domingo, 22 de março de 2015

SE VOCÊ TIVESSE UMA DOENÇA SÉRIA, O QUANTO GOSTARIA DE SABER SOBRE ELA?...

FONTE:, (noticias.uol.com.br).

A oncologista especializada em câncer de mama Rachel A. Freedman, do Instituto do Câncer Dana Farber, diz ter percebido alguns anos atrás que vários pacientes que lhe foram encaminhados não sabiam muito sobre a própria doença e seus tratamentos.

Como havia pouca informação publicada sobre quanta informação os pacientes tinham de seus cânceres, a doutora Rachel e alguns colegas decidiram fazer um estudo. Eles fizeram quatro perguntas a 500 mulheres: se sabiam em que estágio estava a doença e qual seu grau (um indicador da agressividade do tumor) e se o tumor era alimentado por estrogênio ou por um fator de crescimento chamado HER-2.

"Ninguém pesquisou isso antes, e é uma série de questões bem simples", afirma ela.

Os pesquisadores compararam as respostas das mulheres com suas informações médicas. Os resultados, publicados em janeiro pelo jornal Cancer, mostraram que um pouco mais da metade das mulheres sabia o estágio da doença e se era alimentada por estrogênio ou HER-2. Apenas 20 por cento tinham conhecimento sobre o grau. Negras e hispânicas sabiam menos em geral do que as mulheres brancas.

O estudo não determinou por que as pacientes tinham tão pouca informação. "É difícil saber se os médicos não estão falando sobre isso ou se as pacientes não estão ouvindo", explica Rachel.

Ter esse tipo de informação é fundamental porque muitos cânceres de mama são curáveis quando as mulheres continuam o tratamento, avisa ela. Se as pacientes não sabem o quanto o tratamento é importante, tendem a interrompê-lo, especialmente se os efeitos colaterais forem complicados.

Mas existe muita diferença entre ouvir sobre tratamentos que podem salvar sua vida e ouvir que eles falharam. Quando o câncer está em um nível avançado e o medo da morte ronda, as pessoas normalmente preferem não conhecer todos os detalhes, afirma Rachel.

Ainda assim, diz ela, mesmo entre as pessoas mais doentes, "acho que a maioria dos pacientes quer saber".

Descobrir que uma terapia agressiva não vai mais ter efeito permite que alguns pacientes mudem para tratamentos cuja função é mantê-los confortáveis.

Mas as pessoas que tiveram má sorte possuem maneiras diferentes de lidar com ela. Um ano atrás, Stuart Scott, âncora da ESPN que morreu de câncer em janeiro, disse que não sabia de seus prognósticos. "Nunca pergunto em que estágio estou. Nunca quis saber. Não vai mudar nada para mim. Tudo o que sei é que causaria mais preocupações e um grau maior de desespero. Não faz diferença se estou no estágio 1, 2 ou 8. Estou tentando lutar o melhor que posso", afirmou em uma entrevista ao New York Times.

As escolas de Medicina estão cada vez mais tentando treinar os médicos a dar notícias ruins sem chocar os pacientes. Mas um estudo recente sugere que mesmo a maneira mais gentil pode não diminuir a dor tanto quanto o esperado.

No Centro Médico de Câncer MD Anderson, da Universidade do Texas em Houston, pesquisadores mostraram a 100 pacientes com câncer avançado vídeos de dois médicos conversando separadamente com uma mulher triste, com um câncer em estágio final, que lhes perguntou se havia alguma quimioterapia nova que pudesse ajudá-la.

Os médicos e a paciente eram atores, e os vídeos foram feitos de modo a garantir que o tom de voz dos médicos, sua expressão facial, maneira de agir e linguagem corporal fossem calorosos e idênticos. A única diferença estava na mensagem – uma era mais otimista do que a outra.

Em um dos vídeos, o médico disse à paciente que não havia mais nenhuma quimioterapia possível "neste momento", mas se ela começasse a se sentir um pouco melhor, "podemos encontrar alguma coisa para você".

No outro vídeo, o médico disse que não existia nenhuma quimioterapia possível e que "não há nenhuma chance real de curarmos seu câncer".

Os pesquisadores então pediram aos pacientes para dizer o quanto de compaixão e de confiabilidade achavam que cada médico tinha. O que passou a mensagem mais otimista ganhou mais pontos. A descoberta foi publicada em fevereiro no JAMA Oncology.

"O que queríamos testar era: será que a mensagem apenas pode fazer com que o paciente ache que temos mais ou menos compaixão? Tivemos a sensação de que a ideia de 'atirar no mensageiro' estava presente", explica o doutor Eduardo Bruera, principal autor do estudo e presidente de Cuidados Paliativos e Medicina de Reabilitação do MD Anderson.

Ele disse que os estudantes de Medicina aprendem que se usarem empatia e a linguagem corporal certa os pacientes pensarão que têm mais compaixão.

"Pensamos que a metodologia apropriada poderia nos proteger como um escudo. Infelizmente, o conteúdo da mensagem tem efeito", afirma Bruera.

Não é surpresa que as pessoas não gostam de notícias ruins, apesar de a reação não significar que os pacientes não querem saber a verdade. Oitenta por cento querem, diz ele.

Importa se essa conversa distanciar o médico do paciente?

Bruera diz que desconfia que os médicos se sintam tristes e fiquem angustiados quanto precisam dar notícias ruins, e isso pode estar contribuindo para a grande quantidade de médicos estressados em sua especialidade.


Mais estudos estão sendo planejados, diz ele, com a esperança de encontrar meios menos dolorosos de falar a verdade para médicos e pacientes.

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