilidade achavam que cada médico tinha. O que passou a mensagem mais
otimista ganhou mais pontos. A descoberta foi publicada em fevereiro no JAMA
Oncology.
"O que queríamos
testar era: será que a mensagem apenas pode fazer com que o paciente ache que
temos mais ou menos compaixão? Tivemos a sensação de que a ideia de 'atirar no
mensageiro' estava presente", explica o doutor Eduardo Bruera, principal
autor do estudo e presidente de Cuidados Paliativos e Medicina de Reabilitação
do MD Anderson.
Ele disse que os
estudantes de Medicina aprendem que se usarem empatia e a linguagem corporal
certa os pacientes pensarão que têm mais compaixão.
"Pensamos que a
metodologia apropriada poderia nos proteger como um escudo. Infelizmente, o
conteúdo da mensagem tem efeito", afirma Bruera.
Não é surpresa que as
pessoas não gostam de notícias ruins, apesar de a reação não significar que os
pacientes não querem saber a verdade. Oitenta por cento querem, diz ele.
Importa se essa
conversa distanciar o médico do paciente?
Bruera diz que
desconfia que os médicos se sintam tristes e fiquem angustiados quanto precisam
dar notícias ruins, e isso pode estar contribuindo para a grande quantidade de
médicos estressados em sua especialidade.
Mais estudos estão
sendo planejados, diz ele, com a esperança de encontrar meios menos dolorosos
de falar a verdade para médicos e pacientes.
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